Entendendo que a cultura de paz colabora para construir relações mais saudáveis e uma justiça que efetivamente restaure, a construção de grupos de círculos de construção de paz, mostram-se um promissor caminho para uma convivência mais harmoniosa intramuros e posteriormente extramuros promovendo a comunicação não violenta. Garantindo um espaço de reflexão, conscientização, num conjunto ordenado e sistêmico de princípios, métodos, técnicas e atividades próprias, visando à conscientização/reflexão dos fatores relacionais, institucionais e sociais motivadores de conflitos e violência. A Política Pública Nacional de Justiça Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário está delineada na Resolução CNJ n. 225/2016 e tem por objetivo a consolidação da identidade e da qualidade da Justiça Restaurativa definidas na normativa, a fim de que não seja desvirtuada ou banalizada. Um círculo de construção de paz é baseado em etapas que se constituem através de perguntas norteadoras, oportunizando a fala e escuta qualificada a todos os participantes para que contem suas verdades e histórias de forma respeitosa. A oportunidade de contar e ouvir histórias, faz refletir sobre nós mesmos, nosso modo de agir e pensar. Quando ouvimos histórias nos conectamos emocionalmente com o outro. Círculo é conduzido por um facilitador, que tem como responsabilidade ajudar os participantes a criar um espaço seguro para a conversa, monitorar a qualidade do espaço do coletivo e estimular as reflexões do grupo através de perguntas ou pausas. O objetivo dos Círculos de Construção de Paz é construir relacionamentos de troca de aceitação, entendimento e/ou resolução de conflitos. A população carcerária do Presídio Estadual de Camaquã em junho de 2023, com capacidade de engenharia para 180, superlotação de 388, todos homens entre 18 e 60 anos, das mais variadas classes sociais. Para implantar o grupo, a Técnica Superior Penitenciaria-Psicóloga fez cursos para ser facilitadora. Pensou em começar pelos alunos da sala de aula da turma descentralizada de educação para jovens e adultos, sensibilizada a professora, de pronto aceitou. Dentro dos critérios 1 Técnica Superior Penitenciária-Psicóloga da Superintendência dos Serviços Penitenciários; Presídio Estadual de Camaquã; [email protected] das aulas e do andamento logístico/segurança definidos pela professora e casa prisional, em 2022 deu-se inicio aos grupos. Em reflexo da pandemia que o mundo atravessava, a desesperança, falta de autocuidado, descrença e desvalorização do futuro, era uma constante, motivando a pensar em ações preventivas. Todas os alunos aceitaram e posteriormente, com o incentivo desses, outros, aderiram. Pensado semanalmente, por procedimentos da casa prisional, algumas semanas não houveram, mas no mínimo uma vez ao mês ocorreram. Em 2022 foram realizados 8 e em 2023 12, totalizando 20 círculos, com no mínimo 25 participantes. Após a realização de cada encontro, o participante avalia sua participação, sempre positiva, respostas de esperança, tranquilidade e serenidade. Com observação, planejamento, roteiro e relatório dos círculos, neste caso os não conflitivos. As mensagens são analisadas com vistas ao significado do que é dito, sabendo que tal significado é construído a partir de relações de sentido entre o significante (as palavras) e o mundo do indivíduo (suas percepções). Esta reação positiva ao círculo se repetiu em todos os grupos, o que demonstra que os encontros têm proporcionado a esses indivíduos um reconhecimento de si no outro e um contato com sua humanidade. A escuta qualificada com interação humanizada, cidadã e solidária vivenciada contribuiu para a construção de um espaço reflexivo, de acolhimento, sigiloso e sem julgamento para uma Cultura de Paz. Esta foi uma ferramenta valiosa para a atuação prática da facilitadora no presídio Estadual de Camaquã, bem como poderá ser utilizada por outros profissionais que promovem o cuidado no Sistema Prisional.