Artigo - Atena Editora

Artigo

Baixe agora

Livros

SPIVAK E O CHORO BRASILEIRO: UM DIÁLOGO POSSÍVEL

Grupo co-propulsor da economia da metrópole e da colônia, os negros africanos apresentaram notória participação nos mais diversos setores da sociedade brasileira, notadamente na formação musical do país. Pesquisas históricas apontam que a musicalidade africana no Brasil foi escrita sob um prisma colonialista e elitista, de forma que muitas das expressões artísticas dos negros ficaram à deriva - na maioria das vezes, silenciadas, deslegitimadas e apagadas. Nesse sentido, o presente artigo apropria-se do significado do termo subalterno - sob a ótica do grupo de estudos subalternos da Índia e da América Latina e com o re-dimensionamento de Gayatri Spivak - procurando dialogar, ainda que em linhas gerais, com a história do choro brasileiro, gênero musical resultante de expressões artísticas provenientes de indivíduos subalternizados no período do Brasil Imperial: escravizados, forros e afro-descendentes. A construção desta pesquisa, de natureza essencialmente qualitativa, com base em fontes bibliográficas, procura refletir em que medida a linguagem musical dos negros contribuiu para a emancipação desses ditos “subalternos”, que, aos poucos, foram expressando suas mais preciosas origens, desafiando os discursos hegemônicos com consequentes reflexos na vida contemporânea. Para além do conceito de subalternidade, traça-se um breve panorama da música realizada por escravizados no Brasil, mais especificamente no final do século XIX, momento este em que o choro, gênero musical, se projeta de forma mais expressiva nas camadas populares periféricas do Rio de Janeiro. O grupo de chorões, embora supostamente relegado aos meandros da periferia, conseguiu transformar o "choro" de suas lamentações no "choro" da música brasileira, reafirmando a importância da arte musical como instrumento de emancipação dos sujeitos marginalizados pelo colonialismo e como ferramenta de resistência à classe dominante. Destaca-se, por fim, a relevância da música como fator determinante para que os afrodescendentes protagonizassem o surgimento de um gênero semierudito, caracterizado por improvisações inspiradas e estruturas rítmicas originais.
Ler mais

SPIVAK E O CHORO BRASILEIRO: UM DIÁLOGO POSSÍVEL

  • DOI: https://doi.org/10.22533/at.ed.0531225120214

  • Palavras-chave: Negros; Subalternos; Música; Choro brasileiro

  • Keywords: Blacks; Subalterns; Music; Brazilian Choro

  • Abstract: As a co-driving group of the economy of the metropolis and the colony, black Africans had a notable participation in the most diverse sectors of Brazilian society, notably in the musical formation of the country. Historical research indicates that African musicality in Brazil was written from a colonialist and elitist perspective, so that many of the artistic expressions of blacks were left adrift - most of the time, silenced, delegitimized and erased. In this sense, this article appropriates the meaning of the term subaltern - from the perspective of the group of subaltern studies of India and Latin America and with the re-dimensioning of Gayatri Spivak - seeking to dialogue, albeit in general terms, with the history of Brazilian choro, a musical genre resulting from artistic expressions originating from subalternized individuals in the period of Imperial Brazil: slaves, freed slaves and Afro-descendants. The construction of this research, of an essentially qualitative nature, based on bibliographic sources, seeks to reflect on the extent to which the musical language of black people contributed to the emancipation of these so-called “subalterns”, who, little by little, began to express their most precious origins, challenging hegemonic discourses with consequent repercussions in contemporary life. Beyond the concept of subalternity, a brief overview of the music performed by slaves in Brazil is outlined, more specifically at the end of the 19th century, a time when choro, a musical genre, was projected in a more expressive way among the poor classes on the outskirts of Rio de Janeiro. The group of chorões, although supposedly relegated to the meanders of the outskirts, managed to transform the “choro” of their lamentations into the “choro” of Brazilian music, reaffirming the importance of musical art as an instrument of emancipation of subjects marginalized by colonialism and as a tool of resistance to the dominant class. Finally, we highlight the relevance of music as a determining factor for Afro-descendants to lead the emergence of a semi-erudite genre, characterized by inspired improvisations and original rhythmic structures.

  • Érica de Souza Pontes Braga
  • Giovane do Nascimento
Fale conosco Whatsapp