Ebook - Dimensões da infância na história da educaçãoAtena Editora

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capa do ebook Dimensões da infância na história da educação

Dimensões da infância na história da educação

Publicado em 15 de junho de 2021.

Este volume surgiu dos debates decorridos no XVII Encontro Regional de História da ANPUH Paraná, em novembro de 2020, no Simpósio Temático Infâncias, Adolescências e Juventudes: histórias e historiografia. O primeiro evento a acontecer de forma totalmente virtual e, por esse motivo muito aguardado por todos. É certo que ninguém imaginava como se desenvolveria na prática tal evento, mas para surpresa geral, foi um sucesso.

Recebemos o maior número de inscritos em nosso Simpósio Temático desde sua criação em 2014, excedendo o número máximo de inscritos e com vários participantes de outros estados. A quantidade de trabalhos inscritos e apresentados foi significativa, maior que nas versões presenciais. Afinal, o modo a distância tem relevância, quanto a participação destes colegas dos outros estados. Registra-se neste momento em que publicamos essa coletânea, que aguardamos ansiosos a volta da normalidade e dos encontros presenciais, e que essa situação pandêmica possa cessar.

Em todos esses anos tentamos a partir dos trabalhos apresentados nos encontros estaduais reunir um grupo, cada vez maior de pesquisadores, com novos olhares e novas perspectivas para estudar a temática da infância e da juventude. Buscamos estudiosos atentos às novas perspectivas de análise sobre a temática.

Se é verdade que a história só começa quando o historiador faz ao passado, em função de seu próprio presente, perguntas das quais os contemporâneos não poderiam ter a menor ideia, quem nos dirá – desde agora – qual inquietação, se esconde por trás dessa necessidade de acontecimentos, qual nervosismo implica essa tirania, qual acontecimento maior de nossa civilização exprime a colocação desse vasto sistema do acontecimento que constitui a atualidade? (NORA, 1988, p. 192).

Por esse motivo, é possível identificar que os textos reunidos neste volume abordam este aspecto da história, porque a partir da leitura de um autor que descreveu a história da pobreza em alguns países da Europa nos séculos da modernidade, Rafaela Paula pôde identificar os resquícios em seu discurso sobre a filantropia para a infância. Na leitura detalhada de periódicos dos séculos passados Eliane Mimesse e Letícia Marques restituíram as informações sobre as creches na cidade paulistana e as notícias sobre as práticas educativas de Jean Decroly na capital paranaense. Na verdade, o uso dos periódicos como fonte para pesquisa seria banal, mas o olhar das pesquisadoras alterou essa ação porque “tudo começa com o gesto de selecionar, de reunir, de transformar em ‘documentos’ determinados objetos distribuídos de outra forma”, conforme citou Certeau (1988, p.30). O mesmo autor enfatizou ainda que os documentos que serão produzidos a partir da pesquisa poderão acabar alterando seu tempo, seu lugar e suas normas.

Para além dos periódicos as pesquisas fazem uso de outros documentos oficiais, mantidos em acervos governamentais, privados, religiosos, etc. É necessário buscar informações sobre legislações, ofícios, requerimentos, atas, anuários estatísticos, bulas, cartas, estatutos, relatórios, prontuários, entre outros. Mara Francieli recorre a modelos específicos de documentos eclesiásticos para identificar nuances da infância imigrante nas áreas coloniais próximas da capital paranaense; Nicolle Taner busca nos relatórios e prontuários institucionais indícios dos acontecimentos cotidianos que envolveram os meninos órfãos que viviam em uma instituição profissional na cidade de Curitiba e, por esse motivo devemos atentar, ao processo de criação dos documentos.

O documento não é inócuo. É antes de mais nada o resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente, da história, da época, da sociedade que o produziu, mas também das épocas sucessivas durante as quais continuou a viver, talvez esquecido, durante as quais continuou a ser manipulado, ainda que pelo silêncio. O documento é uma coisa que fica, que dura, e o testemunho (...) que ele traz deve ser em primeiro lugar analisado desmistificando-lhe o seu significado aparente. (...) No limite não existe um documento verdade. Todo o documento é mentira. Cabe ao historiador não fazer o papel de ingênuo. (LE GOFF, 1994, p. 547).

O papel do historiador é cruel. É o inquisidor dos documentos que usa como fontes primárias, seus únicos companheiros de sua longa jornada na pesquisa. Mas, existe a possibilidade de usar outros artefatos que contribuam com sua pesquisa e amenizem o trabalho nos arquivos. Uma possibilidade é a aproximação com a história oral, os sujeitos envolvidos podem ser entrevistados, essas entrevistas serão gravadas e depois transcritas.

O rigor do historiador, neste caso, será apenas na elaboração do roteiro para os sujeitos envolvidos, nos momentos de gravação e de transcrição. Certamente, o grupo a ser escolhido para o desenvolvimento com a pesquisa de história oral, também deve ser levado em conta. É exatamente neste contexto que Elaine Cátia trabalha sua pesquisa, com o Centro de Estudos Vênetos do Paraná. A partir das memórias dos adultos, a pesquisadora fez o resgate das ações e práticas desenvolvidas por essas pessoas quando eram crianças.

A memória, como citou Le Goff (1994, p. 423) tem uma propriedade de “conservar certas informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas”.

Com este volume o Simpósio Temático Infâncias, Adolescências e Juventudes: história e historiografia no Paraná demonstra que têm envolvimento ativo de pesquisadores, a pretensão é colaborar com a difusão do conhecimento histórico sobre infância e juventude paranaense e brasileira.

 

REFERÊNCIAS

LE GOFF, Jacques. História e memória. Trad. Suzana F. Borges. 3.ed. Campinas/SP: Editora da UNICAMP, 1994.

NORA, Pierre. O retorno do fato. In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. História: novos problemas. Trad. Theo Santiago. 3.ed. Rio de Janeiro: F. Alves, 1988, p. 179 – 193.

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