Relações de Gênero e as Subjetividades em Contextos Culturais 2
SE UM DIA AS MULHERES ENFURECESSEM
Adriana Novais
Em fúria não permitiriam que a televisão pautasse sua beleza.
Em fúria faliriam todas as clínicas de estéticas.
Jamais transariam sem vontade.
Se um dia as mulheres se enfurecessem não aceitariam que o Estado regesse seu corpo.
Em fúria decidiriam se queriam ou não, ter filhos.
Em fúria não usariam roupas desconfortáveis em nome da aparência.
Em fúria usariam apenas a que lhes dessem vontade.
Em fúria não permitiriam que a outra apanhasse.
Em fúria revidariam os tapas na cara, os chutes e os ponta pés.
Em fúria não seria escrava em sua própria casa.
Se um dia as mulheres se enfurecessem, calariam a boca dos padres e dos pastores que pregam o dever da sua submissão.
Em fúria denunciariam todos os abusos cometidos nas igrejas, no trabalho, nas delegacias, nos hospitais e aqueles cometidos dentro das suas casas.
Em fúria, ensinariam as filhas a se defenderem e os filhos a não estuprarem.
Ah! Se um dia as mulheres se enfurecessem, escrachariam todos os companheiros de luta, dos partidos e movimentos, colocariam a nu seu machismo disfarçado no discurso revolucionário.
Em fúria, ocupariam os jornais, as redes de televisão contra a misoginia e o racismo.
Um dia, irmanadas numa grande fúria, todas elas, de todos os lugares, de todas as etnias, esmagariam todas as correntes da sua opressão.
Esmagariam o Estado, a Igreja e a Propriedade
As práticas sexistas podem decidir o que pertence ao mundo masculino e ao feminino, reguladas em estereótipos culturais arraigados desde a idade medieval como um padrão heteronormativo que deve ser seguido pela sociedade, se alguém desviar-se do prescrito será estigmatizado dentro do seu meio. Conforme os relatos de estudiosos nesse e-book, essas práticas são reforçadas na instituição escolar através da diferenciação que alguns docentes fazem do menino e da menina, na formação das filas, dos crachás e até mesmo nas escolhas dos brinquedos. Assim quando as crianças escolhem brinquedos que não são recomendados para o seu gênero conforme o padrão heteronormativo elas são repreendidas na família, na escola e na sociedade
Finco (2003) aponta,
[...] relacionar gênero e infância permite que possamos enxergar as múltiplas formas de ser menino e de ser menina que as categorizações não nos deixam ver. Nesse sentindo, proporcionaremos a esses meninos e meninas a possibilidade de serem eles mesmos e percorrerem novos caminhos vivenciando a infância na sua inteireza sem a interferência de ninguém padronizando um perfil como certo ou errado (FINCO, 2003).
Para Louro (2000), descontruir essa forma de pensar desmistifica esses dois planos homem e mulher, retira-se esse pensamento de como se fossem dois polos diferentes e não pudessem ocorrer as interações entre eles. Essa proposta da desconstrução das dicotomias busca enfatizar estes dois polos não existem, ocorre uma pluralidade e, através dessas dicotomias pode ser um dos primeiros passos para um questionamento das relações de gênero levando ao fim do sexismo. Para a autora, existe uma lógica dualista que rege as polaridades, desmontando não apenas a ideia de que cada um dos polos masculino e feminino está presente um no outro, mas também que as oposições foram e são historicamente construídas. Esse processo de desconstrução não ocorre de maneira simples, mas ao longo prazo através de uma reflexão sobre as formas como as crianças se relacionam diante das diferenças de gênero na infância. É de extrema necessidade desconstruir a lógica binária na apresentação do mundo para as crianças: enquanto brinquedos e brincadeiras assumirem papéis de masculino ou feminino na escola estaremos fadados ao insucesso. Apesar de todas essas situações apresentadas estarem implícitas no dia a dia da escola e nas práticas pedagógicas de alguns docentes, a temática ainda é muito restrita, geradora de medo, desconhecimento e pouco científico. Deve-se sair do senso comum, do conservadorismo, do obscurantismo, sobrepondo-se a vigilância epistêmica, no agir de forma questionadora, enfrentando o que nos causa tanto receio e que nos destina a fortalecer recrudescimento, desfazendo mitos e tabus no sentido de disponibilizar um material de qualidade com temáticas que toquem aqueles que diariamente compõem e constroem o fazer pedagógico para emancipar por meio da educação e das meninas e dos meninos pode ser uma forma de florescer dentro dos muros das escolas.
Uma excelente leitura para todas e todos!
Solange Aparecida de Souza Monteiro
Relações de Gênero e as Subjetividades em Contextos Culturais 2
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DOI: 10.22533/at.ed.511203009
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ISBN: 978-65-5706-451-1
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Palavras-chave: 1. Identidade de gênero. 2. Sexualidade. I.Monteiro, Solange Aparecida de Souza.
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Ano: 2020
- Fabrício Augusto Correia da Silva
- ADENILDE DE SOUZA DANTAS
- Alana Kelly Áfio Caetano
- Ana Paula Oliveira Barros
- Andressa Santos de Almeida
- Bruna Heintze Ferreira
- Bruna Karine Amorim da Costa
- Carla Rezende Gomes
- Carlos Roberto Bezerra Costa
- CAROLINE DO SOCORRO FREITAS MACIEL
- Catarina Laborê Vidal Fernandes
- Cirila Cervera Delgado
- Cleyde Oliveira de Castro
- Débora Cristina Machado Cornélio
- Débora Fernandez Antonon Silvestre
- Emerson Marques Nogueira
- Esteffany Muñiz Paz
- Franciéle Marabotti Costa Leite
- Glauce Margarida da Hora Medeiros
- Helen Batista da Silva
- Ítalo Fabiano Corrêa Silva
- JACQUELINE MARY SOARES DE OLIVEIRA
- Jascira da Silva Lima
- Jeize Loice Back
- JOSÉ VALDINEI ALBUQUERQUE MIRANDA
- Júlia Gonçalves Barreto Baptista
- Karoline Pontes Cavalcante Manguinho
- Larissa Sá Machado
- Letícia Peisino Buleriano
- LETICIA SOUSA
- Maria de Lourdes Esteves Bezerra
- Maria do Rosário de Fátima Andrade Leitão
- Maria Evanilde Barbosa Sobrinho
- MARIA HELENA SANTANA CRUZ
- Maria Lúcia Duarte Pereira
- Marilurdes Cruz Borges
- Mayara Mendes Leal
- Melissa Camilo
- Mireya Martí Reyes
- Monalisa Rodrigues da Cruz
- Monique Delgado de Faria
- Murilena Pinheiro de Almeida Almeida
- Paula da Luz Galrão
- Paula Land Curi
- Paulo Henrique Garcia da Silva
- Pollyane Cunha Ferreira
- Priscila de Vasconcelos Monteiro
- Rachel Cabral Mota
- Rayssa Veras Camelo
- Reinaldo Eduardo da Silva Sales
- Rita de Cássia A. P. Ribeiro
- Rita de Cássia Duarte Lima
- Rita de Cássia Gadelha da Silva
- Rita Maria Silva Almeida
- Rogério Goulart da silva
- Rosyene Conceição Soares Cutrim
- Sirlene Mota Pinheiro da Silva
- SOLANGE APARECIDA DE SOUZA MONTEIRO
- Tercília Júlia Oliveira Rodrigues
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