Publicações impressas de caráter periódico para lésbicas no Brasil – o que poderíamos chamar de “imprensa lésbica brasileira” – ainda são pouco discutidas em trabalhos acadêmicos, e mesmo seus títulos são pouco conhecidos. Este trabalho parte de algumas premissas discutidas em minha dissertação de mestrado, em que abordo o papel da circulação de periódicos deste tipo para a constituição de redes entre ativistas lésbicas, tanto no Brasil como no exterior, fornecendo um espaço para a construção de escritas de si (Foucault, 1992) e oportunizando a criação de novos vínculos e relações. Como num prolongamento deste trabalho anterior, discuto aqui as características da revista Femme, produzida entre 1993 e 1996 pelo Afins – Grupo de Conscientização e Emancipação Lésbica de Santos, no litoral paulista, e contando com a participação (e leitura) de mulheres de diversos lugares do Brasil. A partir de análise documental e entrevistas com algumas de suas realizadoras, discuto a emergência deste tipo de publicação e a importância conferida aos espaços de anúncios pessoais para correspondência, em um contexto descrito como de forte repressão à homossexualidade e em que o acesso a informações sobre esta era bastante restrito. A revista Femme aparece, então, como um nó em uma rede de grupos ativistas, criando novas redes e fazendo ressoar diferentes vozes – uma publicação polifônica composta de notícias, cartas, contos e poesias.