O planejamento urbano frequentemente negligencia o aspecto humano, priorizando a infraestrutura para veículos em detrimento dos pedestres. Essa abordagem, historicamente consolidada, tem contribuído para o comprometimento de elementos essenciais à qualidade de vida urbana, como a segurança, o convívio comunitário e a vitalidade das cidades. A predominância de sistemas viários projetados para automóveis marginaliza pedestres e ciclistas, reforçando desigualdades e criando ambientes hostis à interação humana. Este estudo aborda a requalificação urbanística no município de Presidente Getúlio, SC, como um exemplo concreto de ressignificação do espaço urbano, considerando aspectos de mobilidade sustentável, inclusão social e planejamento participativo. Diante de desafios como a infraestrutura precária e os danos causados pela enxurrada de 2020, que afetaram profundamente a cidade, a pesquisa propôs intervenções orientadas por uma metodologia inovadora. O trabalho foi estruturado em fases bem definidas, com destaque para o uso de uma metodologia de projeto baseada na geração de inovações disruptivas e em um sistema de decisão quantitativo que permitiu hierarquizar soluções. A análise partiu da identificação de problemas como calçadas inadequadas, ausência de ciclovias, sinalização insuficiente e pavimentos em más condições. A partir disso, foram propostas reconfigurações do sistema viário, considerando novas dimensões e disposições que priorizam pedestres, ciclistas e áreas verdes. O conceito mais adequado foi desenvolvido com base em critérios técnicos e sustentáveis, utilizando ferramentas de modelagem BIM (Building Information Modeling). Essa tecnologia possibilitou não apenas a visualização detalhada do projeto, mas também uma avaliação qualitativa do impacto das intervenções no tráfego local. As simulações indicaram que a reorganização espacial das vias, apesar de promover mudanças significativas no uso do espaço público, manteve a funcionalidade viária e garantiu a fluidez do trânsito.Este trabalho oferece contribuições relevantes ao campo da engenharia urbana, propondo soluções que conciliam baixo impacto ambiental e alto potencial replicável. As intervenções estão alinhadas às diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, priorizando o transporte não motorizado, a inclusão e a sustentabilidade. A experiência de Presidente Getúlio ressalta o papel transformador de intervenções urbanísticas bem planejadas, que resgatam a função social do espaço público e promovem cidades mais seguras, acessíveis e voltadas para as pessoas. Assim, o estudo reafirma a importância de um planejamento urbano que priorize o fator humano, promovendo o equilíbrio entre desenvolvimento e qualidade de vida.