Reflexões acerca da Etnobiologia e Etnoecologia no Brasil
Etnobiologia um novo ramo da biologia que vem se consolidando com aporte na ecologia humana e na antropologia que tem como cerne a perspectiva etnográfica na sua constituição, ou seja: o conhecimento adquire fluidez a partir do campo empírico, da cultura, do diálogo entre saberes.
Assim, como vai sendo constituída vai se consolidando como Ciência, como campo de pesquisa e como prática. Basicamente primando pela pesquisa científica, pelo diálogo, mas acima de tudo pela escuta do sujeitos envolvidos nos processos, a Etnobiologia sugere a Ciência um novo contrato social e pedagógico. Este outro e diferente modo de pesquisar, ou seja, ouvindo, resgatando e dialogando com comunidades locais, afim de conhecer-na-ação, através de pesquisa participante e com isso comprometida socialmente e apropriando-se dos estilos do coletivo cultural que conhece e estabelece os processos cotidianos.
A perspectiva de pesquisa que se inicia através do conhecimento de realidades e se processa no embate com as discussão e sistematizações teóricas acadêmicas não se descuida, com isso, do método científico, mas aposta nele através de um dimensão histórico-cultural, como forma produção e natureza do conhecimento científico.
A Etnobiologia além de fazer a escuta social dos coletivos de pensamento, das percepções humanas acerca da natureza que os rodeia e de perceber a dialética que a prática e a teoria possibilitam ler na perspectiva da práxis, toma para si a necessidade da ciência moderna de perceber o outro, que é o sujeito do conhecimento, e então apura-se no intento de ao pesquisar o sujeito do mundo cotidiano possibilitar a ele e a ciência o conhecimento da natureza e emanar desta relação as necessidades de se conhecer para preservar.
De posse dos etnoconhecimentos constituídos ao longo da história da humanidade a Ciência Biológica pode facilitar outros diálogos de saberes, em especial com a Cultura, com a Ciências e com a Sociedade, no que pese pela educação, ou seja, com o ensino de Biologia e Ecologia, pois interdisciplinaridade é um eixo na etnobiologia e assim, é também necessária a ela a interpessoalidade, pois é nela que se estabelece interação e diálogo.
Neste contexto, a Sociedade, as Instituições de Ensino e de Pesquisa ganham uma nova ferramenta a etnobiologia/etnoecologia como modo/forma de articular o que sabemos, aprendemos e ensinamos a partir da realidade das comunidades, resgatando o conhecimento local, educando pela pesquisa e ressignficando conceitos e práticas culturais a luz dos conhecimentos da(s) Ciência(s) na perspectiva da produção conceitual de conhecimentos biológicos/ecológicos.
Acredito que a deixa é esta, pois quando a Sociedade, a Cultura e a Ciências se reconhecem como modo de produção e moradia para o conhecimento, percebemos novas relações tecidas no âmbito da cultura e convívio social, entendendo que a interlocução entre os diferentes sujeitos constitui pensamento e linguagem. Constroem-se assim, novos saberes, novos diálogos, propósitos, projetos e práticas que nos (re)educam na interação entre cotidiano da experiência social, cultural e científica.
O livro que ora apresentamos está recheado de sentidos e significados em 14 diferentes capítulos que dispõe conhecimentos biológicos, ecológicos, culturais, narrativas, educação, meio ambiente, que com suas diferentes facetas compõe a Etnobiologia de um tempo presente, que respeita o passado cultural de nosso povo e prospecta cada vem mais um futuro científico multicultural.
Assim, a Etnobiologia vem ao encontro dos anseios sociais e científicos, com nuances e estilos que possibilitam performances outras, novas leituras e formas de ensinar, pesquisar, como fenômeno discursivo e de ação propiciado pela interação, pelo envolvimento que a ferramenta etno nos apresenta e nos faz apropriar. Com isso, cultura, sociedade, pesquisa, ciência, ensino e biologia/ecologia ganham em forma e (re)forma, com o desenvolvimento de possibilidades novas e outras neste advento contemporâneo: que se envolve e apercebe também da ética e da estética no contexto e argumento maior do planeta: a sobrevivência da Terra.
O livro é um convite ao diálogo entre distintos saberes, bem como uma coletânea de aprendizagens que ora se dispõe a leitura e crítica da comunidade científica e em geral.
Boa Leitura!
Prof. Dr. Roque Ismael da Costa Güllich
Reflexões acerca da Etnobiologia e Etnoecologia no Brasil
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DOI: 10.22533/at.ed.022190502
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ISBN: 978-85-7247-102-2
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Palavras-chave: 1. Ecologia humana. 2. Etnobiologia.
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Ano: 2019
- Aline Araújo Vago
- Ana Paula Glinfskoi Thé
- Cláudia Santos Almeida
- Daiane Rodrigues dos Santos
- eliane dalmora
- Erika Fernandes-Pinto
- Eulina da Silva Lima
- Flávia Silva Martinelli
- Gabriele de Sousa Meneses
- José Geraldo de Aquino Assis
- Kátia Mara Batista
- Marcelo Derzi Vidal
- Maria Otávia Silva Crepaldi
- Mariana Moreira Fróis
- Roque Ismael da Costa Güllich
- Valéria Brito Franco
- Vanilde Citadini-Zanette
- Yan Victor Leal da Silva
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