
Novo Qualis CAPES 2025 - 2028: Justiça na teoria, gargalos na prática
Se você faz parte do universo acadêmico, já ouviu falar no Qualis CAPES, o sistema que avalia e classifica a produção científica dos programas de pós-graduação no Brasil. Ele sempre esteve no centro das discussões sobre o que “vale mais” no currículo acadêmico. E agora, com a chegada do ciclo 2025–2028, a CAPES anuncia uma mudança importante: o foco sai do periódico e vai para o artigo individual.
Essa proposta representa um avanço conceitual. Em vez de avaliar apenas o veículo em que o artigo foi publicado, o Novo Qualis pretende olhar para o conteúdo do trabalho em si, suas citações, impacto, originalidade e contribuição real para a área. A ideia é tornar a avaliação mais justa, diversa e próxima da realidade das diferentes áreas do conhecimento.
Parece promissor, e de fato é. Valoriza-se mais o mérito da pesquisa do que a “marca” da revista onde foi publicada. Ganha espaço a ciência nacional, os periódicos de acesso aberto, os artigos com impacto social e as produções com maior relevância para suas comunidades e campos de atuação.
Mas nem tudo é tão simples.
Apesar das boas intenções, a proposta esbarra em um desafio prático evidente: a própria CAPES não tem braço operacional para analisar individualmente milhares de artigos em todas as áreas, com critérios específicos, subjetivos e profundos. Avaliar pertinência temática, inovação, impacto acadêmico e social artigo por artigo exige uma equipe ampla, capacitada, e critérios bem definidos, algo que, até agora, não foi apresentado com clareza suficiente.
O risco é que a promessa de uma análise mais justa acabe recaindo novamente sobre métricas secundárias, como fator de impacto da revista ou número absoluto de citações, exatamente como no modelo anterior. Ou seja, muda-se o discurso, mas talvez não a prática, pelo menos não na velocidade e profundidade desejadas.
Além disso, há dúvidas sobre como será tratada a subjetividade da análise qualitativa, principalmente em áreas em que o impacto não se mede em citações, mas em transformações sociais, culturais ou pedagógicas.
O Novo Qualis começa a valer em 2025. Até lá, pesquisadores e programas de pós-graduação precisarão se adaptar, mas também acompanhar de perto como essa nova lógica será realmente aplicada na prática.
É um passo importante, porém, como em toda mudança estrutural, é preciso garantir que a intenção não se perca na execução.