CÓD. 978-65-258-2194-8
Copa de 1982: Imprensa, Histórias e Memórias
R$ 93,82
Autores: Ronaldo Helal, Alvaro do Cabo, Leda Maria da Costa e Filipe Mostaro
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As Copas do Mundo como tema de estudos costumam atrair cientistas sociais preocupados em entender como esses eventos possuem tamanha força para mobilizar nações e contribuir para fortalecer e consolidar sentimentos nacionalistas. A Copa de 1982 é uma dessas competições que ficou marcada na história tanto em âmbito nacional como internacional. Para os brasileiros, a trajetória da seleção nesta competição é recheada de memórias, histórias e construções midiáticas que perduraram até os dias atuais.
Este livro que reúne 14 artigos acadêmicos se debruça sobre o Mundial de 1982 com o foco voltado para as narrativas de diversos veículos tanto da imprensa nacional quanto da estrangeira. Ademais foram realizadas duas entrevistas com importantes atores que participaram profissionalmente do evento, o ex-jogador Zico, que era titular do selecionado brasileiro e um dos atletas mais importantes da equipe e o jornalista Juca Kfouri que era o chefe de reportagem da revista Placar e esteve presente diretamente na cobertura do torneio. Nessa mistura de narrativas orais de atores que estavam presentes nesta competição com escritas reflexivas de acadêmicos, este livro busca contribuir com as investigações sobre a Copa do Mundo de 1982, os nacionalismos presentes e como as memórias desta competição indicam o simbolismo que o futebol produz em cada contexto social.
O “apito inicial’ desta obra coletiva é uma análise sobre a cobertura do tradicional periódico esportivo carioca Jornal dos Sports do torneio. O historiador e pesquisador André Couto, um dos principais especialistas sobre esse veículo e estudioso de crônicas esportivas, apresenta primeiramente uma contextualização histórica da conjuntura política do país em 1982 e depois destaca os principais argumentos narrativos estabelecidos pelos cronistas do jornal sobre questões como: exaltação do futebol brasileiro, organização tática da equipe, rivalidades com outras seleções, especialmente no confronto com a Argentina, possíveis vilões além da discussão em torno de um plausível “regionalismo” existente nas representações sobre a seleção brasileira.
O segundo artigo é o resultado de mais uma “tabelinha” entre Alvaro Cabo e Ronaldo Helal, onde os autores buscam analisar as representações da histórica revista argentina El Gráfico sobre a campanha da seleção brasileira no torneio. Destaca-se a identificação da permanência de estereótipos clássicos sobre o futebol brasileiro como “jogo bonito”, alegria, ofensividade bem como a manutenção da admiração pela equipe dirigida por Telê Santana mesmo diante do revés contra a Itália. Apesar da tentativa de apresentar possíveis razões para a eliminação precoce da seleção brasileira, que seria segundo uma de suas principais reportagens “a favorita de todos”, a ideia de encantamento com o futebol praticado pelos brasileiros em 1982 é perpetuada pelos seus articulistas.
Cruzando o Rio da Prata convidamos o historiador e pesquisador Gastón Laborido membro do GREFU (Grupo de Estudios de Fútbol del Uruguay), para apresentar um olhar uruguaio a partir do jornal El País, periódico de grande circulação no país. O autor primeiramente contextualiza o papel do jornal ao longo do século XX na sociedade uruguaia, bem como apresenta a questão das crônicas como fontes históricas, além da necessidade de se entender o “local de fala” dos principais cronistas esportivos de um periódico. Ao analisar especificamente as representações da cobertura brasileira durante o torneio pelos cronistas do jornal, o autor divide metodologicamente em dois eixos temáticos: primeiro a seleção brasileira que seria a princípio exaltada como a “melhor do Mundial” e depois os estereótipos de identidade nacional que surgem sobre o país e o povo brasileiro apresentados a partir de algumas tipificações oriundas de suas reflexões.
O “jogo” prossegue com a fundamental contribuição de Diano Massarani, um “craque” nos estudos sobre essa Copa e que defendeu uma excelente tese de Doutorado no Programa de Antropologia PPGA-UFF A construção de representações sobre a seleção brasileira de futebol de 1982 nas revistas Placar e World Soccer. O recorte feito para esse livro foi a análise das representações feitas sobre a seleção brasileira de 1982 e sua eliminação no torneio diante da Itália na revista inglesa World Soccer. Uma densa pesquisa que possibilitou a identificação da idealização de um encantamento com o futebol praticado por essa equipe e a exaltação do suposto “estilo de jogo” brasileiro, mas que também aponta para a ausência de dramatização da derrota em uma “tarde maravilhosa” para o futebol mundial onde a seleção italiana teria demonstrado muitos méritos para conquistar a vitória.
No quinto artigo a professora da UERJ e pesquisadora Leda Maria da Costa, especialista em analisar a hermenêutica das derrotas brasileiras e a “eterna” questão da culpabilidade e das escolhas de “vilões” quando a seleção não triunfa, e junto com Marcelo Resende, seu orientando de doutorado, estabelecem uma análise de narrativas da derrota diante da Itália em diferentes periódicos brasileiros norteada pela hipótese de uma espécie de compaixão por parte de setores da imprensa e da torcida. Utilizando como eixo comparativo principalmente a final da Copa do Mundo de 1950, mas também a acachapante eliminação do Brasil na semifinal diante da Alemanha em 2014, os autores apontam para uma certa complacência coletiva com a seleção “canarinho” mesmo tendo sido eliminada precocemente, destacando as narrativas de natureza trágica e a recepção festiva para os membros dessa equipe.
Nessa escolha de “vilões”, o professor da Uerj, Filipe Mostaro, lança seu foco sobre a figura do treinador Telê Santana. Como “vilões naturais” no futebol moderno, Mostaro indica como a narrativa sobre o futebol-arte presente nos jornais, reconfigurou essa culpa do técnico após eliminações em Copa do Mundo. Analisando os jornais O Globo e Jornal do Brasil, é possível perceber a exaltação de Telê. Ao jogar o “verdadeiro futebol nacional”, Telê é poupado do papel de vilão e a eliminação é explicada como um “acaso” do futebol.
O historiador e pesquisador do campo do esporte Euclides Couto, ao analisar a cobertura do jornal espanhol La Vanguardia se deparou com a curiosa participação de Pelé como cronista esportivo em mais uma Copa do Mundo, assim como já tinha sido em 1978 em periódicos argentinos. Optou metodologicamente por enfrentar a polêmica questão da participação do “atleta do século”, que havia se transformado em garoto propaganda midiático neste periódico como cronista durante o evento. Primeiramente estabeleceu uma contextualização histórica do importante jornal catalão, da projeção midiática do ex-jogador e dos interesses econômicos e comerciais envolvidos naquela conjuntura. Finalizou com uma análise das narrativas de algumas crônicas “escritas” ou atribuídas a Pelé. Destaca-se também o contraponto com outro cronista convidado pelo jornal, o escritor prêmio Nobel peruano Mario Vargas Llosa.
No oitavo artigo o historiador e pesquisador do SPORT/UFRJ, Hugo Moraes estudioso do futebol chileno apresenta uma análise das representações sociais a partir da cobertura das seleções brasileira e chilena na Revista Estadio, uma das publicações esportivas mais longevas do país, mas que se encontrava em declínio. Após uma contextualização histórica da sociedade chilena, principalmente a partir dos anos setenta, abordando relações políticas e econômicas com o futebol o autor apresenta a partir da fonte utilizada a propagação dos estereótipos tradicionais do futebol-arte, da alegria e a idealização de um estilo encantador pelos articulistas da revista que acabam vislumbrando a eliminação brasileira como um grande “pesadelo”. Em contrapartida a cobertura da campanha chilena é marcada pela decepção com as fracas atuações e por uma narrativa de valorização da importância da presença europeia na formação das nações consoante com um discurso elitista e conservador por parte dos articulistas de Estadio.
O nosso nono artigo é do professor da FGV, Bernardo Buarque de Hollanda, e traz relatos coletados através do projeto de História Oral, intitulado Futebol, memória e patrimônio. A partir das entrevistas de atletas que participaram das Copas de 1954 (disputada na Suíça) até a Copa de 1982, o autor analisa o depoimento de dez jogadores que disputaram a competição na Espanha: Carlos, Edinho, Falcão, Juninho Fonseca, Junior, Luisinho, Oscar, Paulo Izidoro, Zico e Waldir Peres. Através da metodologia da História Oral é possível observar enquadramentos e escolhas do que foi dito pelos atletas, contribuindo para a construção da memória sobre o simbolismo daquela competição.
O décimo artigo, de autoria do historiador e pesquisador Eduardo Gomes, indica o olhar colombiano para a competição. De forma mais específica, Gomes observa como os jornais colombianos acompanharam o torneio de 1982 com a expectativa de sediarem a Copa do Mundo em 1986, que não se concretizou e como essa desistência foi abordada nos jornais Folha de São Paulo e El Tiempo.
Enfatizando o potencial simbólico e imagético das Copas do Mundo, Luiz Carlos Ribeiro de Sant´Ana assina o décimo primeiro trabalho que faz parte desta coletânea. Luiz analisa como a seleção brasileira de 1982 foi abordada em três filmes-documentários: G’Olé! (Filme Oficial da Copa do Mundo FIFA de 1982), Futebol Arte e Corações de Campeões. O autor mostra como essas películas contribuem para a construção de uma memória que enfatiza a equipe como uma “autêntica representante do futebol-arte”.
José Carlos Marques, professor da Unesp, analisa como o jornal Folha de São Paulo narrou a participação brasileira na Copa de 1982. Marques seleciona a capa do periódico após cada um dos cinco jogos disputados na Espanha. O autor indica como as imagens de comemoração e o tom eufórico dos quatro primeiros jogos dão lugar a uma demolição desta euforia com o enfoque de um “desastre’ que havia ocorrido no estádio do Sarriá.
O penúltimo artigo, assinado pelo professor da UFMG, Elcio Cornelsen e Marcel Vejmelka, conta como a revista Der Spiegel, publicada na República Federal da Alemanha (Alemanha Ocidental, RFA) e do jornal Neues Deutschland publicado na República Democrática Alemã (Alemanha Oriental, RDA) narraram essa competição. A Alemanha foi a vice-campeão do torneio, perdendo para a Itália na final. No entanto, a construção de ambos os jornais foca na adjetivação e a associação da seleção brasileira ao futebol-arte.
O espanhol Juan Antonio Simón, grande especialista sobre essa Copa, e autor da clássica obra España 82: la historia de nuestro Mundial encerra esta “seleção acadêmica” com um texto em que estabelece uma minuciosa análise da imagem de três importantes veículos da imprensa espanhola: El Mundo Deportivo, La Vanguardia e ABC tanto sobre o desempenho da seleção brasileira no torneio quanto sobre as representações e tradicionais estereótipos da torcida brasileira a partir da sua relação com o futebol.Com leveza acadêmica demonstra o “encantamento” que o futebol desempenhado pela equipe brasileira provocou nos espanhóis, assim como o comportamento dos torcedores que estiveram presentes nos estádios, ruas e praças espanholas celebrando a paixão pelo futebol brasileiro.
Como “prorrogação” de uma obra coletiva sobre um mundial histórico oferecemos também aos leitores duas entrevistas com personagens que participaram efetivamente desse torneio. Buscando acionar a memória do ex-jogador Zico e do jornalista Juca Kfouri, nosso objetivo foi ouvir o testemunho desses importantes atores mais de 40 anos depois sobre questões: técnicas, táticas, sobre as narrativas da imprensa e também a própria experiência pessoal de cada um deles ao viver intensamente essa emblemática Copa.
Assim sendo, tendo como principal eixo norteador narrativas de diferentes veículos da imprensa, mas também de personagens que participaram do torneio, esse livro sobre a Copa de 1982 aciona com diferentes olhares e histórias a memória de uma seleção que encantou o mundo e que serviu também de espelho identitário de estereótipos sobre o futebol, o país e o próprio povo brasileiro.
Ronaldo Helal
Alvaro do Cabo
Leda Maria da Costa
Filipe Mostaro
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Largura: 16 cm
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Comprimento: 23 cm
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Tipo de Papel (Miolo): Pólen soft
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Tipo de Papel (Capa): Triplex
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Gramatura (Miolo): 80g/m²
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Gramatura (Capa): 250g/m²
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Cores do Miolo: Preto e branco
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Orelha e Marcador: Não
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Tipo de Acabamento: Lombada costurada
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Número de Páginas: 278