Publicado em 13 de setembro de 2022.

O meu fascínio por Odair
Peço desculpa pela forma como começo este texto. Era o dia 13 de março de 2019, pelas 9 horas. Eu estava em Bogotá, Colômbia, no Colóquio que celebrava os 10 anos do Geoforo – Foro Iberomericano de Geografia, Educação e Sociedade. Como outros participantes, eu tinha senhas para tomar o pequeno almoço/café da manhã numa pastelaria mesmo ao lado da residência da Universidade dos Andres, onde participantes estrangeiros estavam instalados. Juntámo-nos numa mesa, o Souto e o Benito, da Universidade de Valência/Espanha, mas também José Armando Santiago, o quase mítico colega da Venezuela, com quem eu escrevera um texto para o Colóquio e que finalmente conhecera no dia anterior. Havia uma crise enorme na Venezuela, de onde saíam centenas de milhares de venezuelanos, e que tinha, agora, as fronteiras fechadas – o próprio Santiago atravessara a fronteira com a Colômbia por umas veredas, como nos informou. Naquele momento, na pastelaria, os meus colegas espanhóis começaram a perguntar-lhe sobre a situação na Venezuela (o que eu não me sentira à vontade para fazer, antes).
Eu a tentar escutar as suas palavras, atentíssimo. Exatamente nessa altura, chega um jovem colega, Odair Ribeiro Filho, da USP Ribeirão Preto, que nos identifica e se junta a nós. Ficou no extremo da mesa, junto a mim. Começa imediatamente a falar-me com o maior entusiasmo do Projeto Nós Propomos! Eu fiquei um pouco sem saber o que fazer. Tinha, à minha esquerda, Santiago falando da situação na Venezuela, no centro de todas as atenções, e à direita o Odair, um jovem entusiasta do Projeto Nós Propomos!, que eu fundara, a teorizar sobre o Projeto e a identificar, com espantosa lucidez e pertinência, as potencialidades educativas do mesmo, chamando-me, ali mesmo e naquele momento, a atenção para dimensões educativas que eu desvalorizara ou dera menor atenção. Fiz a gestão possível das minhas atenções nesse pequeno almoço/café da manhã. Mas devo dizer que, no final do dia e no final dos trabalhos do Colóquio, lá fomos nós, eu e o Odair, bons amigos, ao belo santuário de Monserratte, sobranceiro à cidade. E não nos despedimos, em Bogotá, sem antes eu fazer um vídeo para os entusiasmados alunos do Odair, que participavam do Projeto.
O Odair rapidamente se tornou uma figura de referência do Projeto Nós Propomos! no Brasil, braço direito do Professor Raimundo Lenilde, eleito, pelos colegas, Embaixador do Projeto Nós Propomos! neste país. Mas o Odair é, também, uma referência no espaço iberoamericano do Projeto Nós Propomos! Possui uma generosidade sem limites, colabora em tudo, está presente em todas ou quase todas as iniciativas. Tem uma alegria interior que irradia. Vindo da História, descobriu na Geografia e no Projeto Nós Propomos!, também
graças ao trabalho e orientação da Professora Andrea Lastória e do Grupo Estudos da localidade (ELO), o espaço de mobilização dos seus alunos para uma participação efetiva na comunidade, para uma melhor formação cidadã dos seus alunos, para uma escola melhor, para um mundo melhor – respondendo ao que eram as suas inquietudes docentes. E este entusiasmo, este empenho, tem sido uma constante ao longo destes anos.
Na realização da sua dissertação de mestrado, sobre o Projeto Nós Propomos!, existiu um esforço incansável do Odair em pesquisar, em ter acesso à informação mais correta, em recolher o que já havia sido produzido sobre o Projeto – e nunca se queixou, como poderia fazer, da informação em falta, de um Projeto que cresceu de forma muito espontânea. Na sua investigação sobre o Projeto, optou por não incluir o trabalho que ele próprio desenvolve na escola (como seria legítimo que fizesse). Há rigor, há muito rigor científico na sua dissertação do Odair. E é se sublinhar o esforço de conceitualização do Projeto que vai fazendo ao longo da sua dissertação.
Para mim, o Odair representa, o que de melhor tem o Projeto Nós Propomos! Podem parecer palavras de circunstância, de quem escreve o Prefácio de um livro. Mas são palavras autênticas. Eu tenho um verdadeiro fascínio, pessoal, cidadão e académico pelo Odair. Obrigado, Odair.
Lisboa e IGOT-Universidade de Lisboa, 15 de abril de 2022.

Sérgio Claudino