O autor fantasma e o orientador estrela: bastidores da autoria acadêmica que ninguém comenta - Atena Editora

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O autor fantasma e o orientador estrela: bastidores da autoria acadêmica que ninguém comenta

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O autor fantasma e o orientador estrela: bastidores da autoria acadêmica que ninguém comenta

O autor fantasma e o orientador estrela: bastidores da autoria acadêmica que ninguém comenta

Na superfície, a autoria acadêmica é uma simples formalidade: quem escreveu, assina. Mas nos bastidores da pesquisa, o que parece óbvio se torna um terreno delicado e, muitas vezes, injusto. A presença de autores fantasmas e orientadores estrela levanta uma questão ética que raramente é discutida abertamente nas universidades e periódicos.

O autor fantasma: quem faz o trabalho, mas desaparece na publicação

Autor fantasma é aquele que participou significativamente da pesquisa, seja escrevendo, analisando dados, revisando, mas não aparece entre os autores do trabalho. Isso acontece por diversos motivos: relações hierárquicas abusivas, medo de retaliação, desconhecimento dos próprios direitos ou, simplesmente, porque “é assim que se faz”.

Estudantes de iniciação científica, mestrandos e doutorandos são os alvos mais frequentes desse apagamento. Participam ativamente da produção intelectual, mas são excluídos da autoria final ou jogados no fim da lista, como um adereço.

O orientador estrela: assinatura garantida, contribuição opcional

Na outra ponta, temos o fenômeno do orientador estrela, aquele que assina tudo o que seus orientandos produzem, independentemente de sua participação real. Em muitos casos, a justificativa é “supervisão acadêmica”, mas nem sempre há envolvimento direto na escrita, na análise ou no desenho metodológico.

É claro que orientadores que orientam de verdade devem ser reconhecidos. Mas há uma linha tênue entre supervisão e coautoria legítima. Quando a assinatura vira protocolo automático, o sistema perde credibilidade e quem realmente trabalhou se sente diminuído.

O que dizem as diretrizes éticas?

Segundo o ICMJE (Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas), para ser autor de um trabalho, a pessoa precisa:

  1. Ter contribuído substancialmente para o conceito ou desenho da pesquisa, ou para aquisição, análise ou interpretação de dados;

  2. Ter participado na redação ou revisão crítica do conteúdo intelectual;

  3. Ter aprovado a versão final;

  4. Ser responsável por garantir a integridade de todo o trabalho.

Assinar sem atender a esses critérios é prática antiética. E deixar de assinar quem participou é, igualmente, injusto e censurável.

E na prática, o que fazer?

Se você é estudante: registre suas contribuições, pergunte sobre a ordem de autoria desde o início e busque apoio se houver omissões injustas.

Se você é orientador: seja transparente, valorize o protagonismo dos seus orientandos e só assine o que de fato acompanhou tecnicamente.

Se você é editor ou avaliador: fique atento à coerência da autoria e incentive que as contribuições sejam descritas com clareza nos metadados ou nos agradecimentos.

Por que falar sobre isso?

Porque o silêncio sobre essas práticas perpetua relações acadêmicas baseadas no medo, no produtivismo e na vaidade. Discutir autoria não é só falar de nomes, é falar de reconhecimento, justiça e respeito pelo trabalho intelectual.

Na Atena Editora, acreditamos que a ciência só é completa quando todos os que a constroem são devidamente reconhecidos. Afinal, quem faz, assina. E quem não assina, não manda.

Escrito por: Antonella Carvalho de Oliveira
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