Gramática do design visual e tiras: multimodalidade e produção de sentidos
Publicado em 10 de junho de 2021.
Saber construir significados, socialmente, de forma a interagir com as pessoas e produzir novas formas de conhecimentos pela inter-relação entre o dado e o novo, é fonte de crescimento pessoal e social que gera constante e renovado prazer para as pessoas.
Para tanto, os interlocutores, como atores sociais e discursivos, precisam saber atuar em situações sociais, na medida em que as interpretam e as compreendem por meio das interações.
A obra Gramática do Design Visual e Tiras: multimodalidade e produção de sentidos objetiva tratar desse saber através da vertente Semiótica Social ou Sociossemiótica e da Análise Crítica do Discurso (ACD). Desde a década de 1980, a Análise Crítica do Discurso vem sendo difundida e aplicada no Brasil. Como se sabe, há diferentes linhas para se analisar o discurso, todavia, nesta publicação, a autora tem por objetivo apresentar a linha crítica da Análise do Discurso com a sua vertente Semiótica Social.
A ACD tem sido pouco divulgada entre nós. Como as demais linhas da análise do discurso, a ADC analisa textos concretos, curtos e longos de interação social; mas, caracteriza-se por uma visão crítica própria e específica para focalizar a relação existente entre a linguagem e a sociedade além da relação existente entre a própria análise e as práticas sociais e discursivas analisadas. Dessa forma, focaliza, de modo transdisciplinar, as relações existentes entre sociedade e discurso, tendo por ponto de partida a dialética entre o social e o uso intencional da linguagem: toda mudança nas práticas de linguagem é guiada por mudanças sociais e estas, ao mesmo tempo, modificam as práticas de linguagem que vêm sendo postas em uso.
A ACD é realizada por diferentes vertentes entre elas a Sociocognitiva, a Históricodiscursiva, e a Semiótica Social. De modo geral, a visão crítica das diferentes vertentes da ACD dá atenção à intertextualidade e à interdiscursividade para analisar a significação ideológica do modo sistemático pelo qual os textos se transformam em outros textos e os discursos em outros discursos.
Esta publicação, fundamentada na vertente Semiótica Social, trata da relação de complementaridade na produção de sentidos entre palavras e imagens no gênero multimodal tira, em especial as tiras brasileiras da Turma do Xaxado, que põe em uso privilegiado os textos multimodais que são produzidos com a combinação do verbal e o visual da realidade do nordeste brasileiro constituído pelo cartunista Cedraz.
De forma geral, o letramento esteve direcionado para o texto verbal; assim sendo, o texto multimodal passa a apresentar dificuldades para a construção de sentidos, durante a sua leitura. As autoras, nesta publicação, abrem perspectivas para diminuir essas dificuldades, ao analisar tais tiras pelo viés das pesquisas sóciossemióticas, discutindo-as com as categorias analíticas da Gramática do Design Visual.
Ao tratar da mudança social ocorrida da relação das semioses palavras e imagens pelas interações sociais, as autoras definem o texto multimodal como um produto do discurso, visto como uma ação, que combina o verbal com imagens e cores na formação da paisagem semiótica – esse entorno comunicativo que nos rodeia.
Anteriormente, os textos construídos com imagens e cores apresentavam um significado prescrito, ou seja, as imagens reproduziam o verbal. Com a mudança social, decorrentes do uso pelas pessoas das altas tecnologias, como celulares, sites etc., os textos multimodais são colocados em uso por modos semióticos que se inter-relacionam de várias formas e com diversas modalidades; assim, as representações verbais e visuais podem se equivaler, completar-se ou mesmo se contradizer. Logo, há uma natureza simbólica nas representações existentes nesses textos, decorrentes de relações providas pelos recursos semióticos.
Em outros termos, tais representações não são reais, pois o significado criado por um determinado recurso falseia a realidade, na medida em que é uma representação dela, decorrente de intenções e valores ideológicos e culturais de quem a representou e em qual situação. Dessa forma, as características gramaticais sintáticas das imagens combinadas com as do verbal são consideradas seleções significativas dentro do conjunto de possibilidades disponíveis nos sistemas gramaticais. Além disso, essas relações gramaticais funcionam ideologicamente, pois as representações contidas em tais seleções gramaticais são significativas e contribuem para a reprodução de relações de dominação, que a ACD objetiva denunciar.
No que se refere ao verbal, de forma geral, os linguistas críticos preocupam-se com o potencial ideológico do sistema de categorização das representações implícitas em determinados vocábulos, ou seja, com as maneiras particulares de “lexicalizar” a experiência e o modo pelo qual as estruturas gramaticais linguísticas organizam esses vocábulos em estruturas frasais.
No que se refere ao visual, esta publicação contribui para se entender que os modos semióticos, nos atuais textos multimodais, conforme Kress e van Leeuwen, inter-relacionam-se por três sistemas de significação: o valor funcional, a saliência e a moldura. Estar atento aos modos semióticos propicia conferir os diferentes valores e os distintos eventos contidos na sintaxe textual, pela relação entre o verbal e o visual, para a representação de pessoas e de coisas do mundo.
Assim, as autoras objetivam uma análise crítica dos textos multimodais e fazem uma revisão teórica e metodológica, a fim de propor que, além de mostrar “o que é” que está contido nas imagens situadas espacialmente no texto, por isso, buscam respostas às perguntas: 1. Como os participantes são representados? 2. Como as particpantes representados relacionam-se ao observador? 3. Como o verbal equivale, complementa ou contradiz o que é captado pelos sentidos, articulando as imagens, as cores e o verbal? 4. Que novos sentidos na relação dado-novo são produzidos no âmbito linguístico?
Andréia Honório da Cunha é professora concursada da rede pública estadual de São Paulo, preocupada com a disciplina Língua Portuguesa, com a qual atua. Atualmente é doutoranda pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), Bolsista Capes/Prosuc. Possui pós-graduação latu sensu em Língua Portuguesa pela faculdade D. Domênico em 1998. Possui graduação com licenciatura plena em Letras pela Universidade Católica de Santos - UNISANTOS - em 1996.
Atualmente, é professora efetiva da rede estadual de São Paulo. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Letras e Literatura Inglesa e Norte-americana. É membro do grupo de Estudos Retóricos e Argumentativos da PUC/SP - grupo ERA e o grupo de pesquisa em Educação Linguística da PUC/SP - GPEDULING.
Dentre as várias contribuições que esta publicação traz para nossos professores e alunos de língua portuguesa, situo duas que considero principais. A primeira é relativa à apresentação teórica e metodológica da Semiótica Social, explicitando as bases fundamentais da Análise do Discurso Crítica na perspectiva social; a segunda é o tratamento dado ao texto multimodal, privilegiado como a Gramática do Design Visual – GDV - e a produção dos sentidos partilhados interacionalmente na produção de novos sentidos.
Por fim, Andréia Honório da Cunha contempla a relação entre linguagem e sociedade e abre perspectivas para o letramento de textos compostos com multimodalidades, de forma a oferecer uma grande contribuição para o ensino do léxico e do texto, ao propor como o texto, por ser composto com o dado e o novo, de forma a oferecer informação nova, propicia pelo dado a designação do referente textual por vocábulos dicionarizados e este mesmo vocábulo vir a ser ressemantizado, devido ao novo.
Regina Célia Pagliuchi da Silveira
Gramática do design visual e tiras: multimodalidade e produção de sentidos
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DOI: 10.22533/at.ed.838211006
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ISBN: 978-65-5983-183-8
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Palavras-chave: 1. Semiótica. 2. Gênero de tiras. 3. Gênero multimodal. 4. Sociossemiótica. 5. Gramática do Design Visual. 6. Paisagem semiótica. I. Cunha, Andreia Honório da. II. Silveira, Regina Célia Pagliuchi da. III. Título.
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Ano: 2021