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Acompanhei o percurso universitário de Dalton Demoner Figueiredo desde sua chegada no mestrado. Jovem vindo de terras distantes Dalton trazia na bagagem leituras no campo da psicanálise e, também, estava carregado de desejo de saber.
Pude testemunhar a força com que ultrapassou inúmeros obstáculos teóricos e clínicos sempre ouvindo os mestres e voltando ao texto para mais uma volta e outra ainda.
Dalton havia sido mordido pela psicanálise e estava tomado, entusiasmado pelo que escutava e apreendia do inconsciente de seus pacientes, em especial um que lhe abriu as portas para entender melhor as questões da sexualidade no ser de fala.
Escutar esse primeiro paciente, esse um que fez enigma para o autor, lhe suscitou o desejo de pesquisa que pode endereçar à Universidade e assim formalizá-lo. Sua pergunta inicial o que é um travesti? atravessou sua vida e pesquisa acadêmica por quase sete anos entre mestrado e doutorado.
Nas palavras do autor: “apresento, defendo e compartilho a curiosidade infantil em saber o que era: Homem ou mulher? Ao ver um travesti cabelereiro em minha cidade”.
Leandro embalado em um corpo de Leandra ou vice-versa chega ao Serviço de Psicologia Aplicada da Universidade com a demanda de resolver seu problema: ser uma mulher num corpo de homem. Assim encontra Dalton para quem o travestismo sempre provocou um desejo de saber do que se tratava.
O encontro com a clínica do travestismo e a consequente pesquisa do tema foram para Dalton “um processo subjetivo do qual ele sai transformado, travestido de saber e de questões .
O texto que ora apresento ao leitor faz um percurso muito bem orientado que vai da questão cultural às leis do inconsciente, da Mulher que não-existe à mascarada e ao semblante; da teoria sobre a sexualidade de Freud ao conceito lacaniano de Outro e de objeto pequeno a.
Os autores de outros saberes também estão presentes no texto promovendo uma interlocução com a psicanálise; como, por exemplo, Judith Butler autora da teoria Queer , autores de texto sobre o feminismo, e ainda a literatura muito bem representada pelo poeta Manoel de Barros.
Estamos na aurora do no século 21, e ainda persiste na cultura a homofobia, quando desde os Três ensaios sobre a teoria da sexualidade em 1905 sabemos com Freud que a sexualidade é infantil e perversa polimorfa e que a heterossexualidade é um sonho normativo de uma sociedade que se assusta com as diferenças subjetivas de cada um.
O valor do texto de Dalton está tanto na denúncia da segregação sofrida pelos sujeitos que se travestem quanto na tentativa de teorizar a sexualidade do falasser no dizer de Jacques Lacan ou do sujeito do inconsciente nas palavras de Freud, visto que é aqui que algo sempre escapa.
O livro é uma leitura indispensável para os interessados no assunto, mas como disse o próprio autor e aí está outro valor do texto “é uma pesquisa em andamento, uma primeira aproximação de um campo inesgotável de saber, o campo da sexualidade humana.
Boa leitura.
Elisabeth da Rocha Miranda