Ebook - Perspectivas sobre a Universidade Pública: experiências, diálogos e produção do conhecimentoAtena Editora

E-book

1. Universidades públicas. 2. Ensino público. I. Lima, Caroline de Araújo (Organ...

Livros
capa do ebook Perspectivas sobre a Universidade Pública: experiências, diálogos e produção do conhecimento

Perspectivas sobre a Universidade Pública: experiências, diálogos e produção do conhecimento

Publicado em 30 de março de 2023.

O capital não tem a menor consideração com a saúde e com a
vida do trabalhador, a não ser quando a sociedade o compele a
respeitá-la. À queixa sobre a degradação física e mental, morte
prematura, suplício do trabalho levado até à completa exaustão
responde: por que nos atormentarmos com esses sofrimentos, se
aumentam nossos lucros? (Karl Marx, O Capital).


A obra em questão, “Perspectivas sobre a Universidade Pública:
experiências, diálogos e produção do conhecimento”, aborda grandes aspectos
relacionados à universidade pública, a saber: acesso e permanência; mundo(s)
do trabalho; produção do conhecimento e saberes tradicionais e populares. Um
desafio posto para nós do interior da academia é vermos e, mais ainda, atuarmos
para que haja efetividade destes temas para conviverem de forma integrada.
O filósofo brasileiro Leandro Konder escreveu: “o pensamento que provém
de Marx e que, mal ou bem, atravessou o século XX não tem nenhuma chance
de sobreviver refugiado em universidade ou institutos científicos; e também
não tem nenhuma possibilidade de resistir à autodissolução se renunciar ao
rigor científico”. O autor chamou a atenção para uma base epistemológica em
evidência no espaço acadêmico: o materialismo histórico-dialético.
O princípio fundamental deste campo do conhecimento é integrálo
como concepção de vida e de mundo. Ou seja, não basta conhecer e lidar
com ele no âmbito científico é preciso vivenciá-lo. Portanto, a função social
(primeira) do materialismo histórico-dialético é a pesquisa concreta dos mais
importantes processos e fenômenos vitais; a segunda, uma ação cientificamente
fundamentada sobre o desenvolvimento social; a terceira, a elaboração das bases
científicas do planejamento das relações sociais e a quarta, o desenvolvimento
integral da personalidade humana.1
O raciocínio de Konder se alia ao que o sociólogo sueco Göran Therborn,
na obra “Do marxismo ao pós-marxismo?2, categorizou como “Marxologia e
marxismo científico”. Ele elencou as posições teórico-políticas da esquerda atual
e definiu essa categoria como aquela sem comprometimento político, adotada
por cientistas que utilizam o poder analítico de Marx sem levar em conta seu
legado político.
Isso nos leva a indagar: estamos produzindo conhecimento para quê e para
quem? Ora, é aí que entra as linhas traçadas nesta obra e que nos leva a refletir
sobre a função precípua da universidade pública, qual seja: a indissociabilidade
ensino-pesquisa-extensão. Há ligeiras controvérsias sobre essa relação, em
que a maior incidência de atuação se dá com ações eventistas e inorgânicas e
não com uma base orgânica e processual.3 Na primeira relação prevalece uma
relação pontual e sem compromisso com a comunidade já na segunda envolve o
sentido de permanência da relação acadêmica com possibilidade de intervenção
social.4
Assim vemos no livro produções convergentes com este pensamento,
como é o caso da pesquisa com egressos da Universidade Estadual da Bahia
(UNEB) – campus Eunápolis, que explora o tripé ensino-pesquisa-extensão,
além de primar pela relação horizontal. Também observamos na obra uma crítica
à defesa do empreendedorismo, quando na verdade este campo mais se insere
na órbita da precarização do trabalho do que servir de sinônimo de liberdade e
autonomia para a classe trabalhadora.
Outra vertente forte no livro é sobre o papel da universidade durante a
pandemia da Covid-19. Mesmo com a intensificação de cortes no orçamento
destas instituições, elas não deixaram de atuar nas consequências geradas pela
crise sanitária mundial, como é o caso do exemplo que há no texto das ações
desenvolvidas pelo Departamento de Administração da UNEB na orientação a
pequenos comerciantes e para quem quer abrir um negócio.
A preocupação com a realidade social nos remete ao impacto da crise
de saúde pública mundial nas comunidades tradicionais e povos originários/
indígenas. Estes sofrem duplamente porque em primeiro lugar sofrem violações
em seus direitos fundamentais de acesso a bens públicos e coletivos e agora
são discriminados (as) mais ainda com a incidência da pandemia da Covid-19.
Historicamente essas populações são alvos de racismo, discriminação,
preconceito e xenofobia.
É neste contexto que encontramos na obra a crítica da difusão do
eurocentrismo e do racismo institucionalizado no campo acadêmico, com
destaque para a proposta de inserção do conhecimento de base negra e indígena,
visando uma educação antirracista. Desta forma, um dos textos aponta para a
relação da univesidade com o povo Pataxó do Extremo Sul da Bahia, propondo
a abordagem do conhecimento da história e cultura deste grupo indígena, como
é o caso da língua Patxôhã.
O lugar da universidade e de sua produção do conhecimento é uma tônica
forte nas páginas deste livro. A relação desta com a Educação Básica, a partir do
texto sobre Estágio Supersionado em espaços de educação formal e não formal,
ilustra bem a preocupação com o entrelaçamento de saberes. Nesta vertente
de atuação, está o capítulo que se dedica ao ensino de história da África e da
história da cultura afro-brasileira e a análise da implementação da lei 10639/03.
Ainda nesta dimensão da produção do conhecimento está a relação entre arte
e política em um dos textos. Chama a atenção o foco na arte engajada, mas
também a censura como influência do campo político.
Convidamos você a percorrer as páginas desta obra, que se destaca por
enriquecer a linha editorial do conhecimento emancipador. Desejo uma boa e
produtiva leitura!


Erlando da Silva Rêses
Doutor em Sociologia pela UnB, com pós-doutorado em Educação na Universidade de
Londres (SOAS) sobre Teoria Social e “Método” em Marx. É professor da Faculdade
de Educação (FE), orientador de mestrado e doutorado no Programa de Pós-graduação
em Educação (PPGE) da UnB e líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Materialismo
Histórico-dialético e Educação (Consciência) da FE/UnB

1 Cf. RÊSES, Erlando da Silva. Materialismo Histórico-dialético e Ensino de Sociologia. In: BRUNETTA,
Antonio Alberto; BODART, Cristiano das Neves; CIGALES, Marcelo Pinheiro. Dicionário de Ensino de
Sociologia. Editora Café com Sociologia, 2020. PDF disponível em: cafecomsociologia.com. Acesso em
29 jun 2022.
2 THERBORN, Göran. Do marxismo ao pós-marxismo? Trad. Rodrigo Nobile. São Paulo: Boitempo,
2012.

3 Cf. REIS, Renato Hilário. A Constituição do Ser Humano: amor-poder-saber na Educação/alfabetização
de Jovens e Adultos. Campinas-SP: Autores Associados, 2011
4 Cf. RÊSES, Erlando da Silva (Org.). Universidade e Movimentos Sociais. Belo Horizonte: Fino Traço,
2015. PDF disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/20874. Acesso em 29 jun 2022

Ler mais

Perspectivas sobre a Universidade Pública: experiências, diálogos e produção do conhecimento

  • DOI: 10.22533/at.ed.731233003

  • ISBN: 978-65-258-1273-1

  • Palavras-chave: 1. Universidades públicas. 2. Ensino público. I. Lima, Caroline de Araújo (Organizadora). II. Santos, Joceneide Cunha dos (Organizadora). III. Santos, Mariane Nascimento dos (Organizadora). IV. Título.

  • Ano: 2023

  • Número de páginas: 135

Fale conosco Whatsapp