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O não pertencimento nos ensaios de Herta Müller: exílio, linguagem e escrita da história em questão

 Este artigo discute como a escritora romena Herta Müller aborda a temática do exílio em ensaios contidos nos livros O rei se inclina e mata e Sempre a mesma neve e sempre o mesmo tio e aponta algumas possibilidades de aproximação com o universo historiográfico a partir das considerações elaboradas pela autora em seus textos. Em ambas as obras, Müller discorre como o processo de mudança de pátria, ocorrido em 1987, foi marcado por uma contínua sensação de não pertencimento, dado que muitas das situações ocorridas na Romênia, país natal da autora que vivia sob a égide da ditadura de Nicolau Ceausescu, se repetiram com a chegada na Alemanha Ocidental. Também aponto as diferentes formas pelas quais os mal-entendidos continuaram a permear o cotidiano da escritora após a instalação na Alemanha. Além disso, Müller discute nos ensaios selecionados a importância de um uso cuidadoso da linguagem para tratar de temas delicados do passado. Para ela, a linguagem não é um terreno apolítico, sendo seu uso capaz de interferir na percepção da sociedade em que nos encontramos inseridos.Buscando aproximar as considerações da autora da produção historiográfica, aponto que as inquietações de Müller se coadunam às existentes na escrita de nossos trabalhos na academia. Destaco dois pontos: a importância de sermos cuidadosos com a linguagem empregada em nossas pesquisas, já que temos em nossa escrita uma ferramenta para elaborar críticas a práticas autoritárias ocorridas ao longo do tempo, e a relevância de não simplificarmos em conceitos totalizantes e estanques a existência de sujeitos que, como Müller, são marcados pela multiplicidade e fragmentação.

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O não pertencimento nos ensaios de Herta Müller: exílio, linguagem e escrita da história em questão

  • DOI: 10.22533/at.ed.4092204116

  • Palavras-chave: exílio, linguagem, escrita da história

  • Keywords: exile, language, history writing

  • Abstract:

    This article discusses how the romanian writer Herta Müller discusses the theme of exile in essays contained in the books The king bows and kills and Always the same snow and always the same uncle and points out some possibilities of approximation with the historiographical universe. In both works, Müller discusses how the process of moving to another country, which took place in 1987, was marked by a continuous feeling of not belonging, given that many of the situations that occurred in Romania also took place upon arrival in West Germany. She also points out the different ways in which misunderstandings continued to permeate her daily life after settling in Germany. In addition, Müller points out the importance of a careful use of language to address sensitive issues of the past. For her, language is not an apolitical terrain, with its use being capable of interfering with the perception of the society in which we live.Seeking to bring the author's considerations closer to historiographical production, I point out that Müller's concerns are in line with those existing in the writing of history. I highlight two points: the importance of being careful with the language used in our research, since we have in our writing a tool to elaborate criticisms of authoritarian practices that have taken place over time, and the relevance of not simplifying the existence of subjects marked by multiplicity and fragmentation in totalizing concepts.

  • Manuel Batista de Sá Filho
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