Publicado em 03 de abril de 2023.

No decorrer da leitura deste livro, percebi que tinha em mãos mais que
um excelente livro de receitas com a utilização de coprodutos de frutas. Vi que
se tratava do resultado do cuidadoso trabalho de pesquisa que conseguiu ir além
dos muros da Universidade.
A experiência das autoras e a ciência trabalharam juntas na construção
e sistematização do conhecimento para a obtenção doméstica, de modo
descomplicado, das farinhas de cascas e sementes, que me pareceram
apetitosas e muito aromáticas.
Encontrei receitas práticas e saudáveis para o dia a dia corrido e
atarefado de qualquer pessoa ou família. Mas também me deparei com receitas
que facilmente transitam do almoço de domingo - massa caseira de macarrão
- a diversas ocasiões festivas - macarons, casquinha de sorvete, chocotone,
cupcake recheado com abacaxi, tortilhas - agregando sabor e saúde a essas
ocasiões.
O livro foi pensado para qualquer pessoa que tenha interesse, vontade ou
curiosidade de cozinhar com os coprodutos de frutas. A linguagem é simples, os
ingredientes e suas quantidades estão descritos e listados de modo organizado,
e a técnica de preparo é apresentada sem mistérios. Este livro certamente
contribuirá para o desenvolvimento, ou aperfeiçoamento, das habilidades
culinárias, da autoconfiança e da liberdade frente às grandes corporações.
Essa competência culinária é fundamental em tempo de aquisição e consumo
elevado de alimentos ultraprocessados que pouco se conectam com nossa
cultura alimentar, e deixam rastros de doenças para o homem e de destruição
da agrobiodiversidade.
Para além das receitas, o livro incentiva o uso dos alimentos vegetais em
sua totalidade – polpas, cascas, sementes – otimizando não somente os recursos
naturais mobilizados para a sua produção como, também, a complexa cadeia
responsável pela sua chegada nos domicílios. O uso integral dos alimentos de
origem vegetal dialoga com as políticas a favor da sustentabilidade.
Por fim, este livro conecta ciência, saúde e sustentabilidade ao cozinhar.
Ademais, sob o olhar da antropologia, cozinhar é algo que nos define como
seres humanos, e o trabalho na cozinha carrega uma força emocional da qual
não podemos nos livrar. Cozinhar nos proporciona não somente a refeição,
mas também a ocasião, pois ao compartilhar as refeições, exercemos a nossa
capacidade de ouvir, argumentar, ceder a vez e discutir sem ofender. A mesa
é um espaço privilegiado da experiência do humano e da humanização, que
precisam ser preservadas e fomentadas, e livros como este precisam ser
valorizados, comemorados e compartilhados.
Boa leitura, “mão na massa” e saúde!

Profa. Rita de Cássia Ribeiro
Departamento de Nutrição, Universidade Federal de Minas Gerais
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade
Federal de Viçosa