Ebook - Comunicação: Mídias, temporalidade e processos sociais 3Atena Editora

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1. Comunicação. 2. Mídias. I. Rodrigues Netto, Miguel (Organizador). II. Título.

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Comunicação: Mídias, temporalidade e processos sociais 3

Publicado em 28 de setembro de 2022.

Como saber se uma obra trata do tempo presente?! Como identificar os processos sociais e culturais que afetam e são afetados pelos atores sociais deste tempo?! Pode haver diversas maneiras, mas certamente observar e analisar as mídias de uma época e as discussões a respeito delas é uma das formas, para se conhecer, tanto a temporalidade desde onde se fala, quanto os processos sociais e culturais imbrincados neste contexto. 
Como ressalta o professor e pesquisador da cibercultura André Lemos, em uma entrevista para a TVUFBA (2005), as capacidades cognitivas dos seres humanos são, em grande medida, fruto de suas interações com as tecnologias, desde as mais remotas como o fogo, ou as pedras até as mais recentes como os aplicativos ou o metaverso, por exemplo. Portanto, com o correr do tempo, os avanços tecnológicos são incorporados de tal forma à vida social, que passam a se constituir, também, como textos culturais. Mas, como lembra o mesmo professor, o desenvolvimento ferramental da mídia não é sinônimo de que as relações humanas se tornem menos relevantes, pelo contrário, assim como o filósofo Zigmund Baumann (2011), Lemos (2005) diz que, quanto mais conectada a pessoa esteja, maior é sua busca por estabelecer relações com outras pessoas. 
Essas mudanças nas estruturas sociais acontecem prioritariamente via suportes midiáticos, com destaque para os celulares, um dos ícones mais representativos da cultura da convergência, “onde as velhas e novas mídias colidem, onde a mídia corporativa e mídia alternativa se cruzam, onde o poder do produtor de mídia e o poder do consumidor interagem de maneiras imprevisíveis” como explica Jenkins (2009, p. 29). Aliás, estes aparelhos são os “entes” mais próximos e familiares de cada pessoa na sociedade contemporânea. Como lembra Bauman (2011, p. 06), esses aparelhos são carregados “no bolso, dia e noite, para onde quer que nos desloquemos”, transformando-se, deste modo, em espécies de próteses contemporâneas, porém com muito mais recursos do que qualquer membro humano, se visto isoladamente. 
Mas ainda que estes aparelhos sejam os “entes” mais próximos e familiares da grande maioria da população, ainda não substituíram as relações humanas, que continuam a existir, mesmo via ciberespaço. Como coloca Adriana Souza e Silva (2004), as relações sociais e interações humano-humano tendem inclusive a aumentar após a ascensão da internet móvel, principalmente via celular, com os quais podemos estar em qualquer lugar. E a adesão aos aplicativos ou participações em redes sociais nos demonstram isso, pois a grande maioria deles surge para movimentar ou proporcionar relações entre pessoas, mesmo num tempo em que ninguém tem tempo a perder.  
E, ainda que vejamos no cinema relações afetuosas entre humano e máquina, em filmes como: O Homem Bicentenário (CHRIS COLUMBUS, 1999), Her (SPIKE JONZE, 2014), Ex-Machina: Instinto Artificial (ALEX GARLAND, 2015), dentre outros, na atual conjuntura, a grande busca da humanidade ainda é por ser vista, notada e se relacionar com pessoas. Aliás, como salienta Jenkins (2009), na atualidade as produções são no geral colaborativas, sendo, portanto, possível inferir que as trocas são demasiado importantes para a construção dos saberes. Portanto, mesmo que se queira aprofundar os laços afetivos e os avanços tecnológicos contribuem para isso, na medida em que proporcionam cada vez mais acesso a relacionamentos; as pessoas, por outro lado, tem sempre menos tempo para alimentar cada relação, pois estas agora encontram-se na casa das centenas ou até milhares de conexões.  
No caso do aplicativo Whatsapp, por exemplo, ao qual eu dediquei já certo tempo de estudo, seus criadores Brian Acton e Jan Koum (2012), em postagem no Blog do WhatsApp, falam sobre a vontade de desenvolver algo que deixasse os usuários acordados e que simultaneamente fosse aquilo pelo que as pessoas anseiam de manhã. Assim, o aplicativo surgiu como uma alternativa a mensagens do tipo SMS, que além de terem custos de envio, não dispunham das mesmas inovações ofertadas pelo WhatsApp, como envio de fotos, mensagens de áudio e vídeo. Eles tinham tanta razão, que o aplicativo atualmente é o mensageiro mais popular entre usuários de smartphones do mundo. Assim como tantos outros avanços tecnológicos, este surgiu para facilitar a comunicação entre as pessoas, afinal “custo e distância nunca deveriam evitar que as pessoas se conectassem com seus amigos e família” (Blog do Whatsapp, 2014) e é claro que pelo menos de início, de forma ideológica e às vezes utópica estas são criadas para serem compartilhadas “nós não vamos descansar até que todo mundo, onde quer que estejam, possam desfrutar desta oportunidade.” Deste modo, à medida que o tempo avança, as novas tecnologias são incorporadas de tal forma na vida social, que passam também a constituir os textos culturais da sociedade. 
No caso específico do WhatsApp sua relevância social ganhou mais notoriedade e tornou-se consubstanciada ao alcançar a marca histórica de 1bilhão de usuários, em fevereiro de 2015. Tornando-se um dos poucos serviços que conectam esta quantidade de pessoas. O post “Um bilhão”  datado de 01 de fevereiro de 2016 disponível no Blog do WhatsApp diz "(...) quase uma em cada sete pessoas na Terra usa WhatsApp todo mês para estar em contato com seus amados, amigos e família". O mesmo post apresenta diversas situações sobre o uso ou inserção do WhatsApp “Seja ao compartilhar informações vitais durante um desastre natural, uma situação emergencial de saúde, ou ao marcar um encontro, começar um pequeno negócio, comprar um anel de noivado, ou simplesmente na esperança de encontrar uma vida melhor” apresentando-o como uma ferramenta facilitadora e propagadora da comunicação e consequente colaboração humana. A partir desta colocação é possível pensar neste aplicativo, como algo ligado e projetado para o tempo do lazer/fruição, porém, o aplicativo pode servir paradoxalmente como uma ferramenta capaz de “aumentar” o tempo que as pessoas dedicam ao trabalho.
A sociedade contemporânea tem seus meios de pressionar os cidadãos para que fiquem on-line 24horas, seja para o trabalho ou para o lazer/fruição. Deste modo, o telefone celular, objeto que há algumas décadas atrás não fazia parte do cotidiano da maioria das pessoas, hoje assume papel de protagonista e segue o tempo todo junto (literalmente), da imensa maioria, do nascer a muito depois do pôr-do-sol. O que faz com que os recados enviados pelo WhatsApp sejam realmente mais eficientes, ou mais rapidamente vistos, do que os transmitidos por grupos de Facebook ou pelos antigos SMS. Para uma sociedade ansiosa, construída sob a égide da descontinuidade, da volatilidade e da fluidez, uma função que certifique a entrega e leitura das mensagens enviadas vem bem a calhar. Talvez com isso em mente e tendo como plano de fundo a questão de “economia” de tempo, a equipe do aplicativo lançou os tiques azuis, que aparecem do lado das mensagens.
    É navegando por esta enseada que o livro “Comunicação: Mídias, temporalidade e processos sociais 3” vai desenhando sua rota e dialogando com questões sociais prementes da contemporaneidade, dentre elas: a busca por resgatar o convívio, entre os discentes/estagiários do Jornal Laboratório Ponto de Partida (JPP), fortemente abalado pela Pandemia de Covid19; a representação da vítima de feminicídio nas reportagens do Jornal Nacional; o uso de soft power pelo exército sul coreano, que importou estratégias da indústria do K-pop para transformar esse serviço em uma experiência cultural geradora de renda e propagandas positivas para as forças armadas, quando o ídolo Park Chanyeol, membro do grupo EXO, realizou seu alistamento; a explanação sobre como a cultura adquire e organiza o conhecimento em um determinado período histórico; a análise de promoção das marcas inseridas em uma narrativa seriada;  as dimensões textuais, a prática discursiva e social que envolve o Superman, personagem ideológico, que não existe concretamente, mas que possui um discurso real e que pode inspirar pessoas e ainda, o paradigma estabelecido a despeito da necessidade de comunicação e transmissão de saberes entre as comunidades rurais, populares, camponesas e ou afrodescendentes com a comunidade científica, evidenciando o papel da comunicação nos processos de Apropriação Social do Conhecimento.  
    Todas essas questões colaboram para a construção desta teia complexa e repleta de nós e emaranhados, que vai se consolidando como o próprio tecido social. Assim, na medida em que, a sociedade vai interagindo e modificando os discursos, as práticas e as epistemes geram novos sentidos para as tantas discussões, análises e observações que são devidamente amarradas e orquestradas pela batuta do pesquisador Miguel Rodrigues Netto, organizador da presente obra. 
Desta maneira, o livro adquire ritmo cadenciado e as pesquisas aqui apresentadas traçam o panorama de um presente contínuo, que vê seu passado com olhos críticos, já que este é um processo contínuo de interpretações construídas pelo historiador que se debruça sobre o contexto e se esforça em desvendá-lo (FOUCAULT, 1999). E, de um futuro composto por um misto de preocupação e esperança. 
Preocupação pelos tipos de relação que vem se estabelecendo, ou seja, a superficialidade, ou como preferia Bauman (2011), a liquidez das relações. E esperança porque a contemporaneidade vai adaptando o que era visto como desvantagem e agregando sempre novas perspectivas, olhares e ideias, adicionando soluções, como demonstram alguns exemplos que serão apresentados no decorrer do livro, dentre elas: a saída encontrada pelos responsáveis pelo Jornal Laboratório Ponto de Partida (JPP), do curso de Jornalismo da Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO) com o uso do aplicativo Discord para o gerenciamento das rotinas de produção do mesmo; o uso de software para prevenção ao uso de drogas, ou ainda, como sonhara Pierre Levy, lá atrás nos primórdios da cibercultura, a comunicação como ponte para apropriação social do conhecimento.
É uma obra panorâmica sobre a sociedade contemporânea, que abarca discussões e reflexões para uma gama ampla e complexa de questões. Com perspectivas críticas que podem contribuir para a construção de um futuro mais equilibrado para a humanidade, sobretudo a partir da comunicação mais equitativa e reflexiva. 

Profa. Dra. Aline Wendpap Nunes de Siqueira
Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea - ECCO/UFMT
Grupo de Estudos em Cinemas e Audiovisuais - GECAS CNPq/UFMT

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Comunicação: Mídias, temporalidade e processos sociais 3

  • DOI: 10.22533/at.ed.570222709

  • ISBN: 978-65-258-0657-0

  • Palavras-chave: 1. Comunicação. 2. Mídias. I. Rodrigues Netto, Miguel (Organizador). II. Título.

  • Ano: 2022

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