Como prevenir a queda? Contribuição para a compreensão dos fatores de risco em adultos mais velhos a residir na comunidade
Um terço dos adultos que vivem na comunidade com 65 anos ou mais caem a cada ano. As quedas acidentais são responsáveis por fraturas, lesões cerebrais e podem levar à morte. São também causa de restrições na participação, o que significa perda de autonomia nas atividades de vida diária e necessidade de institucionalização precoce das pessoas mais velhas.A identificação de factores de risco para queda é fundamental para planear estratégias preventivas apropriadas. Estes podem ser divididos entre fatores intrínsecos/individuais e extrínsecos/ambientais. Condições médicas comuns, deficiências físicas e cognitivas, polimedicações e perigos domésticos estão entre os mais frequentemente identificados.
Os objetivos deste estudo, realizado numa amostra de adultos mais velhos residentes na comunidade, foram i) compreender de que modo alguns fatores individuais (idade, confiança no equilíbrio, força de preensão) influenciam o desempenho de atividades de participação relacionada com a mobilidade e contribuem para o risco de queda e ii) avaliar a influência da polimedicação e das várias classes farmacológicas no risco de queda e nos fatores de risco individuais avaliados.
Metodologia : A amostra foi composta por 108 indivíduos que compareceram num serviço de saúde no período de outubro de 2016 a janeiro de 2017. Critérios de inclusão: idade 65-85, MIF ≥120 e TUG≤12s. Excluíram-se do estudo indivíduos com deterioração cognitiva-comportamental moderada ou grave Foi preenchido um questionário com dados sociodemográficos, medicação diária e história de quedas. A força de preensão manual foi medida com um dinamómetro manual hidráulico. O medo de cair foi estimado recorrendo à versão portuguesa da escala de Activities-specific Balance Confidence (ABC). Para avaliação da participação e atividades relacionadas com a mobilidades recorreu-se ao Perfil de Participação e Atividades relacionadas à Mobilidade (PAPM).
Resultados: A amostra estudada apresentou uma média de idades de 72,28 ± 6,02 anos e era constituida maioritariamente por elementos do sexo feminino (54,6%). Relativamente aos indivíduos que caíram verificou-se que estes eram mais velhos, tinham menor pontuação ABC e menor força de preensão manual. O ABC apresentou uma correlação negativa forte com o PAPM. Todos os parâmetros funcionais avaliados foram afetados pela idade, apresentando os indivíduos mais velhos pior desempenho do que os mais jovens. A polimedicação foi identificada em 41,7% dos participantes e aumentou o risco de quedas (OR = 3.597; IC 95% 1.174-11.024; p = 0,025).Verificou-se que a toma de antidepressivos aumentou o risco de queda (OR = 9.467; IC 95% 2.337-38.495; p = 0,002). Constatou-se ainda que fármacos do grupo dos antiarrítmicos (p = 0,002), benzodiazepínicos (p = 0,015) e outros medicamentos que atuam no SNC (p = 0,039) influenciaram negativamente o ABC. Também a força de preensão manual mostrou ser menor nos indivíduos que tomavam beta-bloqueantes (p=0,022) e anti-arrítmicos (p=0,002). Já os scores de PAPM foram maiores quando se verificava a toma de medicamentos que atuam no SNC (p = 0,012) e de antiarrítmicos (p = 0,035).
Conclusão: Este estudo visa contribuir para a compreensão dos fatores de risco numa amostra de adultos mais velhos independentes e funcionais que vivem numa comunidade urbana e mostrou que a idade, o medo de cair e a força de preensão estão relacionados com o risco de queda. Para além disso verifica-se que o medo de cair pode aumentar as restrições à participação relacionadas com a mobilidade. Também constatámos que a polimedicação e a toma de antidepressivos aumentaram o risco de queda. No entanto, outras classes farmacológicas associaram-se a uma deterioração do equilíbrio, um maior enfraquecimento e maiores restrições à participação relacionadas com a mobilidade, aumentando igualmente, de forma indirecta, o risco de queda.
Como prevenir a queda? Contribuição para a compreensão dos fatores de risco em adultos mais velhos a residir na comunidade
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DOI: 10.22533/at.ed.5582112057
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Palavras-chave: adultos mais velhos, fatores de risco, independentes, polimedicação, quedas
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Keywords: Accidental falls, risk factors, aged, Independent Living, polypharmacy
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Abstract:
Background: About a third of community-dwelling older adults age 65 and older fall each year. Accidental falls may cause fractures, brain injury and even death. They can also lead to restrictions in participation, that is, the loss of autonomy for activities of daily living.Appropriate identification of risk factors for falls is fundamental to plan adequate prevention strategies. These can be classified as intrinsic or extrinsic. Commonly identified risk factors for accidental falls in senior adults include physical and cognitive impairment, common medical conditions, polypharmacy and home hazards.
The aims of this study are to evaluate, in a population of autonomous community-dwelling older adults, i) how some intrinsic factors (age, balance confidence, grip strength) influence participation related to mobility and the risk of accidental falls and ii) how polypharmacy and individual pharmacological classes affect the risk of accidental falls.
Methods: The sample consisted of 108 individuals who attended a health care facility between October 2016-January 2017. Inclusion criteria: age 65-85, FIM ≥120 and TUG≤12s. Individuals with serious cognitive or motor impairment were excluded. A form was filled with sociodemographic data, daily medication and history of falls. Handgrip strength was measured with a hydraulic dynamometer. Fear of falling was assessed using the activities-specific Balance Confidence (ABC) scale. Participation was evaluated using the Activities and Participation Profile related to Mobility (APPM).
Results: The mean age was 72,28±6,02 and 54.6% of the participants were female. Fallers were older, had lower ABC scores and handgrip strength. ABC showed a inverse correlation with APPM. All of the functional parameters were affected by age, with older individuals performing worse than younger subjects. Polypharmacy was identified in 41,7% and increased the risk of falls (OR = 3,597; CI 95% 1,174-11,024; p=0,025). Individuals taking antidepressants showed an increased risk of falling (OR = 9,467; CI 95% 2,337-38,495; p=0,002). Anti-arrhythmic drugs (p=0,002), benzodiazepines (p=0,015) and other CNS-acting medication (p=0,039) negatively influenced ABC scores. Handgrip strength was lower in individuals who took beta-blockers (p=0,022) and anti-arrhythmic medication (p=0,002). APPM scores were higher in subjects who reported taking CNS-acting medication (p=0,012) and anti-arrhythmic medication (p=0,035).
Conclusions : This study is intended to contribute to a better understanding of risk factors for accidental falls in a population of independent, community-dwelling older adults. We concluded that age, fear of falling and grip strength are related to the risk of falling. Fear of falling may increase restrictions on participation related to mobility. We also found that polypharmacy increases the risk of falling. Antidepressants were associated with an increased risk of falling, while other pharmacological classes can indirectly affect the risk of falling due to their effect on the ABC and APPM scores.
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Número de páginas: 15
- Luis Pedro Lemos
- João Páscoa Pinheiro
- Jorge Oliveira
- Catarina Caçador
- Ana Paula Melo
- Anabela C Martins
- Edite Teixeira de Lemos