O presente estudo objetiva analisar a experiência da gravidez na adolescência em um contexto de vulnerabilidade social, através da produção de um documentário brasileiro “Meninas”, dirigido por Sandra Werneck e publicizado no Brasil em 2005. A pesquisa discute as questões edípicas e suas implicações na adolescência em situação de vulnerabilidade social. O tema gravidez na adolescência constitui uma problemática de interesse para as áreas disciplinares como as psicologias, psicanálise, educação, medicina, bem como para elaboração e incremento de políticas públicas, contribuindo para um aprofundamento acerca da adolescência, em casos de gravidez precoce, utilizando-se da psicanálise como campo teórico prevalente. O objetivo norteador foi analisar as implicações do Complexo de Édipo a partir da narrativa de adolescentes grávidas em contexto de vulnerabilidade social. Como referenciais teóricos, foram utilizados documentos governamentais no âmbito das políticas públicas e vulnerabilidade social, como também, escritos de Freud e psicanalistas que se debruçaram sobre a construção do sujeito adolescente e da sua sexualidade como Rassial, dentre outros. A metodologia consiste em pesquisa bibliográfica nos bancos de dados digitais (Scielo, BVSpsi, Ebscohost), livros, teses e dissertações, a partir dos indexadores: adolescência, gravidez na adolescência, vulnerabilidade social e psicanálise, sendo priorizada produções dos últimos dez anos. Também foi utilizado, como fonte de dados, o documentário “Meninas”, de Sandra Werneck, já que se considera que a arte e sua potência criativa favorecem a apreensão de sentidos de modo não linear e reducionista. As falas das quatro adolescentes foram privilegiadas a partir de uma “escuta” guiada pela ética do singular. Conclui-se que as condições socioculturais dos contextos de vulnerabilidade social devem ser apreendidas não a partir da comparação com as de contexto privilegiados, mas com suas peculiaridades e riquezas, polissemia que se encontra nas falas das meninas no referido documentário. Nelas a gravidez e o “ter filhos” parece ter a função de um projeto de vida, de sustentação identificatória à mãe, à avó e mulheres, constituindo em uma via de acesso à feminilidade e a um lugar social privilegiado: mãe. Tais considerações dizem respeito às configurações edípicas, como trata a psicanálise. Considera-se que as políticas públicas e seus programas podem não só focar na situação de vulnerabilidade social, mas também iluminar as vicissitudes subjetivas da adolescência e da gravidez precoce, inclusive discutindo a complexa questão da maternidade e como esta é significada pelas as narrativas governamentais.