Publicado em 13 de setembro de 2023.

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A produção acadêmica-cientifica muitas vezes fica restrita aos educadores e alunos que a construiu subtraindo os benefícios de sua difusão. Este livro pretende romper com tal postura. Tem como objetivo socializar resultados de diferentes projetos oriundos de grupos de pesquisa da PUC SP cadastrados no CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, e de Iniciação científica relacionada, em princípio às linhas de pesquisa: de gestão e políticas públicas e de processos de ensino aprendizagem. Quer contribuir para tornar pública pesquisas coparticipativas entre alunos e professoras da Faculdade de Educação da PUC/SP e o cotidiano docente envolvido com ensino, pesquisa e extensão.

O título quer reafirmar a abrangência e complexidade das temáticas das pesquisas em educação e o implícito necessário do diálogo rigoroso entre os fundamentos envolventes na problematização do educar.

Os textos têm origem e fonte nos relatórios e resultados de pesquisas de Iniciação Científica sob a orientação de professoras autoras dos projetos e financiadas com bolsas para estudantes e, outros textos, de projetos de pesquisa do grupo de pesquisa originário da professora orientadora. Do conjunto das pesquisas apresentadas os textos estão centrados nas pautas: gestão e política pública, ensino aprendizagem e tecnologias e ensino. O livro está organizado nesta sequência.

Divulgar os trabalhos produzidos e resultantes de parcerias interinstitucionais PUC-SP/CNPq/PIBIC, expõe o diálogo possível entre a nova geração, professores e produção de conhecimento. Formar novas gerações de pesquisadores é compromisso ético-cientifico da academia, assim como promover e estimular o desenvolvimento da investigação científica e tecnológica, desafio contínuo.

O primeiro dos projetos desenvolvido orientado pela Professora Doutora Helena Machado de Paula Albuquerque que levou o nome de Avaliação do percurso formativo e do perfil profissional na perspectiva de egressos do curso de Pedagogia Licenciatura 2010/2018 teve a particiação de Juliana Cristina Barbosa do Amaral, membro do grupo de pesquisa, e de Josefina Maria Celeste Zagari, orientanda e também participante do grupo de pesquisa.

O curso de Pedagogia na sua estrutura, organização e destino da sua formação tem seguidamente sofrido investidas e revisões que vêm desde a sua concepção mais perene como consequente ao pensamento filosófico, seguida de uma revisão “tecnológica” nos anos setenta, discussão essa que ganha pressões que paulatinamente vão se orientando para o entendimento de curso para a formação de professores da educação infantil, ensino fundamental anos iniciais. Finalmente, sua última versão orienta para a forma vigente de licenciatura para a formação de educadores de crianças muito pequenas, professores de educação infantil e anos iniciais. Discussão essa que expôs tanto sua razão epistêmica como sua razão de ordem de inserção social. Essa discussão enraizada em debates na razão do entendimento do discurso pedagógico, seu objeto de estudo, sua linguagem, a modalidade de pesquisa e produção de conhecimento e a insistente classificação entre Pedagogia, ciência aplicada em oposição à ciência pura. A pesquisa revisita os sentidos hegemônicos não necessariamente superados nos significados e invariavelmente implícitos dos debates acadêmicos.

Encontramos na tabela 4 a exigência da relação teoria prática, encontramos: "o curso fornece bases teóricas para as reflexões sobre a prática; muita teoria e pouca prática". Um complexo argumento que sugere no seu sentido primeiro da necessária referência crítica da pesquisa e produção do conhecimento, seguido da nota sobre a insuficiência dos descritores dos fundamentos teóricos para a inspiração sobre a ação, a realização. Dessa demonstração sobressaem as perguntas: Insuficiência da teoria? Há compreensão adequada da ação de realizar a educação?

Desafio esse, valioso e expresso em linguagem espontânea que o resultado da busca da pesquisa nos traz. Abordagem expressiva se agrega e envolvida com a profissão pedagogo é a advertência do foco na formação para “para mais atenção para o trabalho do pedagogo em outras áreas e abordagem na educação especial” (tabela 4). Parece argumento que retoma um posicionamento perene quando à formação do educador, podendo se admitir que reitera um estado de consciência de educador mais aproximado ao discurso pedagógico que valoriza os fundamentos sociológicos, psicológicos, filosóficos, do que propriamente a licenciatura e a formação de professores. Questão essa resolvida nas normas, mas não no estado de consciência dos estudantes.

Essas discussões ampliadas culminam na formação de opiniões sobre a natureza do discurso pedagógico e alimentam a responsabilização do curso de Pedagogia para formação do professor em geral, já que com frequência os formadores de opinião tanto da academia quanto da mídia, reiteram o fracasso da formação docente e qualidade do ensino como resultantes do curso.

As buscas das pesquisas se ampliam ao encontrarmos avaliações do poder de atração do curso: entre 100% e 83% (tabela 4) recomendariam o curso. Observa-se em complemento a empregabilidade dos egressos com uma variação entre 91.1% e 88,9% dos egressos com trabalho com menos de 1 ano depois de formado (tabela 3).

Esses, entre outros aspectos complementares trazidos nos resultados das três pesquisas, oferecem repertório para os interessados em pensar a atualidade da formação inicial em Pedagogia.

A pesquisa seguinte: Ultraliberalismo e a privatização da Educação Básica no Brasil, implicações do Capital Aberto para a Educação Básica no Brasil. Orientadora: Prof.ª Dra. Madalena Guasco Peixoto e orientanda: Natalia de Souza Serra Marsoli, explora e trata das fusões e aquisições de instituições de educação básica por corporações de capital aberto, um fenômeno bastante complexo e em crescente ascensão. Reconhece-se que a busca de sentidos dessa realidade da educação brasileira na atualidade, pela pesquisa, procurou-se apresentar as particularidades e elementos dessa nova realidade, mas no onde o trabalho educativo se constitui oferecendo elementos críticos “como instrumento de conscientização para que nós [a comunidade, os agentes históricos] se mobilizem diante”. Um debate necessário, já que é notória a importância e penetração quantitativa e o valor estratégico da Educação Básica para nosso país na formação da cidadania.

As reflexões do texto trazem consequências. Por exemplo a adoção de linguagem (vocabulário) bastante usual na linguagem comum, enquadrados semanticamente como referenciais atualizados/ renovados, como elementos centrais em substituição a sentidos historicamente atribuídos. Como por exemplo o uso de: novo projeto, flexibilidade, modernidade, tecnologia educacional enquadrada em metodologia ativa sem que se preserve o sentido do resultado do ensino, linguagem essa, substituída por vocabulário com outro sentido cultural em termos de expressão da finalidade e valores da educação. Tema merecidamente revisitado pela pesquisa.

A próxima pesquisa desenvolvida: “Professor operário da educação? Revisitando o lugar social e profissional do professor de primeiras letras.” Orientadora: Profa. Dra. Maria Anita Viviani Martins e Orientandas: Luciana Vieira de Oliveira e Gabriela Angimahtz Romera como o título sugere é uma revisita ao lugar social do professor de primeiras letras.

O texto organiza os achados da busca da evolução da inserção do professor de educação básica, o de primeiras letras, o seu status e retribuição ao seu papel social. O curso da história, traz reiteradamente a problematização que se anuncia no título: retribuição ao seu papel social. Com base em buscas em fontes históricas, quantitativas a narrativa vai comparando a inserção, a expectativa social de desempenho do papel profissional, com outra profissão de salário semelhante, mas com funções, exigências e conteúdos distintos. Os quadros comparativos vão dando materialidade, concretização da função docente, e sob tais referências traz indicadores que requerem mudanças estruturais nas atuais condições de trabalho, na profissionalização do magistério, na reorientação dos rendimentos salariais do professor correlacionando à sua inserção socioeconômica, ao projeto macro econômico de desenvolvimento da economia versus ao grau de função social destinada à profissão, assim como, à atualização dos processos de qualificação profissional inicial ou continuada. Repensar seu lugar e papel é exigência contínua.

Professora Maria Otília José Montessanti Mathias e a aluna Juliana Totti da Silva Moala desenvolveram a pesquisa IC que apresentou como título: "Uso do Scratch no letramento matemático no ensino fundamental anos iniciais". A busca e os resultados têm valiosas contribuições para o ensinar e o aprender.

A investigação realizada pela pesquisa quis responder sobre as contribuições do Scratch para o ensino da matemática no Ensino Fundamental Anos Iniciais de modo a desenvolver o letramento matemático por meio da promoção do raciocínio lógico, da representação, comunicação e argumentação matemática para a resolução de problemas nos diversos contextos fundamentais para a compreensão e atuação no mundo como aspecto que promove o desenvolvimento do raciocínio lógico e crítico.

Apresentam-nos argumentos que justificam e fortalecem a forma de apresentar os conteúdos matemáticos aos estudantes de forma interativa e lúdica que envolvem raciocínio lógico, curiosidade, atenção, concentração e um ambiente interdisciplinar que desperta o interesse para aprender e desenvolver suas habilidades intelectuais.

Didaticamente os conteúdos matemáticos com o uso do software Scratch puderam ser contemplados de modo que possibilitassem o uso de animações, figuras, cenários, personagens, sons e outras ferramentas que o software Scratch oferece.

Complementarmente a pesquisa discute e apresenta alternativas de intervenções docentes demonstrativas de uso desse software e da função das estratégias para possibilitar o que se denomina de aprendizagem significativa em torno de situações-problema que demandam habilidades cognitivas de organização, planejamento, previsão, alternativas de respostas e de execução como por exemplo o jogo “Garage man “.

Mônica Fátima Valenzi Mendes Prof. Orientadora, Meire Rocha Viana e Taciane Nascimento Felix alunas são autoras de pesquisa IC: “A proposta de trabalho com língua portuguesa no material curricular da rede municipal de ensino.” Especificamente explorando o documento denominado “Orientações Curriculares - Proposições de Expectativas de Aprendizagem – Ensino Fundamental I”. A pesquisa apresenta algumas reflexões sobre esse material curricular da RMESP proposto aos professores no período de 2013 – 2016 focalizando o ensino da Língua Portuguesa. Na discussão alguns aspectos são trazidos como: um currículo prescritivo explicitado por meio de material didático e orientações didáticas; expectativas de padrão de aprendizagem, e prescrição de determinado processo de aprendizagem que produz sentidos e advêm o que é relevante para a escola e para o professor segundo o anseio da Secretaria de Educação.

Na meta análise realizada pelas autoras reconhecem-se os limites das normas orientadoras quando a prescrição quanto ao “quê fazer” aprisiona a prática docente quando e finalmente, o professor não tem o poder de modificar de modo decisivo o sistema de ensino, mas é sempre possível mudar as suas práticas, revê-las, replanejar-se, alterá-las e buscar uma formação ativa e investigativa, na qual permaneça ao encontro com o ato que é de sua responsabilidade: socializar os objetos de ensino e fazer as devidas críticas aos aspectos políticos que prescrevem as orientações curriculares.

Fazer escolhas mediante o que é necessário e o que é possível quanto a situação de aprendizagem. De fato, promover o exercício de pensamento crítico.

Helena Machado de Paula Albuquerque

Maria Anita Viviani Martins

Abril 2023