Poéticas de um tempo pandêmico: Trajetórias, possibilidades e experiências no ensino de arte
Publicado em 25 de outubro de 2021.
Este livro reúne relatos de experiências dos professores de Arte da Escola em Tempo Integral Professora Ana Lúcia de Oliveira Batista, consiste em um trabalho educativo fecundo e inventivo, trilhado através da arte, no contexto da pandemia mundial, provocada pela COVID–19, o qual se fez necessário medidas restritivas como o isolamento social, o ensino remoto nas escolas.
A Arte na Escola faz parte da área de conhecimento em Ambientes de Aprendizagem Integradores. Contempla as linguagens das Artes Visuais, Música, Teatro e Dança tratadas nas suas especificidades, promovem também profícuos diálogos poéticos interdisciplinares.
Os textos dos professores pesquisadores propositores revelam uma prática pedagógica reflexiva sobre os problemas percebidos no contexto social vivido e a busca por alternativas para driblar a falta do contato presencial com o educando, tão importante no ensino de arte. Neste sentido, os educadores trilharam seus próprios caminhos e reelaboraram suas ações no ensino/aprendizagem da Arte, produzindo material impresso e audiovisual, prezando principalmente pela qualidade dos conhecimentos artísticos e culturais.
Os relatos de experiências em Arte foram muito significativos e encantaram pela sapiência das propostas com base nos princípios da pedagogia questionadora e da mediação cultural. Ao exercerem o papel de professor mediador, efetivaram questões provocadoras e jogos de percepção que possibilitaram a troca nas impressões sensoriais ampliando as interpretações. Segundo Martins e Picosque (2012, p.13) a mediação promove momentos importantes de fruição da arte, através da “socialização de perguntas que as próprias obras nos fazem”.
O papel do professor pesquisador foi fundamental na prática educativa, pois como afirma Freire (1996, p.14) “não há pesquisa sem ensino e ensino sem pesquisa”. As pesquisas dos educadores oportunizaram relações dialógicas entre as poéticas artísticas e fomentaram no educando a busca pelo saber artístico e a vivência das expressões plásticas, corporais e musicais.
A atitude investigativa e a fruição da estética do cotidiano, iniciada de forma intimista, mais próxima das crianças, foram sendo expandidas para o saber arte e cultura regional e universal. O educador propiciou dar visibilidade às identidades culturais do educando, valorizando a interculturalidade de MS, permeadas pelas relações fronteiriças. A qualidade dos encontros sensíveis artísticos e culturais germinou sentimentos e pensamentos, possibilitou o saber ser, estar e conhecer o mundo em tempos de isolamento social!
Nos territórios educativos observamos os campos conceituais da arte: a fruição
artística, a leitura contextualizada das visualidades, dos corpos em movimento e das sonoridades, culminando nos processos de Criação/Produção imaginativa e autoral das crianças. Dewey (2010, p.381) afirma que a qualidade do fazer no campo da estética, é possível acessando a sensibilidade e a paixão. Desta forma, ao produzir ou apreciar arte, a criança lapida sua percepção e imaginação, como observamos nas experiências estéticas relatadas pelos educadores neste livro.
Natália Assis Dias em: “Arte urbana e o ensino remoto: percepções de sensibilidade, reflexão, visualidades e criação” problematiza a função social da arte, como meio de expressão, reflexão e ação sobre a realidade; nas aulas de Arte - artes visuais propôs a fruição da arte urbana, através da viagem estética sensível que se inicia na arte dos muros da escola, ultrapassa a regionalidade e ganha o mundo. Em destaque a obra “Memorial da Fé 4” do artista Eduardo Kobra, cuja arte expressa o respeito à diversidade de crenças e nações, trás a fé, como ponto de religação humana com o Divino. A proposta educativa encanta pela mediação, com questões que ensinam a criança a pensar e de forma sensível e poética expressar-se em texturas, cores e formas artísticas.
Evellyn Carvalho de Almeida, em “De pupa à borboleta: libertação em tempos de isolamento social através da linguagem teatral” imbuída do espírito sensível de Manuel de Barros propôs para as aulas de Arte - teatro o belíssimo encontro das poéticas do teatro, do desenho e da literatura. Evellyn possibilitou um emocionante trabalho de mediação, tocando o sensível com o tema do medo, no cenário da pandemia, através da fruição do livro “O casaco de Pupa” de Elena Ferrándiz. As proposições lúdico-expressivas vividas criativamente através dos elementos teatrais (corporais, personagens, texto, cenário e outras) podem ser percebidas nos diários de bordo.
Douglas Marschner em “O ensino de música em tempos de pandemia”, tocado pelas dificuldades dos encontros presenciais nas aulas de Arte – música elaborou uma proposta sensível e criativa. Propôs para as crianças partirem dos sons do corpo, através da expressão/percussão corporal, motivou a percepção do ambiente sonoro e dos elementos da música (altura, duração, intensidade e timbre). Valorizou e ampliou o universo artístico musical dos educandos, fortalecendo as identidades, através da fruição da música no contexto da cultura regional de MS.
Jimmy Helton da Silva Cardoso, em “A prática de ensino da arte regional no contexto pandêmico da COVID-19” revelou o conhecimento pesquisado, internalizado e apaixonado do educador pela história da arte regional. Nas aulas de Arte - artes visuais motivou as crianças no exercício de ler e reler os monumentos artísticos culturais de Campo Grande, impulsionando a imaginação infantil nos recortes, dobras, cores e formas imaginativas. Resultando na apropriação de novos repertórios gráficos e plásticos, importantes na alfabetização visual das crianças.
Com a alma renovada pela riqueza destas experiências estéticas em arte, fica a certeza de que, neste mundo contraditório, fluído e intercambiante, devemos ser mais
do que seres viventes, precisamos nos tornar sujeitos em ação, reflexivos e críticos da realidade.
Aline Sesti Cerutti
Profa. Adjunta do Curso de Artes Visuais – UFMS
REFERÊNCIAS
DEWEY, J. Arte como experiência. Tradução de Vera Ribeiro. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários para à prática educativa. SP: Paz e Terra, 1996.
MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa. Mediação cultural para professores andarilhos na cultura. 2 Edição. SP: Intermeios, 2012.
Poéticas de um tempo pandêmico: Trajetórias, possibilidades e experiências no ensino de arte
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DOI: 10.22533/at.ed.079212010
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ISBN: 978-65-5983-607-9
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Palavras-chave: 1. Ensino de arte. 2. Experiência em arte. 3. Contexto escolar. I. Santos, Fernando Freitas dos (Organizador). II. Título.
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Ano: 2021
Artigos
- A BUSCA PELA EXPERIÊNCIA NO ENSINO DE ARTE EM TEMPOS DE PANDEMIA E ISOLAMENTO SOCIAL
- ARTE URBANA E O ENSINO REMOTO: PERCEPÇÕES DE SENSIBILIDADE, REFLEXÃO, VISUALIDADES E CRIAÇÃO
- DE PUPA À BORBOLETA: LIBERTAÇÃO EM TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL ATRAVÉS DA LINGUAGEM TEATRAL
- O ENSINO DE MÚSICA EM TEMPOS DE PANDEMIA
- A PRÁTICA DE ENSINO DA ARTE REGIONAL NO CONTEXTO PANDÊMICO DA COVID-19.