Produto - Fitoterapia baseada em evidências e experiências aplicada à prática clínicaAtena Editora
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CÓD. 978-65-258-2372-0

Fitoterapia baseada em evidências e experiências aplicada à prática clínica

R$ 72,00

Autoras: Angela Erna Rossato, Sílvia Dal Bó e Vanilde Citadini-Zanette
 

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A Fitoterapia nos cenários de práticas de saúde e no cotidiano familiar/
comunitário se consolida dia a dia, o que denominamos Fitoterapia Contemporânea
baseada em evidências, experiências e equívocos. Pois, para além dos órgãos/
diretrizes governamentais/institucionais, agências reguladoras, dos ensaios
clínicos duplo-cego randomizados, da formação acadêmica na lógica cartesiana
de causa-efeito e papers em periódicos de alto impacto, constata-se que em
relação ao uso de plantas medicinais e produtos de origem vegetal, no contexto
comunitário e dos profissionais de saúde, os saberes populares, tradicionais
e científicos se entrelaçam anonimamente. Estes saberes coabitam espaços
e práticas de saúde, na maioria das vezes privilegiando os efeitos benéficos
em detrimento dos aspectos de segurança. Aliado ainda ao que chamamos de
Fitoterapia Pirata e, esta integração se acessada e utilizada com critérios, pode
ser extremamente benéfica, mas pode ser também extremamente prejudicial, se
acessada e utilizada de forma equivocada.

Certamente integrar saberes populares, tradicionais e científicos
na prática clínica é um desafio a ser superado, bem como coibir práticas
infundadas, quebrar velhos paradigmas e atuar dentro da legislação sanitária e
profissional. Com base nas atividades de pesquisa/ensino/extensão foi possível
observar e experienciar que a busca de informações sobre plantas medicinais
para a prática clínica da Fitoterapia Oficial é por vezes limitada, pulverizada,
de certo modo truncada, difícil e trabalhosa em especial para aqueles que não
tem base conceitual e teórica sobre a prática, ficando literalmente perdidos no
meio de tanta informação. Além disso, aliar e integrar as informações populares/
tradicionais provenientes de fontes seguras e confiáveis sobre as espécies de
plantas medicinais para a prática clínica se revelou ainda mais difícil.

Esta dificuldade se projeta ao trabalhar, orientar, onde procurar, o que
responder diante de tantos questionamentos, a exemplo de perguntas de um
grupo de estudantes durante uma tarde do estágio de Farmácia Clínica do Curso
de Farmácia da UNESC.

Professora, minha paciente toma chá de salsa, para infecção
urinária e quer saber se pode continuar! Meu paciente, adora
chás, mas procura tudo na internet, o que falo para ele? Minha
paciente sofre de ansiedade e não quer usar medicamentos tarja
preta, quer algo mais natural, como orientar? O meu paciente é
diabético, ele toma os medicamentos que o médico prescreveu,
mas também usa a insulina vegetal, está apresentando tonturas,
será que tem interação medicamentosa? Meu paciente comprou
um “medicamento” de origem natural na internet, que diz que cura
o diabetes e previne/cura o câncer [...].


Também foi possível observar que, na atualidade, a prática mais comum
na busca das informações do uso medicinal das plantas, independente da
formação acadêmica ou não, é o acesso às mídias sociais e sites de busca,
usando como descritor de pesquisa o nome popular da planta e a patologia/
enfermidade a ser tratada. As informações são acessadas e extraídas das mais
variadas fontes, majoritariamente sem análise crítica.

Concomitante à falta de criticidade na busca e acesso às informações,
a fitoterapia enfrenta outro desafio: o saber popular de raiz nas comunidades
está se perdendo e se fragmentando frente ao advento dos fenômenos de
urbanização, globalização acirrada e facilidade de acesso às informações via
internet. Além disso, o conhecimento científico também é colocado em xeque
frente a infinidades de blogs e sites de todos os tipos que divulgam informações
terapêuticas, sem citar a fonte de informação e, muitas vezes, atreladas à
comercialização de produtos de origem vegetal milagrosos, que constitui uma
verdadeira panaceia.

Recordo vivamente, na minha primeira entrevista falando sobre plantas
medicinais, que alertei sobre os efeitos hepatotóxicos de uma determinada
espécie vegetal, descrito em bibliografias, artigos científicos e centros de
farmacovigilância em nível nacional e internacional e, ao final da entrevista,
continuei ouvindo o programa e a entrevistadora conclui assim: “Bom pessoal,
a professora falou [...] mas se até a atriz global XYZ usa o chá da planta e tem
produtos a base da planta em vários sites, não deve fazer tão mal assim, né?!”

Também recordo do depoimento triste de uma senhora conhecedora de
plantas medicinais: “Fui compartilhar meu conhecimento prático de uma planta
com um grupo de pessoas e disseram que não precisava, pois podiam acessar
na internet. Ainda disseram que aquilo que falei era diferente do que estava na
internet, como se minha experiência não valesse de nada”.

Somado à desvalorização provocada pelas informações acessadas na
rede mundial de computadores e veículos de comunicação, sem o devido critério,
ainda temos que considerar a desvalorização/depreciação do conhecimento
popular, a hegemonia dos medicamentos sintéticos, enquanto recurso terapêutico,
além da vigência do modelo biomédico na formação dos profissionais de saúde.

Aliado ainda a um dos principais empecilhos para a implantação e consolidação
da fitoterapia no SUS, que é a formação acadêmica incipiente dos profissionais
de saúde sobre o tema, que muitas vezes pecam pelo desconhecimento e/ou
desinformação.

Para que a fitoterapia aconteça na prática clínica é necessário integrar os
saberes objetivando potencializá-la enquanto prática de saúde nos princípios da
integralidade do SUS e da clínica ampliada1 e em consonância com a Política
Nacional de Educação Popular em Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde
(PNEPS-SUS). Para isso consideramos vital que os atores sociais, usuários e
profissionais de saúde, conheçam o arcabouço legal, reconheçam e utilizem as
melhores fontes de evidências científicas e/ou baseada em experiências para o
uso de plantas medicinais e fitoterápicos advindo dos saberes/conhecimentos
popular, tradicional e científico.

Devem integrá-los quando necessário e oportuno com vistas a ampliar o
olhar sobre as plantas medicinais, conhecê-las por inteiro, e acolher a ecologia
dos saberes em prol do bem-estar do paciente e da comunidade. Também devem
ter a capacidade de identificar e coibir práticas/condutas que descredibilizam a
fitoterapia enquanto prática de saúde e coloquem em risco a saúde do paciente,
especialmente as fake-news e os produtos irregulares disponíveis no mercado.

Nesta obra apresentamos modelo de busca e sistematização de
dados para a prática clínica, denominado Fitoterapia Baseada em Evidências
e Experiências aplicada à Prática Clínica, integrando saberes populares,
tradicionais e científicos em consonância com a legislação nacional, RDC
26/2014 da ANVISA, que estabelece os critérios para validação das espécies e
dos usos medicinais como fitoterápico.

Esta sistemática objetiva potencializar a fitoterapia na Atenção Primária à
Saúde, ampliar o olhar sobre as Plantas Medicinais integrando a diversidade de
saberes, pois somente assim é possível conhecer a planta na sua totalidade e
não apenas uma fração dela. No modelo as indicações terapêuticas e as formas
de uso que se enquadram na Fitoterapia Oficial e aquelas com base no uso
popular são apresentadas de forma explícita e sistematizada, visando facilitar a
prática clínica e a prescrição/orientação com segurança.

A divisão não tem o intuito de valorizar a Fitoterapia Oficial em detrimento 
da Fitoterapia Popular, afinal os usos validados tiveram sua origem no
conhecimento popular. Mas compreendemos que se quisermos sensibilizar os
profissionais para a prática clínica da fitoterapia esta categorização/divisão se
faz necessária.

O modelo, Fitoterapia baseada em Evidências e Experiências aplicada
à Prática Clínica, é fruto da minha Tese de Doutorado no Programa de Pós
Graduação em Ciências Ambientais da UNESC e se originou e consolidou
junto ao Grupo de Extensão e Pesquisa em Assistência Farmacêutica (GEPAF)
e ao Grupo de Extensão e Pesquisa em Plantas Medicinais (GEPPLAM),
ambos da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), em especial
nas atividades com as Agentes da Pastoral da Saúde da Diocese de Criciúma,
Santa Catarina, profissionais de saúde e na elaboração dos materiais técnicos
advindos dos projetos de extensão Fitoterapia Racional: Aspectos Taxonômicos,
Agroecológicos, Etnobotânicos e Terapêuticos e Quinta do Chá: Troca de Saberes
sobre Plantas Medicinais na Atenção Primária à Saúde. Também contribuíram
para a consolidação do modelo os projetos de pesquisa, atividades de ensino,
orientação de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) e com destaque ao
estágio em Farmácia Clínica vinculado ao Curso de Graduação de Farmácia da
UNESC.

A obra está dividida em cinco capítulos:

Capítulo 1: Abordagem teórica sobre a problematização e o contexto da
Fitoterapia Contemporânea baseada em evidências, experiências e equívocos,
seus aspectos históricos, culturais e conceituais. Aborda a relevância do tema,
complexidade e as diferentes interfaces da fitoterapia na atualidade, quais sejam:
Popular, Tradicional, Científica e Pirata, classificando as fontes de informação
segundo critérios de qualidade, efetividade/eficácia e segurança aplicada a cada
contexto. Neste capítulo também foi contextualizado que os saberes não são
rivais, mas complementares, pois o conhecimento científico, de forma integrada
ao conhecimento popular/tradicional, contribui para qualificar, potencializar e
ampliar o olhar sobre a fitoterapia na prática clínica e de autocuidado em saúde.

Capítulo 2: Apresenta e descreve o modelo de busca e sistematização de
dados denominado Fitoterapia baseada em evidências e experiências aplicada
à prática clínica. Fornece informações para elucidar os aspectos relevantes
da fitoterapia, conceitos e termos técnicos que repercutem diretamente no
uso seguro das plantas medicinais e dos fitoterápicos, bem como o acesso,
direcionamento e interpretação das fontes de informação. Para as indicações
terapêuticas/alegações de uso são apresentadas quatro opções de busca e
sistematização de dados: Validação Direta - Nível 1; Validação Direta - Nível 2,
Validação Indireta e Validação Popular, que possibilitam a escolha e aplicação de
uma ou mais formas de validação, de acordo com os paradigmas profissionais e/
ou pessoais. Além disso, são apresentados a forma de abordar e sistematizar os
aspectos de segurança no uso das plantas medicinais e fitoterápicos.

Capítulo 3: Aplica e demonstra a Validação Direta - Nível 1 para
indicações terapêuticas das espécies medicinais tendo como pano de fundo
plantas medicinais para o sistema respiratório. Nesta validação o ponto alto
são os usos terapêuticos aprovados pela ANVISA como fitoterápico. Aplicando
a Validação Direta - Nível 1, obtivemos para o sistema respiratório 47 espécies
validadas oficialmente, com perfil farmacológico para onze situações clínicas. As
espécies apresentam múltiplos mecanismos de ação elucidados pelas pesquisas
que se complementam e que reforçam as indicações propostas, impensáveis
para os fármacos sintéticos, demonstrando a robustez e a potência da fitoterapia
para este sistema.

Capítulo 4: Aplica e demonstra a Validação Direta - Nível 2 e a Validação
Indireta para indicação terapêutica/alegações de uso utilizando como exemplo
Mikania glomerata Spreng., espécie vegetal nativa do Brasil. A Validação Direta
- Nível 2 e a Validação Indireta consiste em acessar fontes de informação
preconizadas pela ANVISA como sendo obras de referência para validar as
espécies pelo uso tradicional. Para Mikania glomerata a Validação Direta - Nível
2 e a Validação Indireta, revelaram sua potencialidade como agente terapêutico
na medicina tradicional/popular, pois além do uso oficial da espécie como
broncodilatador e expectorante, possui 21 alegações de uso medicinal para oito
sistemas orgânicos, demonstrando a riqueza terapêutica da espécie da nossa
biodiversidade e a sabedoria do povo brasileiro. No entanto, destas alegações
somente quatro atenderam os critérios da Validação Indireta quanto ao número de
bibliografias e nenhuma na Validação Direta- Nível 2, necessitando de estudos,
pesquisas complementares e/ou levantamentos etnobotânicos que atendam aos
critérios da validação pelo modelo tradicional.

Capítulo 5: Aplica e demonstra o modelo completo para a busca e
sistematização de dados, Fitoterapia baseada em evidências e experiências
aplicada à prática clínica, tendo como exemplo a elaboração da monografia
para a espécie nativa da região Mediterrânea e cultivada no Brasil, Thymus
vulgaris L. O Capítulo inicia com introdução e posteriormente é apresentada a
monografia, como um documento independente, que aborda: Nome Científico,
Farmacógeno, Compostos químicos; Indicação Terapêutica/Alegação de Uso
segundo a Validação Direta - Nível 1; Validação Direta - Nível 2, Validação Indireta
e Validação Popular; Extratos/Formas farmacêuticas e Posologia; Aspectos de
segurança e restrições de uso; Registro na ANVISA, dentre outras informações
relevantes e aplicadas ao modelo.

Ao final do capítulo são apresentadas considerações finais sobre o
levantamento de dados para a espécie. Ao aplicar o modelo completo, para
Thymus vulgaris, todos os recursos da planta, enquanto opção terapêutica, foram
revelados, ressaltando sua potencialidade, múltiplos mecanismos ao integrar e
conectar a diversidade de saberes. Consequentemente, expande horizontes e
amplia o olhar sobre a espécie, mas também revela suas limitações, restrições
de uso e cuidados.

O modelo, Fitoterapia baseada em evidências e experiências aplicada à
prática clínica, se utilizado, possibilita a elaboração de documentos/informações
acessíveis e confiáveis. Estes poderão ser usados como norteadores de ações e
condutas clínicas, tanto no setor público quanto privado, nas práticas individuais
e coletivas de saúde, ressignificando saberes na construção e consolidação de
tratamentos emancipatórios, solidários e ecológicos de cura, além de instigar
futuras pesquisas.

Desejamos uma ótima leitura e que desperte em você o amor, a
compreensão e o respeito pelas plantas medicinais, bem como um sentimento
de gratidão, especialmente em relação às mulheres. Elas têm sido fundamentais
na preservação, construção e renovação do conhecimento ancestral sobre o uso
medicinal das espécies vegetais, desde os primórdios da humanidade até os
dias atuais.


Angela Erna Rossato


1 Clínica ampliada é uma ferramenta teórica e prática cuja finalidade é contribuir para uma abordagem
clínica do adoecimento e do sofrimento, que considere a singularidade do sujeito e a complexidade do
processo saúde/doença. Permite o enfrentamento da fragmentação do conhecimento e das ações de
saúde e seus respectivos danos e ineficácia (Brasil, 2013).


  • Largura: 23 cm

  • Comprimento: 16 cm

  • Tipo de Papel (Miolo): Pólen soft

  • Tipo de Papel (Capa): Triplex

  • Gramatura (Miolo): 80g/m²

  • Gramatura (Capa): 250g/m²

  • Cores do Miolo: Preto e branco

  • Orelha e Marcador: Não

  • Tipo de Acabamento: Lombada costurada

  • Número de Páginas: 158

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