Ebook - História e sociologia dos intelectuais revolucionáriosAtena Editora

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1. Revoluções e ideologias revolucionárias. I. Almeida, Rodrigo Davi (Organizado...

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capa do ebook História e sociologia dos intelectuais revolucionários

História e sociologia dos intelectuais revolucionários

Publicado em 22 de agosto de 2025.

Atualmente, observarmos, no cenário político internacional, o avanço da extrema direita e a emergência de um novo fenômeno que os cientistas políticos marxistas denominam neofascismo. Em linhas gerais, o neofascismo pode ser definido como um movimento reacionário das camadas médias da sociedade, mas que atua nos marcos do regime político liberal-democrático e do Estado de direito, ainda que eles sejam diuturnamente questionados e atacados. Daí a sua novidade e principal diferença em relação ao fascismo histórico.
Na esteira do conceito, podemos identificar governos, partidos políticos e movimentos sociais com características claramente neofascistas que pululam pelo mundo todo, a saber: os dois governos de Donald Trump nos Estados Unidos e o seu correspondente movimento “Make America Great Again”; o bolsonarismo, seu movimento “Deus, Pátria, Família e Liberdade” e o mandato presidencial de Jair Bolsonaro no Brasil; os governos de Victor Orbán na Hungria, de Javier Milei na Argentina e o de Benjamin Netanyahu em Israel; os partidos políticos A Pátria (antigo Partido Nacional Democrático da Alemanha), os Irmãos de Itália, de Giorgia Meloni, o Partido do Povo Indiano, de Narendra Modi, dentre muitos outros.
Diante desse quadro, qual é, ou deveria ser o papel das forças progressistas de esquerda, isto é, dos partidos, dos governos, dos movimentos sociais, mas sobretudo de seus intelectuais face à organização, ao fortalecimento e à expansão global do neofascismo?
Os capítulos aqui reunidos de Miguel Vedda, Isabel Loureiro, Marcelo Hoffman, Emiliano Sanchéz, Fábio Ruela de Oliveira e de Rodrigo Davi Almeida – em estrito diálogo com as incisivas contribuições teóricas, metodológicas e políticas de Heine, Marx, Rosa Luxemburgo, Sartre, Robert Linhart, Néstor Canclini e Florestan Fernandes – lançam luz ao problema fundamental supracitado uma vez que analisam criticamente o que são, quem são e o que fazem os intelectuais na vida social.
O primeiro capítulo, Heinrich Heine y Karl Marx como ensayistas. Génesis y función de los intelectuales críticos, de Miguel Vedda, analisa como Heine, ensaísta engajado alemão do século XIX, antecipa certos dilemas vividos pelo intelectual crítico do século XX, dentre os quais, como assinala o professor argentino de literatura alemã: “a dificuldade e a necessidade de manter a posição lúcida do indivíduo independente e de sustentar, no entanto, o compromisso com a realidade social”. Em seguida, o texto explica como o ensaísmo de Marx – que se contrapôs aos métodos puramente lógicos que violentavam a realidade ao submetê-la aos esquemas apriorísticos, rígidos e petrificados – se configura como um método capaz de apreender a realidade em movimento, isto é, na sua totalidade, historicidade e contradições.

O capítulo intitulado Rosa Luxemburgo: vida e obra, de Isabel Loureiro, apresenta uma síntese da trajetória, das principais obras (da Greve de massas, partido e sindicatos de 1906 à A revolução russa de 1918) e dos conceitos mais importantes (como o imperialismo, o socialismo democrático e a revolução) da principal líder do Partido Comunista Alemão que contribuiu decisivamente à Revolução Alemã de 1918.
O terceiro capítulo, de Marcelo Hoffman, Uma experiência maoísta francesa no Brasil. Investigação de Robert Linhart sobre os trabalhadores canavieiros em Pernambuco, defende a tese de que o ex-aluno de Louis Althusser e fundador da União da Juventude Comunista Marxista-Leninista (UJCML), na França, realizou uma investigação (enquête) distintamente maoísta sobre os trabalhadores rurais da cana-de-açúcar no Estado de Pernambuco, no Brasil, em 1979. O principal argumento do professor de Ciência Política da Universidade Pace de Nova York é que o cerne do método da investigação maoísta de Linhart é a apreensão da totalidade social e das condições objetivas e subjetivas necessárias à mobilização política e às lutas dos camponeses nordestinos, já que Linhart projetava “o desejo por uma China revolucionária no Brasil rural”. Em suma, como afirma Hoffman, a investigação de Linhart, “maoísta em seu método, foco social, estilo e desejo motivador”, tem sua importância atestada, pois, “permite apreciar melhor a complexidade do que recentemente tem sido chamado de jornada global do maoísmo; expande os parâmetros espaciais e temporais das histórias interligadas do maoísmo e da investigação militante; e enriquece o conceito de investigação maoísta, ao nos sintonizar com os papéis da memória e da imaginação”.
O capítulo de Emiliano Sánchez intitulado Néstor García Canclini y la pregunta por lo popular: entre lo estético, lo artístico y lo político se propõe a estudar o itinerário, as condições de produção e a intervenção intelectual do filósofo e
antropólogo argentino Néstor Canclini. Nessa esteira, Sánchez procura reconstruir e analisar as conceitualizações elaboradas por Canclini no que tange “‘ao popular’, em relação com seu itinerário intelectual, a pluralidade de contextos, espaços culturais e instituições acadêmicas nas que participou”, entre 1976 e 1990.
O quinto capítulo, de Fábio Ruela de Oliveira, O exílio de Florestan Fernandes no Canadá (1969-1972): trajetória de vida e experiência intelectual, propõe reconstituir as circunstâncias e a história do período de exílio do sociólogo Florestan Fernandes na Universidade de Toronto, a partir de bibliografias sobre o intelectual que tratam do tema e mesmo em testemunhos e cartas do próprio Florestan. O capítulo está dividido em cinco partes, a saber: o debate sobre o socialismo e o marxismo em Fernandes; o golpe militar, a ditadura e a aposentadoria compulsória em 1969; o exílio descrito pelo sociólogo; a produção intelectual relacionada ao período canadense e o seu retorno ao Brasil. A experiência de banimento de Florestan Fernandes pode ter apresentado diversos significados em sua obra, ou seja, uma formação como professor no estrangeiro, consolidando sua perspectiva teórico-crítica, o aprofundamento de seus estudos sobre a revolução, o marxismo, os intelectuais e a América Latina, e o reconhecimento das dificuldades do exílio.
Por fim, o capítulo de Rodrigo Davi Almeida As contribuições teóricometodológicas e políticas de Jean-François Sirinelli, de Jean-Paul Sartre e de Norberto Bobbio para a história, o conceito e a reflexão acerca da função social dos intelectuais. O texto mostra, a partir de Sirinelli, a possibilidade de estudo histórico dos intelectuais apesar dos desafios e das dificuldades inerentes ao ofício, dentre os quais, a própria definição do conceito. A contribuição de Sartre ao debate reside no fato de que ele demonstra como os técnicos do saber prático podem converter-se (em sentido laico) em intelectuais ao se associarem, sem reservas, às lutas do proletariado. Para o filósofo de Saint-Germain-de-Prés, a rigor, não há intelectuais de direita, mas somente intelectuais, que, por definição, são sempre críticos e de esquerda. Oposta é a posição de Bobbio, que concebe o intelectual como mediador, isto é, aquele que opera uma conexão entre o poder ideológico (exercido pelos “ideólogos” que realizam o consenso entre ideias divergentes e oferecem guias de ação, valores, ideais ou concepções de mundo) e o poder político (exercido pelos “expertos” que fornecem conhecimentos-meio). Eis porque Bobbio prefere a expressão “homens de cultura” ao termo “intelectuais”, que devem participar das lutas políticas e sociais do seu tempo, mas sem se deixarem alienar e monopolizar a verdade.

Como o leitor poderá observar, este livro mobiliza os esforços investigativos de autores que compartilham de uma mesma visão social de mundo, pois pensam a história como processo e movimento contraditório e incontornável das lutas de classes. Eis porque os capítulos que o leitor tem em mãos se afinam (de acordo com o feliz conceito de Michael Löwy) – em que pesem as especificidades temáticas, teóricas e de método de cada um deles – na crítica radical da sociedade burguesa, seja ela em seus aspectos (neo)liberais ou (neo)fascistas.

O organizador.

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