O amor é um banquete no qual me alimento: aberturas possíveis para a prosa portuguesa contemporânea no romance A gorda, de Isabela Figueiredo
Neste breve artigo, trataremos do romance A gorda (2016), de Isabela Figueiredo, investigando o seu modo de inserção no hipercontemporâneo – conceito esse de Ana Paula Arnaut (2016) –, em sua procura por novas epistemologias que não apenas problematizem a existência portuguesa hoje, mas possa conferir uma real visibilidade à noção iconoclasta de resistência por vezes propagada pela literatura. A desfiguração, nesse sentido, dá-se a partir da vigência secular de um povo que, ao sair pelo mundo consagrando uma dispersa presença de acordo com Eduardo Lourenço (1999), estabeleceu, como uma de suas principais e existenciais características, a estagnação. A partir desse contrassenso, o fato é que ainda hoje em Portugal, no escopo deste mundo, reajustado sob o viés de crises das mais diversas, adensar-se-ia uma espécie de continuidade dessas problematizações, como por exemplo, a relativização (ou não) do neocolonialismo, a renitente questão dos retornados, a religiosidade excessivamente castradora, a sexualidade sempre obliterada (vozes femininas silenciadas), etc. Tudo isso influenciaria por demais numa imprescindível alteração do público leitor, gerada a partir do modo como os chamados novíssimos escritores revisariam esse viés autocentrado de seu país, posicionando-se avidamente pela escrita, num desejo de se lançarem para além de tais mazelas, e esgarçando o próprio umbigo eurocêntrico, propensos que estão ao encontro com uma bagagem cultural desvinculada de qualquer herança isolacionista (de dentro ou de fora) redutora e paralisante, conforme anuncia Boaventura de Sousa Santos (2019).
O amor é um banquete no qual me alimento: aberturas possíveis para a prosa portuguesa contemporânea no romance A gorda, de Isabela Figueiredo
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DOI: 10.22533/at.ed.7312310013
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Palavras-chave: Literatura portuguesa; romance português contemporâneo; geração dos novíssimos; decolonialismo; Isabela Figueiredo
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Keywords: Portuguese Literature; contemporary Portuguese novel; generation of the brand new; decolonialism; Isabela Figueiredo
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Abstract:
In this brief article, we will deal with the novel A gorda (2016), by Isabela Figueiredo, investigating its mode of insertion in the hypercontemporary – a concept by Ana Paula Arnaut (2016) –, in her search for new epistemologies that not only problematize Portuguese existence. today, but can give real visibility to the iconoclastic notion of resistance sometimes propagated by literature. The disfigurement, in this sense, takes place from the secular validity of a people that, when going around the world consecrating a dispersed presence according to Eduardo Lourenço (1999), established, as one of its main and existential characteristics, stagnation. From this nonsense, the fact is that even today in Portugal, within the scope of this world, readjusted under the bias of the most diverse crises, a kind of continuity of these problematizations would become more dense, such as, for example, the relativization (or not ) of neocolonialism, the persistent question of returnees, excessively castrating religiosity, sexuality always obliterated (female voices silenced), etc. All of this would greatly influence an essential change in the reading public, generated from the way in which the so-called brand new writers would review this self-centered bias of their country, eagerly positioning themselves for writing, in a desire to launch themselves beyond such ills, and fraying their own Eurocentric bellybutton, who are likely to encounter a cultural baggage unrelated to any isolationist heritage (from within or from outside), which is reductive and paralyzing, as announced by Boaventura de Sousa Santos (2019).
- ANDRE CARNEIRO RAMOS