Argumentação e Linguagem
Ai Palavras! ... Todo o sentido da vida principia à vossa porta; o mel do amor cristaliza seu perfume em vossa rosa; sois o sonho e sois audácia, calúnia, fúria, derrota… A liberdade das almas, ai! com letras se elabora… E dos venenos humanos sois a mais fina retorta: frágil como o vidro e mais que o são poderosa! Reis, impérios, povos, tempos, pelo vosso impulso rodam… Cecília Meireles ...
Porque a verdadeira caverna, aquela que nos proíbe a relação com a realidade, aquela que nos obriga a viver no meio das sombras, é, para mim, a linguagem. Oswald Ducrot. Não há como pensar a argumentação na linguagem sem que se façam referências à retórica clássica, principalmente se o ato de argumentar for entendido como uma forma de gerenciar o discurso, de modo a se obterem resultados efetivos sobre as práticas sociais humanas. É justamente o funcionamento pragmático dos textos/discursos que nos permitem dizer, hoje, que os mesmos se nos apresentam revestidos de caráter ideológico, somente para citar um dos efeitos das ações das práticas linguísticas sobre as sociais. Nesse sentido, presume-se que a instrumentalidade do discurso argumentativo retrata-se nas formas como os argumentos são apresentados nos textos, de modo a criar um sentido de identidade entre falante/escritor e ouvinte/leitor.
As atividades cognitivas da leitura e da compreensão estão inter-relacionadas, ainda que não se tenha como garantia indicativos de entendimento textual, afirmam Löbler e Flôres (2010, p. 181). Flôres e Gabriel (2012) defendem que a leitura pode ser estudada a partir de diferentes perspectivas, sejam elas: com foco no autor, no texto ou no leitor. Abraçase, então, neste trabalho, a pesquisa sobre a leitura e foco no texto de diferentes formas.
Coscarelli (2002, p. 01) afirma que a leitura pode ser vista como um todo sem divisões, uma visão genérica e compactada que dificulta o trabalho do professor em ajudar os alunos em desenvolver o processo de leitura. Segundo a autora: A leitura pode ser dividida em duas grandes partes, uma que lida com a forma linguística e outra que se relaciona com o significado. Essas partes, por sua vez, podem ser ainda subdivididas. O processamento da forma, também tratado como decodificação, será aqui subdividido em processamento lexical e processamento sintático. Faz parte da atividade leitora apresentar sentidos para a informação ali exposta, buscando a reflexão, os questionamentos e os possíveis diálogos entre ela e o leitor. Para tal, essa prática envolve o aspecto de reconhecer o código linguístico, assim como depreender os sentidos que esse código desenvolve a partir das relações semânticas, Löbler e Flôres (2010, p. 188).
O leitor tem a função de decodificar o texto e identificar as pistas que o autor vai deixando ao longo desse texto, além de formular representações mentais sobre as informações contidas ali, Lôbler e Flôres (2010, 192). Ele suscita hipóteses, realiza inferências, ativa o seu conhecimento prévio, tudo isso objetivando compreendê-lo.
Löbler e Flores explicam assim o processo de compreensão: A compreensão da língua escrita é uma atividade complexa e onerosa do ponto de vista cognitivo, pois consiste em relacionar, concomitantemente, o que é lido a conhecimentos preexistentes. Para fazer tal síntese, o cérebro do leitor mobiliza os conhecimentos que já possui, relacionando-os ao processamento em realização, ou seja, fazendo a articulação paralela entre o sabido e o desconhecido, no decorrer da própria leitura.
Nesse processo de diálogo com o texto, o leitor tenta identificar as intenções do autor por este ou aquele vocabulário, as intenções de formalidades ou informalidades, ou ainda, identificar quem está falando naquele texto. Ducrot (1990, p.15) defende que o enunciado é polifônico e que, portanto, existem algumas pessoas envolvidas em sua existência. Dentre elas, declara a existência do locutor, sujeito discursivo responsável discurso, e enunciadores, responsáveis pelos pontos de vista ao longo do discurso.
O enunciado, assim como o discurso, é único e sempre terá um autor, denominado sujeito empírico, Ducrot (1990) Os jornalistas, por exemplo, ao noticiarem ou reportarem determinada informação, fazem-na através das argumentações, que são entendidas por Ducrot como uma sequência de dois segmentos que compõem um discurso relacionados por um conector.
Argumentar é apresentar um ponto de vista. Entretanto, cabe ao leitor, durante a atividade leitora, apreender os diferentes sentidos que vão sendo desenvolvidos ao longo do discurso destes profissionais.
Acredita-se que, ao se analisar as palavras envolvidas nesses discursos jornalísticos, pode-se facilitar a compreensão dos sentidos ali inscritos. Diante disso, apresenta-se, como objetivo geral deste trabalho, a análise do papel que o léxico desempenha (palavras plenas e palavras instrumentais) na construção do sentido dos discursos desdobraram-se em múltiplas linguagens. A construção de sentidos nos diferentes e múltiplos discursos não é realizada da mesma maneira, não segue uma regra que se comportam diferentemente no momento de construção desses sentidos.
Um conjunto de considerações pragmático-discursivas constitui o cerne da história da retórica. O retorno à retórica faz sentir que muitas das preocupações atuais dos estudiosos da linguagem, no que concerne à eficácia da palavra, assentam-se em preceitos advindos dos clássicos e dos teóricos contemporâneos da argumentação.
Avulta das considerações tecidas um aspecto particular caracterizador do dinamismo da linguagem, que é o lugar ocupado pelos sujeitos que lançam mão de argumentos relativos aos seus objetivos comunicativos e objetos de discurso. Nesse sentido, defrontamo-nos com uma subjetividade enunciativa que extrapola os limites de uma consciência empírica do sujeito. Pela enunciação que o constitui, ele mobiliza um ou mais coenunciadores, fazendo-os aderir ou refutar o universo de significações ou sentidos atribuídos histórica e culturalmente aos objetos de predicação. O enunciador é, para mim, o grande tecelão do mundo representado nos eventos comunicativos de que participa. Nesse sentido é que cabe nos estudos da argumentação, ou da construção argumentativa dos textos, aproximar teorias de textos e discursos das teorias sociológicas, assumindo, portanto, um posicionamento multidisciplinar perante a investigação dos fenômenos linguísticos.
Argumentação e Linguagem
-
DOI: 10.22533/at.ed.303191408
-
ISBN: 978-85-7247-530-3
-
Palavras-chave: 1. Língua portuguesa – Composição e exercícios. 2.Linguística.
-
Ano: 2019
- Alba Maria Perfeito
- ALICE SANTOS PIMENTEL NUNES
- Allan Henrique Gomes
- Ana Paula Pinheiro da silveira
- André Guirland Vieira
- Camila de Araújo Beraldo Ludovice
- Cícera Tayana Francelino Fernandes
- Cícero Hériclis Ângelo Pereira
- CLÁUDIA DE FATIMA OLIVEIRA
- Cláudio Schubert
- Cristina Corral Esteve
- Daniel Padilha Pacheco da Costa
- Débora Racy Soares
- Dóris Cristina Gedrat
- francisco heitor pimenta patrício
- Gabriela Lages Veloso
- Gehysa Guimarães Alves
- Hilma Ribeiro de Mendonça Ferreira
- http://lattes.cnpq.br/3016127861677911
- http://lattes.cnpq.br/3751429363889387
- Josilene Marcelino Ferreira
- Letícia Rodrigues da Silva
- Luana de França Perondi Khatchadourian
- Márcia Adriana Dias Kraemer
- Márcio Moreira Costa
- Maria Auxiliadora Bezerra
- Maria de Lourdes Rossi Remenche
- Patrícia Helena da Silva Costa
- Rosa Maria Silva Braga
- Roselaine Vieira Sônego
- Shayra Brunna Silva Marques
- Silvia Adélia Henrique Guimarães
- Silvia Adelia Henrique Guimarães
- SOLANGE APARECIDA DE SOUZA MONTEIRO
- Tayson Ribeiro Teles
- Terezinha de Jesus Dias Pacheco
Artigos
- VARIAÇÃO FONÉTICA NO POVOADO ONÇA DO MARANHÃO: ANÁLISE DOS FENÔMENOS DE REDUÇÃO DO DITONGO “OU” EM “O” E REDUÇÃO DO DITONGO “EI” EM “E”.
- Como Trabalhar a Literatura Sob Regimes Autoritários em Sala de Aula
- A fala de Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição Federal de 1988: uma análise bakhtiniana
- masculinidade na literatura: uma história herdada socialmente
- A ARGUMENTAÇÃO E A RETÓRICA NO SERMÃO DA SEXAGÉSIMA, DE PADRE ANTÔNIO VIEIRA: Uma abordagem para o letramento literário
- IGREJA” E “SENHOR”: A CRÍTICA À RELIGIÃO NAS LETRAS DE MÚSICA DA BANDA TITÃS À LUZ DAS REFLEXÕES BAKHTINIANAS
- MULTILETRAMENTOS NA FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE: APROXIMAÇÕES ENTRE REFLEXÃO E AÇÃO
- MARCAS DOS PAISES IMPERIALISTAS NA CONSTITUIÇÃO E REORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
- PLE + ELO: uma experiência virtual no ensino de Português como Língua Estrangeira na UFLA
- Material didático para o ensino de Inglês: uma proposta por meio da Pedagogia de Multiletramentos
- A INTENCIONALIDADE MARCADA NOS TEXTOS INSTRUCIONAIS: O QUE HÁ DE NOVO NISSO?
- NARRATIVAS COERENTES E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE EM GRUPOS VULNERÁVEIS
- Presença e uso dos marcadores discursivos em estudantes brasileiros de espanhol como língua estrangeira
- Ensinando PLE na UFLA através do AVA - Avançar
- Mobile Assisted Language Learning: questões acerca do uso dos smartphones em sala de aula de Língua Inglesa
- Bem-me-quero, bem-te-quero: Um Projeto de Psicologia Educacional sobre corporeidade e gestão do cuidado
- DESAFIOS EPISTEMOLÓGICOS E METODOLÓGICOS NO ENSINO DE PORTUGUÊS
- ARQUITETURA DA ARTE DE CONTAR: A NATUREZA SOCIOLÓGICA DA ARTE E A COMUNICAÇÃO ESTÉTICA NO CONTO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
- O MÉTODO FÔNICO E A CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO
- Origens e fronteiras do cosmos - o poder da Palavra
- Ficção e memória em Simá: romance histórico do Alto Amazonas, de Lourenço da Silva Araújo
- A LITERATURA SOBRE O SEXO E A SEXUALIDADE NO BRASIL NO PERIODO DA DITADURA MILITAR