Publicado em 24 de março de 2022.

Os Programas de mestrados profissionais no país são frutos de demandas sociais, e se configuram como importante vetor epistemológico de criação e difusão de novas relações com o conhecimento. Eles se apresentam como anseios dos movimentos sociais a partir do momento em que estes se mobilizaram/mobilizam para a criação de relações mais horizontais entre a academia e a sociedade civil. Configuram-se como criação de novas relações epistemológicas na medida em que ousam inverter o abstracionismo que sempre esteve bastante presente nas relações acadêmicas ao priorizar as práticas. Desse modo, semelhante ao que Marx afirma ter feito com o idealismo hegeliano, esses Programas ousam reposicionar as costumeiras dinâmicas entre teorias e práticas tão presentes na constituição do nosso país, especialmente na insidiosa e desigual relação estabelecida entre trabalho intelectual versus trabalho manual. 

Essa inflexão narrativa traduz-se num vital recontar das histórias, não mais através da ótica exclusiva dos vencedores, mas, a partir da imprescindível visibilização das experiências e narrativas dos grupos que foram subalternizados (grande parte dos/as renegados/as são os/as praticantes dos trabalhos manuais). 

Esse recontar não se envolve com nenhum processo de vitimismo, como é tão apregoado pela extrema direita, mas compromete-se com o avanço da democracia, pois está ancorado e mobiliza a luta pela justiça social, e pela igualdade de direitos a todos/as cidadãos/dãs do país. Essa luta utópica é sonho coletivo de toda nação democrática, como bem alertara Martin Luther King Jr.. Sonho que se sonha ao ser exercitado na busca pela criação de ambientes respaldados pela igualdade de direitos, valorização das diferenças e combate às desigualdades sociais. Conhecimento praticado em prol das causas coletivas, implicado com a utópica ampliação das demandas democráticas. 

Por tudo isso, é uma honra prefaciar o livro de Sílvia Elaine, porque ela, com a competência que lhe é costumeira, exerce a importante tarefa de visibilizar um grupo que ainda é subalternizado nos cenários educativos, em especial, nos ambientes da educação profissional e tecnológica – EPT. Estamos falando dos profissionais Técnicos/as-Administrativos/as em Educação – TAEs. Sua importante defesa é a de que, embora esses/as profissionais não estejam em sala de aula, eles/as também colaboram com a ação educacional, portanto seu trabalho é educativo. Grande parte do livro que o/a leitor/a tem o prazer de ter agora “em mãos”, gravita em torno da competente e fundamentada defesa de tal tese. A outra parte, igualmente importante e fecunda, parte para o desenvolvimento de um jogo analógico intitulado “Quem somos nós?”, desempenhando a importante função de criar um artefato, porque toda pesquisa desenvolvida nesses Programas é implicada e atrela-se à criação de um produto educacional. Baseado no referido jogo, a admirável pesquisa se propõe a demonstrar as potencialidades do trabalho educativo dos/as profissionais não docentes para a formação humana dos/as estudantes da EPT.

Com seu livro, Sílvia Elaine também aponta para a importância de práticas e relações que podem nos fazer avançar na ampliação do desejado currículo integrado, afinal é impossível praticá-lo sem se levar a sério as incríveis contribuições e potencialidades que podem advir dos encontros com a expertise e competência dos/as profissionais Técnicos/as-Administrativos/as em Educação – TAEs. 

Desejo uma excelente leitura a todos/as e espero que esse livro mobilize várias outras pesquisas e problematizações. 

Salvador, 2022

Leonardo Rangel.