Manual de abordagem da sobrecarga hepática dismetabólica de ferro em pacientes com obesidade
A sobrecarga dismetabólica de ferro (SDF) é definida como acúmulo tecidual de ferro e pode ser consequência de uma série de condições clínicas, sobretudo doenças hematológicas e hepáticas, além de obesidade. Em estudo recente, observou-se prevalência de 17% em uma população de indivíduos com obesidade submetidos à cirurgia bariátrica. A fisiopatologia da SDF não está bem estabelecida, porém sabe-se que compreende a participação de diversos mediadores da complexa rede de regulação endógena do ferro, como a transferrina e hepcidina, que tem seu funcionamento básico alterado por estados inflamatórios crônicos que acabam por favorecer o acúmulo tecidual de ferro (principalmente em fígado e coração). O diagnóstico depende de três critérios: taxa de saturação de transferrina normal ou pouco elevada (abaixo de 60%; assim, pode-se descartar hemocromatose hereditária sem estudo genético), anormalidades metabólicas (hipertensão arterial sistêmica, diabetes tipo II ou intolerância à glicose, obesidade e/ou dislipidemias) e sobrecarga hepática de ferro que não exceda 150 µmol/g na ressonância magnética ou biópsia. Atualmente, consideram-se controle dietético, atividade física e perda de peso como terapias estabelecidas para a SDF. A cirurgia bariátrica não é considerada terapia padrão para a sobrecarga de ferro em nenhum contexto atualmente. A maior parte das evidências disponíveis é composta de estudos individuais realizados em pacientes obesos sem diagnóstico confirmado de SDF, que apresentaram melhora dos achados laboratoriais relacionados ao ferro após a realização de cirurgia bariátrica. Todavia, estudo recente demonstrou que ocorre redução na frequência de SDF após o bypass gástrico em Y de Roux, em correlação direta com a redução dos níveis sanguíneos de ferritina. Assim, este procedimento pode se apresentar como opção terapêutica para pacientes com este perfil.
Manual de abordagem da sobrecarga hepática dismetabólica de ferro em pacientes com obesidade
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DOI: 10.22533/at.ed.0672208074
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Palavras-chave: Sobrecarga de Ferro; Obesidade; Cirurgia Bariátrica; Hiperferritinemia; Derivação Gástrica.
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Keywords: Iron Overload; Obesity; Bariatric Surgery; Hyperferritinemia; Gastric Bypass.
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Abstract:
Dysmetabolic iron overload (DIO) is defined as tissue accumulation of iron and can be a consequence of a series of clinical conditions, especially hematological and liver diseases, in addition to obesity. In a recent study, a prevalence of 17% was observed in a population of obese individuals undergoing bariatric surgery. The pathophysiology of DIO is not well established, but it is known that it comprises the participation of several mediators of the complex network of endogenous iron regulation, such as transferrin and hepcidin, whose basic functioning is altered by chronic inflammatory states that end up favoring the tissue accumulation of iron (mainly in liver and heart). Diagnosis depends on three criteria: normal or mildly elevated transferrin saturation rate (below 60%; thus, hereditary hemochromatosis can be ruled out without genetic study), metabolic abnormalities (hypertension, type II diabetes, or glucose intolerance, obesity and/or dyslipidemias) and hepatic iron overload not exceeding 150 µmol/g on magnetic resonance imaging or biopsy. Currently, dietary control, physical activity, and weight loss are considered established therapies for DIO. Bariatric surgery is not considered standard therapy for iron overload in any setting nowadays. Most of the available evidence is comprised of individual studies performed in obese patients without a confirmed diagnosis of DIO, who showed improvement in iron-related laboratory findings after bariatric surgery. However, a recent study showed that there is a reduction in the frequency of DIO after Roux-en-Y gastric bypass, in direct correlation with the reduction in blood levels of ferritin. Hence, this procedure can be presented as a therapeutic option for patients with these characteristics.
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Número de páginas: 8
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