ENTEROCOCCUS SP. ISOLADOS DE AMOSTRAS DE ÁGUA DO RIO JOANA LOCALIZADO NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO
As doenças infecciosas têm como
tratamento a utilização de antimicrobianos,
sendo o seu uso adequado uma das principais
preocupações mundiais. Eles estão entre os
fármacos mais prescritos, porém, mais de 50%
das vezes são indicados sem necessidade.
Atualmente, o uso indiscriminado dos
antimicrobianos vem sendo considerado o
terceiro maior problema de saúde pública,
favorecendo o desenvolvimento de mecanismos
de resistência e de disseminação de diversas
espécies bacterianas comensais e patogênicas
para humanos e animais. Os antimicrobianos
são substâncias químicas produzidas por
microrganismos ou de forma sintética, capazes
de inibir o crescimento ou destruir as bactérias,
baseando-se nos mecanismos de ação das
células bacterianas e em sua estrutura química.
Desde o início da utilização de antimicrobianos
se tem conhecimento da possibilidade dos
microrganismos desenvolverem mecanismos
de resistência às drogas antimicrobianas. O
uso prolongado dessas drogas pode,
gradualmente, gerar uma pressão seletiva,
atuando como crivo para supostas vantagens
microbianas que favorecem a persistência e a
circulação nos ambientes. O aparecimento da
resistência foi, é, e provavelmente continuará a
ser, um dos grandes problemas tanto no
ambiente nosocomial quanto comunitário, já
que é causada pela mutação espontânea e
recombinação de genes, que criam variabilidade
genética.Nos ecossistemas terrestres e
aquáticos os microrganismos aparecem como células livres (estado planctônico) ou
sob a forma de biofilmes ligados a suportes sólidos. Biofilmes são comunidades
bacterianas heterogêneas existentes dentro de uma matriz composta por DNA
bacteriano, proteínas e polissacarídeos e sua composição depende, muitas vezes, de
fatores ambientais, como a disponibilidade de nutrientes e estresse. A capacidade de
formação de biofilmes sobre superfícies diversas (bióticas e abióticas) têm sido
considerada como um relevante fator de virulência que contribui para a resistência de
microrganismos a diversos antimicrobianos e desinfetantes. Nos isolados ambientais,
a formação de biofilme atua auxiliando na capacidade de persistência bacteriana em
ambientes com alta salinidade, pH variável, temperatura, fontes de carbono e fluxo de
fluidos. Os ambientes aquáticos estão entre as principais fontes de troca de material
genético e de disseminação de patógenos resistentes aos antimicrobianos em
ecossistemas naturais. O rápido crescimento de cidades, aliado a condições
inadequadas de saneamento básico, incluindo o despejo de esgoto e águas residuais
hospitalares, contribuem para a contaminação de rios e lagos e disseminação de
doenças de veiculação hídrica. No Brasil, ainda permanecem necessários os estudos
sobre a diversidade das espécies bacterianas encontradas como contaminantes de
ambientes aquáticos, inclusive na região metropolitana do Rio de Janeiro onde os
mananciais originais estão cada vez mais poluídos e exauridos, afetando a qualidade
da água de abastecimento público.Os Enterococcus são considerados importantes
agentes patogênicos oportunistas e são conhecidos por causar infecções nosocomiais
e comunitárias significativas. São distribuídos para o meio ambiente através de esgoto
ou através de resíduos animais e representam um risco potencial para a saúde, devido
à sua capacidade de adquirir genes de resistência os antimicrobianos de outros
organismos no ambiente. A entrada de efluentes hospitalares pode ter um impacto
ecológico no meio aquático. Enterococcusfaecalis e Enterococcusfaecium tornaramse
agentes etiológicos particularmente importantes de infecções nosocomiais,
enquanto Enterococcushirae é conhecido por causar infecções em animais, mas
raramente é isolado de amostras clínicas.Deste modo, o trabalho apresenta como
objetivo, o isolamento e identificação de espécies de Enterococcus de água coletada
do rio Joana, próxima a uma unidade hospitalar, além da caracterização de perfis de
resistência aos antimicrobianos e capacidade de formação de biofilme em diferentes
tipos de superfícies abióticas.Foram realizadas duas coletas no ano de 2017, onde
foram obtidos 500 ml de água em cada uma e essas amostras foram provenientes do
rio Joana, pertencente a região metropolitana do Rio de Janeiro. As coletas foram
realizadas com frascos e tubos estéreis e transportadas até o Departamento de
Microbiologia e Imunologia, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em um
intervalo de 1 hora entre a coleta e a chegada ao laboratório, para a realização de
análises microbiológicas.As cepas foram semeadas por esgotamento em placas
deÁgar sangue e incubadas a 37ºC por 24h. As cepas foram identificadas utilizando a
Espectrometria de Massa - MALDI-TOF e estocadas em CG medium base, acrescido
de 20% de glicerol, a -20ºC, para as análises posteriores.Os Enterococcus isolados
foram avaliados quanto à sua resistência aos antimicrobianos: Penicilina G, Ampicilina,
Imipenem, Eritromicina, Cloranfenicol, Amicacina, Ciprofloxacina, Tetraciclina,
Rifampicina, Linezolida e Vancomicina. Os testes foram feitos através do método de
disco difusão conforme preconizado pelo CLSI. As amostras que apresentaram perfil
de resistência para três ou mais classes diferentes de antimicrobianos foram
consideradas multirresistentes. Para a avaliação qualitativa do biofilme em vidro, as
amostras foram semeadas em TSB e uma padronização de 1:100 foi realizada após
24hrs. Após 48hrs o meio foi retirado e uma nova partida foi acrescentada. Este
procedimento foi repetido mais duas vezes (a cada 48hrs). Por fim, as amostras foram
classificadas com base nos seguintes padrões: I - bactérias aderidas nas laterais o
tubo de vidro e na interface entre o meio de cultura e o ar; II - bactérias aderidas nas
laterais do tubo de vidro; III – bactérias formando um anel na interface entre o meio de
cultura e o ar; e IV - ausência de bactérias aderidas. Para a avaliação semiquantitativa
do biofilme em microplaca de poliestireno, 200 ml de suspensão bacteriana foi
adicionado em placas de 96 poços e incubado por 24 horas a 37ºC. Os poços foram
lavados três vezes com PBS e foi adicionado 200 mL de metanol por 15 minutos. Em
seguida o metanol foi retirado e, após secagem em temperatura ambiente, 2% de
cristal violeta foi adicionado durante 5 minutos e a placa foi lavada com água destilada.
Foi adicionado 200 mL de ácido acético aos poços de diluição para a realização da
leitura. A absorbância (DO) de cada poço foi aferida utilizando-se espectrofotômetro
apropriado, em comprimento de onda de 570nm. As amostras foram classificadas em
quatro categorias com base na DO: não aderente - DO obtida menor ou igual a DO do
controle negativo (DOc); fracamente aderente – DOc< DO ≤ (2×) DOc; moderadamente
(2×) DOc< DO ≤ (4×) DOc e fortemente aderente – DO > (4×)DOc.A partir das duas
datas distintas das coletas de amostras de água, foram isoladas oito cepas pertencentes
ao gênero Enterococcus, sendo que as espécies identificadas foram: E. faecalis (50%,
n=4), E. faecium (25%, n=2) e E. hirae (25%, n=2). Todas as cepas isoladas (n=8)
apresentaram resistência a pelo menos um dos seguintes antimicrobianos testados:
penicilina G (50%, n=4), ampicilina (37,5%, n=3), imipenem (37,5%, n=3), eritromicina
(75%, n=6), cloranfenicol (25%, n=2), ciprofloxacina (62,5%, n=5), tetraciclina (100%,
n=8), rifampicina (62,5%, n=5), linezolida (25%, n=2). Nenhuma amostra foi resistente
à vancomicina. Foram consideradas 87,5% (n=7) das amostras.Para a avaliação
qualitativa do biofilme em vidro, apenas uma amostra (12,5%) foi classificada como
perfil II (bactérias aderidas nas laterais do tubo de vidro). Todas as outras amostras
(87,5%, n=7), foram classificadas como perfil I (bactérias aderidas nas laterais do tudo
de vidro e na interface entre o meio de cultura e o ar).Para a avaliação semiquantitativa
do biofilme em microplaca de poliestireno, quatro amostras (50%) foram classificadas
como fortemente aderentes e quatro amostras (50%) foram classificadas como
moderadamente aderentes.A presença de cepas multirresistentes de Enterococcus
spp. isoladas do rio Joana deve servir de alerta as autoridades sanitárias e de saúde
pública do estado do Rio de Janeiro, pois indica a necessidade de monitoramento da
contaminação desses ambientes aquáticos.Assim, a vigilância microbiológica
constante, incluindo a avaliação dos perfis de resistência em sistemas hídricos, como
a estudada, deve permitir detectar a ocorrência ou não da progressão do processo de
degradação por aumento da população e pela descarga ilegal de esgoto.
ENTEROCOCCUS SP. ISOLADOS DE AMOSTRAS DE ÁGUA DO RIO JOANA LOCALIZADO NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO
-
DOI: ,
-
Palavras-chave: Enterococcus, ambiente aquático, resistência, antimicrobianos, biofilme.
-
Keywords: Atena
-
Abstract:
Atena
-
Número de páginas: 15
- Valmir Wellington Alves de Oliveira
- Bárbara Araújo Nogueira
- Bruna Ribeiro Sued Karam
- Julianna Giordano Botelho Olivella
- Paula Marcele Afonso Pereira Ribeiro
- Cecília Maria Ferreira da Silva
- Cassius Souza
- Raphael Hirata Jr
- Ana Luíza de Mattos Guaraldi