Considerando o contexto de leitura multidisciplinar da Educação Básica e
a importância da reflexão sobre gêneros textuais diversos, dos quais se destacam
os relacionados às novas tecnologias midiáticas e ao campo cultural-artístico, o
e-book Artes e mídias na sala de aula: leituras e propostas didáticas para a
Educação Básica apresenta proposições didáticas atuais, voltadas para práticas
de leitura de objetos artísticos, culturais e midiáticos na Educação Básica, como
canção popular, audiovisual, literatura, artes plásticas, games, séries, posts de
redes sociais, etc., considerando os Ensino Fundamental, Médio e Educação de
Jovens e Adultos, tendo como como público-alvo professores que atuam nesses
segmentos.
A proposição didática, cerne de cada capítulo, destaca, a partir de um
quadro-síntese, o segmento escolar a que se refere, componente curricular e área
de conhecimento acionados e o objeto cultural e/ou midiático em destaque. Cada
autor participante do e-book apresenta um texto que considera a proposta acima
a partir das perspectivas teóricas e/ou críticas de sua preferência, mobilizadas
por meio da leitura de um objeto do campo artístico-cultural e/ou midiático ou da
articulação entre eles, pensado, sempre, em contexto de sala de aula.
No capítulo Poesia e resistência na formação de leitores dos anos
finais do Ensino Fundamental, Sheila Oliveira Lima trazendo, do ponto de
vista teórico-crítico, “reflexões amparadas em Colomer (2007), Pinheiro (2019),
Rouxel (2012) e Lima (2016) acerca do trabalho com poesia na escola, apresenta
uma proposta de atividade de leitura de poemas de Chico Lopes e de Eugênio
Ramos Gianetti.
Com enfoque centrado na valorização da literatura afro-brasileira
contemporânea, Ana Paula Teixeira Porto e Luana Teixeira porto, no capítulo
Literatura afro-brasileira na sala de aula: fruição, debate crítico e formação
cidadã, oferecem reflexões sobre como essa literatura se insere na sala de aula
e apresentam uma sugestão didática de como explorar conto em um viés crítico,
oportunizando o letramento literário, associado a produções textuais variadas
que se circunscrevem na seara do letramento digital.
Ivana Ferrante Rebello e Rita de Cássia Dionísio Santos apresentam
o capítulo A biblioteca escola e o livro literário: espaços (com)fabulados,
buscam refletir sobre a expansão do espaço de leituras e linguagens, deslocando
a leitura da sala de aula e dos espaços tradicionais, propondo estratégias de
“contação de histórias”, performances e expressões corporais como novas
metodologias da prática da leitura em sala de aula.
No texto Paralelismos entre a poesia e as artes plásticas: Carlos
Drummond de Andrade e Oswald Goeldi, Jorge de Lima e Marc Chagall,
Luciano Cavalcanti oferece ao professor de Literatura do Ensino Médio,
particularmente do terceiro ano, uma estratégia para a leitura comparativa
entre poesia e artes plásticas a partir de um exercício analítico, que se apoia,
metodologicamente, em uma abordagem homológica, na qual se destaca a
semelhança estrutural entre as obras.
Katia Oliveira, no texto O fotógrafo espanhol: a memória
concentracionária da Segunda Guerra Mundial em sala de aula, partindo
das narrativas fílmicas e das fotografias preservadas por Francesc Boix, propõe
uma sequência didática que aborda de maneira interdisciplinar a Segunda
Guerra Mundial, objetivando discutir, por um lado, as relações entre história e
memória, e por outro, aquelas entre a representação cinematográfica, fotográfica
e narrativa, entrecruzando o olhar historiográfico e a representação artística do
passado.
Fomentar discussões acerca de questões relacionadas à ditadura
militar, por meio da leitura do conto “O poço”, do escritor Caio Fernando Abreu,
correlacionando-o ao contexto social e histórico vivido pelo autor, é a proposta
apresentada por João Massotti, no capítulo Literatura e ditadura na escola:
discussões sobre a ditadura militar brasileira a partir da leitura do conto
"O poço", de Caio Fernando Abreu. O pesquisador propõe a exploração de
tecnologias digitais do processo de leitura, de forma a inter-relacionar a formação
leitora com inovação na sala de aula, sem, contudo, colocar o texto literário em
segundo plano.
No capítulo Na sala de aula com Machado: uma experiência (de
leitura) com o conto “Confissões de uma viúva moça”, Cilene Pereira propõe
uma leitura do conto citado, publicado em 1865 por Machado de Assis no Jornal
das famílias, com o objetivo de revelar as nuanças da escrita machadiana e de
como o autor trata a questão do gênero feminino, rompendo com alguns valores
da época, a fazer com que sua personagem se torne sujeito de sua própria
escrita. Nesse percurso de leitura, a autora destaca entendimento do suporte no
qual foi publicado, um jornal conservador da época voltado à família brasileira, e
como isso dimensiona melhor a leitura do texto machadiano, e sua relação com
a tradição literária, particularmente do romance epistolar e do folhetim.
Reflexões acerca dos discursos de ódio construídos e disseminados
em redes sociais é o ponto central da abordagem de Elisângela Bertolotti no
capítulo “Dislike no preconceito”: discursos de ódio em rede social como
elemento para prática mediadora de leitura. A autora mostra relações
entre esses discursos e marcas de preconceito a grupos específicos, como
LGBTQIAP+, negros, mulheres, propondo uma discussão, no Ensino Médio,
sobre a necessidade de combater esse tipo de produção na internet.
Nosso intuito, com esta obra, é propiciar a leitores, pesquisadores e
professores possibilidades de abordagem de temas relevantes para a formação
humana e cultural que inter-relacionem conteúdos e habilidades essenciais que
norteiam a atuação em sala de aula.