Lugares de memória
Publicado em 27 de abril de 2022.
Milena Mascarenhas
Solange Portz
Valdir Gregory
(Organizadores)
Este livro foi concebido e construído com a finalidade de discutir Lugares de Memória, e discute aspectos relacionados à memória em contexto de fronteiras, estando organizado e estruturado em oito capítulos. Os capítulos que o compõem são oriundos de pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação Sociedade, Cultura e Fronteiras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) e outras instituições, e estão voltados para um debate a respeito de memórias, patrimônio e territorialidades da região conhecida como Tríplice Fronteira.
Os conteúdos contemplam dados e narrativas que se relacionam com a história da região trinacional situada nos entornos de Foz do Iguaçu, Puerto Iguazú e da região metropolitana de Ciudad del Este na fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai respectivamente. Considerando que, dentre os aspectos fronteiriços, estão as línguas portuguesa e espanhola, principalmente no cotidiano deste espaço, optou-se por manter citações em espanhol sem as suas traduções.
O primeiro capítulo trata do Patrimônio Cultural no Mercosul e lança olhares na direção da cultura além-fronteira, identificando referências culturais compartilhadas por diferentes Estados na perspectiva de um projeto de integração regional. Vê-se o debate sobre o papel da cultura como estratégia para a integração cujo o intuito é vislumbrar uma identidade comum dentro do Mercosul, visando promover um sentimento de pertencimento para a formação de uma cidadania regional. O patrimônio cultural emerge como uma categoria importante para a reflexão dos processos sobre as medidas de valorização das representações do passado, através das ações voltadas para a preservação de bens culturais compartilhados entre os países parceiros.
O segundo capítulo foca nas migrações, abordando as políticas sobre terra e colonização na perspectiva do processo de nacionalização da fronteira externa (separação entre nações) e interna (ocupação das áreas fronteiriças das províncias) nas regiões transfronteiriças do Sul do Brasil e Nordeste da Argentina, nomeadamente na faixa de fronteira das províncias do Paraná (BR) e Misiones (ARG) nos séculos XIX e XX. A pesquisa ainda foca na comparação e na transnacionalidade, buscando a compreensão das semelhanças, diferenças e conexões na invenção de nacionalidades de origem europeia para integrar a fronteira aos Estados Nacionais em questão.
O capítulo três tem a proposta de apresentar memórias construídas sobre um personagem que viveu na fronteira do Brasil, Paraguai e Argentina no final do século XIX e início do século XX. Os estudos sobre Moisés Santiago Bertoni emergem de documentação constituída por ele mesmo e por obras diversas produzidas a seu respeito. O texto discute a construção de memórias que fazem parte de um variado leque de lembranças e permite conhecer o processo de construção de memórias sobre a Tríplice Fronteira.
O quarto capítulo estuda as culturas alimentares da fronteira Brasil-Paraguai-Argentina por meio de indícios e vestígios em feiras, trazendo reflexões acerca de práticas relativas à alimentação. As feiras analisadas foram a Feirinha da JK em Foz do Iguaçu, a Feria de Ciudad del Este do lado paraguaio e a Feirinha da Argentina em Puerto Iguazú. É uma escrita que bebe na micro-história, nas práticas do cotidiano e na etnografia. Parte-se da comida, de espaços de comidas e de seus desdobramentos para discutir culturas alimentares neste espaço de fronteira.
A Ponte Internacional da Amizade serve de cenário para discutir as ações empenhadas pelos governos brasileiro e paraguaio a fim de consolidar memórias e representações em diferentes insígnias, oferecendo aos lugares relacionados à ponte diferentes formas de ancorar lembranças. Buscou-se, a partir dos vestígios encontrados, problematizar os lugares de memória intencionalmente construídos para vincar certas lembranças e associá-las a seus executores.
O capítulo seis realiza uma discussão sobre como as ações materiais e imateriais do Estado brasileiro, por meio de lugares e memórias, são ativadas como representações da formação histórica de Foz do Iguaçu. Os indícios presentes no cotidiano levam a percepção da presença do Estado no passado e no presente. Por meio de documentos, discursos, infraestruturas, monumentos, políticas, projetos e ações, o Estado mostra sua presença e influência nas definições de representações, memórias, lugares de memórias de Foz do Iguaçu. Um território que integra muitas histórias que são imprescindíveis para compreender a formação de uma cidade com memórias porosas e cambiantes.
O capítulo sete traz narrativas sobre a primeira Catedral da Diocese de Foz do Iguaçu e a trajetória da Igreja Católica, na região Oeste do Paraná, no início do século XX. A Paróquia São João Batista revela-se como fonte provedora de histórias e de personagens que, de alguma forma, se conectam com a história da cidade, além disso, o autor trabalha com a concepção da igreja como monumento histórico, marco referencial para a manutenção de lembranças e de tradições, tornando-se ponto de referência e de singularidade do local onde se encontra promovendo a formação da identidade cultural local.
O capítulo final aborda o Centro de Altos Estudos da Conscienciologia (CEAEC) apresentando seu histórico de formação em Foz do Iguaçu. O CEAEC é um ponto turístico no município desde 1995, e um importante polo de pesquisas voltado para o estudo da consciência humana (pessoa, indivíduo, ego, self) de modo multidimensional, além da dimensão material, do corpo físico e do confinamento no cérebro, considera-se outras formas de manifestação. O capítulo discorre sobre o desenvolvimento de um sentimento de pertencimento por voluntários da Conscienciologia.
Á vista disso, este livro apresenta um conjunto de temas, de múltiplos dados, de tratados sob diversos enfoques, de variadas metodologias e de diferentes abordagens teóricas. Discussões mais amplas e aprofundamentos maiores poderão ser buscados nas teses e publicações dos autores.
Lugares de memória
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DOI: 10.22533/at.ed.674221104
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ISBN: 978-65-258-0167-4
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Palavras-chave: 1. HISTÓRIAS DE LUGARES E TEMPOS. I. MASCARENHAS, MILENA (ORGANIZADORA). II. PORTZ, SOLANGE DA SILVA (ORGANIZADORA). III. GREGORY, VALDIR (ORGANIZADOR). IV. TÍTULO.
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Ano: 2022
Artigos
- 1- O Mercosul e a centralidade do Patrimônio Cultural
- 2 - Semelhanças, diferenças e interconexões do processo imigratório na fronteira ArgentinaBrasil
- 3 - Moisés Santiago Bertoni e as Memórias Construídas
- 4 - Percursos de uma pesquisa sobre culturas alimentares - indícios etnográficos em práticas do cotidiano
- 5 - Ponte Internacional da Amizade lugares de memória
- 6 - Foz do Iguaçu: memórias, lugar de memória e representações relacionadas com a presença do estado
- 7 - A Igreja Matriz São João Batista de Foz do Iguaçu e a Congregação do Verbo Divino (SVD): História e Personagens
- 8 - Centro de Altos Estudos da Conscienciologia (CEAEC): matriz das territorialidades conscienciológicas