Publicado em 08 de maio de 2025.

A obra aqui apresentada tem contribuição importante para construção do conhecimento agroecológico por seu caráter interdisciplinar.
Os artigos aqui apresentados põem em diálogo a agroecologia, com a etnobotânica, a etnomicologia, o ensino da botânica e de outras ciências, a educação ambiental, a ecolinguística, dentre outros.
No geral são estudos de casos, realizados primando por uma perspectiva participativa de pesquisa, no contexto da tríplice fronteira amazônica entre o Brasil, a Colômbia e o Peru. Nesse contexto os artigos registram as especificidades de comunidades de terra firme e de várzeas, bem como quintais produtivos urbanos, expressando um mosaico particular de modos de vida na floresta amazônica.
Destaca-se nesse conjunto de artigos o que chamamos na Agroecologia do diálogo de saberes. As/os leitoras/es encontrarão em muitos dos artigos aqui apresentados um esforço para por em diálogo os saberes tradicionais, populares, com aqueles construídos nos espaços acadêmicos e referenciados na bibliografia pertinente de cada uma das áreas de conhecimento.

As/es autoras/es que nos brindam com seus artigos nessa obra estão falando sobre diferentes relações sociedades-natureza. Elas/es nos falam das percepções ambientais que temos sobre o papel e importância das reservas naturais, nos diferentes territórios e das múltiplas formas de vidas encontradas nas mesmas. Destacam práticas pedagógicas e a importância do ensino de botânica, sobretudo vinculado aos saberes sobre as plantas medicinais.
Dentre as diferentes estratégias de manejo para o fortalecimento da transição agroecológica ganha espaço nesta obra os quintais produtivos agroflorestais. Eles são apresentados como espaços de rica biodiversidade, que expressa saberes plurais de mulheres e homens que são as/os mantenedoras/es dos mesmos.
Nos quintais estudados foi registrada uma diversidade de espécies alimentícias, medicinais, condimentares, além de diferentes criações animais, como por exemplo, de aves. Essa diversidade contribui para a melhoria da qualidade da alimentação consumida pelas famílias, fortalecendo a segurança alimentar e nutricional. Por outro lado, quando essa produção gera excedentes esses são comercializados, na maioria das vezes nos circuitos curtos e comércio de proximidade, o que impulsiona a economia local, gerando rendas monetárias extras, além de outras trocas simbólicas não monetarizadas, por meio de trocas e doações, nas quais se expressa dádiva e reciprocidade.

Destaca-se ainda nos quintais a presença das plantas medicinais, com diferentes usos preventivos e curativos de muitos tipos de doenças, do corpo e da alma/espírito. Mulheres e homens demonstram ricos saberes sobre os manejos, preparos e as indicações destas espécies vegetais.

Artigos da coletânea destacam ainda o papel das mulheres na preservação da agrobiodiversidade. Em muitos casos estudados são elas que contribuem de maneira significativa no manejo desses espaços, delegando cuidados especiais
à guarda e propagação das sementes, das diferentes culturas vegetais e dos pequenos animais, predominantemente.
Estudos aqui apresentados apontam também a importância da perspectiva intercultural para troca de conhecimentos, numa região marcada pela presença de povos originários.
Por fim destacamos a relação estabelecida dos conteúdos aqui apresentados nos artigos com os objetivos do milênio da ONU, nos quais aparecem a busca pela fome zero e agricultura sustentável; a ação contra a mudança global do clima; a educação de qualidade; a saúde e o bem estar; as cidades e comunidades sustentáveis, e o consumo e produção responsáveis.
Em nosso entendimento a busca por esses objetivos é reguladora estratégica para mitigação da crise socio-climática-ambiental em que vivemos na atualidade no planeta.
Os olhos do planeta se voltam para Amazônia e nos cobram ações urgentes! Façamos a nossa parte!
A agroecologia tem se mostrado com uma alternativa importante nesse contexto e por isso a Associação Brasileira de Agroecologia tem a honra de apresentar essa publicação em parceria com a Universidade Federal do Amazonas, sob a coordenação do Professor Dr. Moises Félix de Carvalho Neto.

Boa Leitura!

Dr. José Nunes da Silva

Presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA)