Fenomenologia e Cultura: Identidades e Representações Sociais 3
Não conhecemos a realidade senão através de uma vasta cadeia de filtros, aos quais atribuímos diferentes nomenclaturas – imaginário, mundo das ideias, percepções, identidades, representações. De certa forma, essa afirmação é um tipo de clichê recorrente nos estudos da grande área das Humanidades, o que, todavia, não a torna vazia de sentido. As palavras encapsulam compreensões complexas, assim como diversos recursos comunicacionais e formas de arte, que são tentativas humanas de interpretar o que está ao seu redor e responder de uma forma que seja interpretável, o que produz uma imensa coleção de linguagens e arquétipos, todos estes meios, à sua própria forma, representações.
Representações de ideias, de objetos, pessoas, grupos, povos, países, equipes esportivas, cidades, ícones religiosos... É certo que o mundo, os acontecimentos que nele se desenrolam e as pessoas ao nosso redor são entidades só suas, inatingíveis para nós em sua forma mais essencial, e só podemos nos apropriar delas quando criamos palavras (e, portanto, conceitos) que as descrevem ou quando elaboramos enunciados explicativos, sejam eles saudações, discursos políticos, poemas ou selfies. Todos são descrições de algo, imagens de algo, apresentações de algo por alguém, re-apresentações – destarte, representações.
Parece pessimista pensar de tal forma. Que toda tentativa de comunicação é uma “mensagem numa garrafa” enfrentando a violência e a inconstância do mar, sem que aquele que a enviou jamais possa ter certeza de que sua missiva chegará ao destinatário previsto, no momento certo e em perfeitas condições. Palavras, imagens, sons, gestos: todos estes esforços comunicativos são, afinal de contas, tentativas. Há ruídos de interlocução que impedem uma suposta troca perfeita de representações: há mentiras, há ironias, há variações linguísticas.
Todavia, essa margem ampla de significação que é inerente à toda forma de representação guarda sempre uma generosa oportunidade: a de debater e problematizar os conceitos guardados naquilo que é representado. É através dessa dinâmica de desconstrução do que é tido como convencional e estabelecido de maneira pétrea que línguas ou narrativas históricas, por exemplo, podem ser revistas e reelaboradas.
Este e-book reúne uma variedade de textos que tratam de representações, de formas de se ver e se entender a realidade. Algumas dessas representações são arbitrárias e ancoradas apenas em percepções preconceituosas e ignorantes, outras são frutos de longas trajetórias de trocas simbólicas – o que não as torna menos problemáticas ou dignas de questionamentos. Arquitetura, literatura, paisagismo, gestão urbana, percepções de gênero, todos estes campos são capazes de estabelecer discursos, ocasionalmente por gerações, e cabe a pesquisadores de fôlego como os aqui apresentados, seguir interpretando esses fenômenos.
Esperamos que as leituras destes capítulos possam ampliar seus conhecimentos e instigar novas reflexões.
Boa leitura!
Denise Pereira
Maristela Carneiro
Fenomenologia e Cultura: Identidades e Representações Sociais 3
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DOI: 10.22533/at.ed.653211504
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ISBN: 978-65-5706-965-3
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Palavras-chave: 1. Fenomenologia. I. Pereira, Denise (Organizadora). II. Carneiro, Maristela (Organizadora). III. Título.
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Ano: 2021
- Adair Marques Filho
- Adriana Silva
- Alexandre Martins
- Ana Lucia Galinkin
- Andre de Souza Lucca
- André Portela do Amaral
- Geraldo Pieroni
- Guilherme Silva Graciano
- Helena de Oliveira Rosa
- Kelvin Milost Arend
- Layssa Kmiecik
- Lilian Rodrigues de Oliveira Rosa
- Ludmylla Cristina Guilardi
- Magda de Miranda Clímaco
- Maralice Maschio
- Maria Eliza Alves Guerra
- Marianna Gomes Pimentel Cardoso
- Osvaldo Augusto Matavel
- Rafael Belló Klein
- Rosângela Angelin
- Salete da Silva Hoch
- VALERIA DOS SANTOS NASCIMENTO
- Vanessa Brasil Campos Rodríguez
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