O livro Planejamento urbano e segregação socioespacial e ambiental em Bom Jesus da Lapa (BA), de autoria de João Bosco da Silva Junior, é resultado de pesquisa de mestrado realizada no Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais da Universidade Federal do Oeste da Bahia, sob a minha orientação. Na sua abordagem, o autor nos brinda com um exame bastante profícuo do processo de urbanização de Bom Jesus da Lapa, a partir do caso do bairro Beira-Rio.

Com uma linguagem objetiva, mas carregada pelo olhar intimista de um militante lapense da causa ambiental, a obra versa sobre os conflitos entre as formas de uso e ocupação do espaço urbano e as contradições da (não) aplicação de normas urbanísticas e ambientais em uma localidade onde predomina a precariedade no habitar. Como hipótese precípua, Bosco defende que a municipalidade, por sua inércia e negligência quanto à aplicação dos instrumentos de planejamento urbano na localidade objeto da análise, seja o principal agente das implicações socioambientais observáveis no bairro Beira-Rio.

Para conduzir a pesquisa, o autor realizou, antes de tudo, uma profunda revisão de literatura sobre temas caros à sua análise, como planejamento urbano, segregação socioespacial e ambiental, além de uma abordagem sobre o planejamento na perspectiva da convivência entre rio – considerando que Bom Jesus da Lapa é uma cidade ribeirinha do Rio São Francisco – e sociedade urbana, o que culmina na proposição de um novo olhar sobre a temática, a partir da aplicação dos instrumentos existentes nos planos de bacias hidrográficas em interface com aqueles preconizados nos planos diretores urbanos.

Vale destacar, ainda, o esforço empreendido na realização de uma análise da formação territorial de Bom Jesus da Lapa em paralelo com o processo de criação dos diversos instrumentos de planejamento urbano e ambiental relativos àquele município, à região e à bacia hidrográfica nas quais a unidade político-administrativa se insere, enfatizando, também, o surgimento da lagoa e do bairro Beira-Rio, o objeto de análise do seu estudo.

A obra é coroada com um estudo empírico extremamente criterioso, levado a cabo a partir, principalmente, da metodologia de análise de conteúdo dos instrumentos de planejamento urbano e ambiental e do exame de produções cartográficas, imagens de satélite e fotografias aéreas – na escala da cidade e do bairro – que permitiram traçar um quadro bastante elucidativo das condições de segregação socioespacial e ambiental às quais a população do Beira-Rio está submetida.

A obra que ora tenho o prazer de apresentar neste prefácio é, enfim, uma leitura instigante para especialistas em temas relacionados ao planejamento urbano e ambiental, para estudantes de Geografia, Urbanismo, Ciências Sociais, Biologia, Direito, História, dentre outras áreas, bem como para curiosos sobre os (des) caminhos da urbanização brasileira.

Paulo Roberto Baqueiro Brandão