Produto - Ensaios para uma geopolítica críticaAtena Editora
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CÓD. 978-65-258-2536-6

Ensaios para uma geopolítica crítica

R$ 64,29

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Para que a geopolítica? Se me permitisse levar pela paixão mais do que pela necessidade e responsabilidade, talvez me dedicasse a qualquer outro tema, talvez me dedicasse muito mais a arte, a estética, a filosofia da contemplação, as coisas boas que existem no mundo. Fato é que discutir geopolítica é mais do que necessário. Seria impossível compreender o mundo que nos cerca sem recorrer a este importante conhecimento.
De fato, cada sujeito é um ponto na superfície terrestre, hoje cercado por todos os outros pontos. A respeito dos conflitos que vemos ocorrer nos últimos tempos, dos quais nossa mídia garante maior destaque a certos casos como a questão Rússia x Ucrânia ou Israel x Palestina, devemos compreender que são questões que nos mobilizam como humanidade. Daí ser importante se posicionar perante essas questões, entender o que ocorre se torna uma forma de posicionamento perante o nosso destino.
É interessante notar como recorrentemente nossa disciplina: a geografia, sofre os efeitos de uma alienação no ensino básico e no cotidiano. O principal motivo: se desliga as ciências humanas da humanidade, trata-se de um processo, já em voga com as ações neoliberais, de tornar as ciências humanas algo de um lado, enfadonho, e de outro lado desligado de nosso horizonte de vida. Assim sendo, os conflitos surgem como algo distante, desimportante, necessário ao entendimento apenas com a função de passar num vestibular. Neste sentido, se perde toda a perspectiva de humanidade. Este processo que atinge a geografia na educação não se resume apenas às humanidades e sim impacta todo o ensino. Pode-se dizer que, talvez, o espaço de maior alienação da sociedade brasileira, hoje, seja a escola. Daí que os conflitos cada vez mais se agravam num espaço onde nem os alunos e nem os professores possuem qualquer horizonte sobre o seu papel.
De um lado o professor ensina e justifica seu ensino com a necessidade de se preparar para uma prova que ocorrerá ao final de todo o processo, prova que definirá o verdadeiro valor de cada aluno, daí ser incapaz de criar uma verdadeira teleologia humana, troca-se o fim pelo conhecimento crítico e ativo, na formação do cidadão, pelo conhecimento automático, rasteiro e passivo, baseado na resolução de uma prova que, sabidamente, é construída para necessariamente impedir que alguns cheguem ao ensino superior. De outro lado, o aluno, certamente o mais alienado. Como nenhum horizonte lhe é oferecido além da realização de uma prova, a pergunta mais comum é: para que utilizarei isso em minha vida? Como há um desligamento entre prática humana-cidadã e ensino, a pergunta anterior se torna uma constante. De fato, hoje ensinamos sem motivo para uma sala desmotivada, o que não impede que ainda assim, nós professores, tenhamos no horizonte uma perspectiva cidadã. As instituições, tal como são organizadas, articulam por elas mesmas, um sistema que nos leva a caminhar conjuntamente com estes processos de alienação. Algumas resistências podem, ainda assim, ser oferecidas, a começar pelo próprio estimulo do professor em não se perder no horizonte de uma prova, nossa prática nesse ponto se torna fundamental.
É natural, assim, no movimento da escola para a sociedade, que nossa disciplina surja como algo alienado, distante de nossa realidade. Os conflitos são noticiados como verdadeiros programas de entretenimento e, aos professores, cabe repassar uma lista de informações a ser memorizada. Assim sendo, diante destes conflitos que nos surgem televisionados, sensacionalizados e espetacularizados na tela da televisão ou do celular, devemos nos colocar a questão: o que é a geopolítica? O que ela pode nos dizer sobre o atual estado de situação do mundo?
Se recorrermos as formas tradicionais de geopolítica, corremos o risco de reavivar certos preconceitos, sempre presentes em nossa forma de pensar: Estados Nacionais em disputa, interesses mascarados, somos tomados pela aparência dos fenômenos, levados a pensar que uma disputa de grandes proporções envolve apenas questões muito fantasiosas.
As bases de uma geopolítica crítica ainda não estão consolidadas, como nada na verdade está. Este termo ainda se perde num conjunto muito variado de autores que nem mesmo devem se reconhecer como tal. Para melhor localizarmos essa forma de pensamento, que mais surge como uma vertente para caracterizar um grupo muito heterogêneo, retomar o conceito de crítica é fundamental. 
Neste trabalho, buscamos assumir nossa responsabilidade perante essa questão necessária. Para isso foi necessário estabelecer alguns pontos entre geopolítica, geografia crítica e teoria crítica. O resultado: um conjunto de ensaios. O ensaio é o caminho para a produção do novo. A gestação do novo só pode se dar através de ensaios, pois é no ensaio que temos grande liberdade, uma liberdade até mesmo artística, evidenciada por uma produção diversa, que aceita o contato de diversos campos e autores, e dinâmica, que se utiliza de diversos estilos: poesia, metáfora, etc. como meio de compreensão do mundo. O ensaio também assume a transitoriedade, de modo que oferece perspectivas e já as denuncia de antemão, isto é, assume que suas posições atuais estão sujeitas a profundas reflexões. O ensaio é um experimento, e como todo experimento, necessita de certos resultados que avaliem a atestem a sua qualidade, isto só é possível com a crítica e, fundamentalmente, com a autocrítica do autor. É necessária uma profunda e constante meditação que nos leve para superação das próprias ideias. O ensaio é o abandono das crenças, por isso o ensaio também é um elemento de humildade, do não saber completamente, da tentativa de organizar ideias e palavras. Para pensar essa geopolítica crítica, como um campo ainda não definitivamente pronunciado e sistematizado, o ensaio se torna elemento fundamental.
Dado isto, retorno ao início de minha fala, do que tratamos aqui, trata-se fundamental de uma responsabilidade. Nossa responsabilidade perante o mundo, perante as formas de dominação. Geopolítica crítica é exatamente isso, a possibilidade de elaborar projetos de ação, a partir da dimensão espacial, que localizem as formas de dominação e, perante elas, estabeleça novos horizontes. A geopolítica crítica é a possibilidade de dar voz ao espaço dos oprimidos, de tornar o espaço marginal um espaço vivo e capaz de ação. Para que este espaço se torne vivo, para que a partir dele surjam novas intervenções, a teoria é indispensável. Apesar de a geopolítica ser essencialmente o modo como elaboramos projetos de intervenção espaciais, esses projetos de intervenção não podem de maneira alguma negar o pensamento, a teoria. Uma ação sem teoria se torna mero ativismo, se torna uma ação cega. Se constituindo como uma verdadeira práxis dos povos oprimidos, a geopolítica crítica evidencia o modo como o espaço dominado pode ganhar voz e força a partir de um pensamento organizado.
Esses ensaios que se seguem oferecem alguns caminhos teóricos metodológicos para pensarmos essa geopolítica crítica. 
Em relação ao meu trabalho anterior (MENDONÇA, 2023), prezei neste novo trabalho, e assim espero prezar de agora em diante, por uma abordagem mais compacta, por livros mais curtos e comunicativos, na medida das possibilidades de comunicação das ideias filosóficas que, por vezes, demandam, inevitavelmente, espaços muito grandes. Essa nova forma de abordagem permite uma fluidez comunicativa que considero mais interessante para a construção de ideias. Assim sendo, tenho um grande trabalho, o de organizar temas muito complexos em poucas linhas, o que tentei fazer da melhor forma possível, jamais permitindo que a busca por um texto curto interferisse na qualidade das ideias que nele estão contidas.
Naturalmente, assim, certamente vocês encontraram brechas nesse pensamento, que, como eu disse, ainda não está consolidado. Minhas intenções aqui são simples e claras: instigar o pensamento em direção de um novo sentido para a geopolítica. Se, de alguma forma, for capaz de causar, mesmo que seja um breve novo raciocínio, darei por satisfeitas as minhas intenções. 
Assim sendo, espero que esta leitura necessária seja também agradável, afinal, há de existir em todo ser humano um genuíno e profundo interesse a respeito de tudo que nos conduz como sociedade, sendo a geopolítica uma dimensão fundamental desse processo. Se bem estimulados, podemos pensar a beleza de novos horizontes analíticos e nos alegrar com a perspectiva da crítica.
 


  • Largura: 16 cm

  • Comprimento: 23 cm

  • Tipo de Papel (Miolo): Offset

  • Tipo de Papel (Capa): Triplex

  • Gramatura (Miolo): 70g/m²

  • Gramatura (Capa): 250g/m²

  • Cores do Miolo: Preto e branco

  • Orelha e Marcador: Não

  • Tipo de Acabamento: Lombada costurada

  • Número de Páginas: 136

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