Arquitetura e planejamento urbano para um futuro modelado
Publicado em 12 de novembro de 2024.
À revelia do curso mesmo das coisas e dos fenômenos, de uma liberdade quase absoluta de consequências imprevisíveis, a modelagem do futuro exige planejamento, controle, técnica e rigor, mas também cuidado, empatia, afeto e um certo senso de urgência diante de temas que exigem tal postura. O sociólogo Ulrich Beck fez uma defesa da modernidade em Sociedade de risco , mas uma defesa crítica, quando o pós-moderno estava em evidência. Primeiramente, reconheceu as limitações dos experimentos modernos que precederam a década de 1980, por faltar-lhes um certo humanismo ou um cosmopolitismo, e que se detiveram predominantemente ao aprimoramento da técnica e da tecnologia. Num segundo momento, chamou de outra modernidade, ou segunda modernidade em publicações posteriores, com numa segunda chance ou por sua evidente permanência, mas de outra forma, sua fase autônoma, na qual ela não precisava mais destruir ou diminuir o seu oposto para se impor. A modernidade, para Beck, não precisava mais provar sua relevância, pois ela se instalou na sociedade a partir de sua capacidade de identificar, medir, antecipar e precaver o risco. O risco calculado pela ciência e suas técnicas, em todas as áreas do conhecimento, pode antecipar visões do futuro diante de hipóteses bem fundamentadas, e mediar a nossa capacidade de ação social e individual diante delas. A sociedade do risco, portanto, prometia ser mais humanizada, pois os perigos do porvir poderiam ser minorados ou eliminados.
Passados quase 40 anos da publicação de Sociedade de risco, a hipótese de Beck se mostrou factível, mas não necessariamente aplicada. Os crimes ambientais em Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais, e as enchentes avassaladoras em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, foram previamente avisadas, por exemplo. O colapso ambiental é anunciado em uníssono por cientistas do mundo todo. Mas há uma disputa em curso. Modelar o futuro exige a permanência nesse cenário, tendo em vista o compromisso que a ciência exige daqueles que a produzem e a humanidade exige daqueles que a cultivam. Beck não se enganou. A sociedade de risco, ponderou o sociólogo, poderia não prosperar, ou prosperar parcialmente, em função dos conflitos ideológicos e travados pelo avanço do capitalismo e seus interesses.
Ao fazer a menção acima ao clássico de Beck, também introduzi casos extremos. Mas a premissa da sociedade de risco para casos cotidianos é a mesma. A modernidade invadiu os espaços da vida e se colocou como uma alternativa. Caberá às sociedades e indivíduos seguir os seus desígnios ou não, mas eles saberão, diante de suas técnicas preditivas, dos riscos que estarão à espreita.
Este livro, Arquitetura e planejamento urbano para um futuro modelado, parte dela. Há um certo equilíbrio em seus sete capítulos, que mesclam a análise, as ponderações e a crítica ao avanço das técnicas e das tecnologias, à dimensão do humano e das relações sociais. Seu conjunto apresenta reflexões sobre o patrimônio, o projeto, o ensino, a arquitetura moderna, a prática historiográfica, as arquiteturas locais e sobre a memória coletiva.
Assim sendo, estimo às leitoras e leitores uma excelente apreciação.
Pedro Henrique Máximo Pereira
¹BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Editora 34, 2011.
Arquitetura e planejamento urbano para um futuro modelado
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DOI: https://doi.org/10.22533/at.ed.612241211
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ISBN: 978-65-258-3061-2
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Palavras-chave: 1. Arquitetura. I. Pereira, Pedro Henrique Máximo (Organizador). II. Título.
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Ano: 2024
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Número de páginas: 134
- Alexandre Ribeiro Gonçalves
- Aline Nassaralla Regino
- Bianca Molina Reis
- Carlos Antonio Ramirez Montes
- Carlos Hardt
- Daniel da Silva Andrade
- Deusa Maria Rodrigues Boaventura
- Dinah Tereza Papi de Guimaraens
- Eurípedes Afonso da Silva Neto
- Letícia Peret Antunes Hardt
- Ludmila Rodrigues de Morais
- Maíra Teixeira Pereira
- Marlos Hardt
- Patricia Cecilia Gonsales
- Pedro Henrique Máximo Pereira
- Valéria Romão Morellato Hardt
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