A necessidade de ensinar literatura na escola e tomá-la como objeto de ensino no contexto da sala de aula encontra mais espaço quando as propostas de aprendizagem são diversificadas, considerando os diferentes níveis de conhecimentos e os interesses dos estudantes nas finalidades de analisar e investigar o texto literário. Muitas são as finalidades de ensino da literatura na escola e a identidade deste livro reafirma que as matrizes da literatura na contemporaneidade encontramse no espaço de efetivação da sala de aula as razões que amplie o processo de formação literária e humanista dos sujeitos. Com o acesso à literatura todos saem ganhando: aprende quem ensina e ensina quem aprende, por isso os dez capítulos que dão formatos a esta obra têm a finalidade de fazer pensar, de demonstrar que na constituição dos múltiplos textos literários há muitas políticas de resistência e de transformação das concepções de mundo dos sujeitos.

No primeiro capítulo a Amazônia brasileira é analisada a partir do texto de natureza literária Cinzas do Norte, de Milton Hatoum, porque a narrativa põe em pauta questões contundentes para o debate como os processos migratórios. No segundo capítulo as representações femininas nos romances alencarianos são analisadas a partir de um olhar sob a ótica da classe patriarcal romântica brasileira nas obras Lucíola e Senhora. No terceiro capítulo as narrativas orais são discutidas com a finalidade de destacar que elas têm muito a nos ensinar, bastante a dizer, além disso, o autor problematiza a necessidade de documentá-las, apresentando duas narrativas da cidade Parauapebas, sudeste do Pará. No quarto capítulo os efeitos da narrativa fantástica têm espaço de discussão e análise a partir do estudo realizado em que o leitor é convidado a inserir-se no processo de interpretação. No quinto capítulo o autor apresenta ao leitor algumas notas sobre a literatura de Andy Warhol. No sexto capítulo pontuam-se certas constantes do imaginário religioso, sua relevância em cada narrativa e também na instauração do questionamento sobre a verdade oculta que rege o universo, na busca do “aprender a viver”, acentuada preocupação do autor mineiro. No sétimo capítulo discute-se uma obra literária sob a perspectiva da teoria dos direitos humanos que tem se ocupado em debater o fenômeno da imigração e, mais recentemente, a crise dos refugiados pelo mundo. No oitavo capítulo analisa-se o romance norte-americano Once in a Promised Land como uma crítica à propagação de estereótipos negativos em relação a árabes e muçulmanos, principalmente, imigrantes dos Estados Unidos no contexto pós Onze de Setembro. No nono capítulo tecem-se algumas considerações a respeito da importância da crítica textual e da divulgação de obras de autores como Machado de Assis e Eça de Queirós como atos de resistência aos ataques conservadores e fascistas que o campo progressista combate também na atualidade. Por fim, no décimo e último capítulo o autor propõe uma análise com focalização na resistência do negro contra o poder do senhorio ainda vigente, mesmo após a abolição da escravatura. Entender as diferentes matrizes da literatura na contemporaneidade pressupõe aceitar o convite de análise de todos os dez capítulos que dão sentidos e formas a esta obra.

Assim sendo, resta-nos desejar aos diversos leitores, interlocutores desta obra, que tenham ótimas reflexões.

Ivan Vale de Sousa