Uma distorção conceitual: informalidade e empreendedorismo
É digno de nota o poder de
persuasão que o tema do empreendedorismo
suscita em diferentes grupos políticos,
institutos de pesquisa, intelectuais, entidades
públicas e privadas. Em certa medida, parecem
orientados por uma ética da convicção que
os conforma, sem pestanejar, às máximas e
jargões das bussiness schools. O presente
artigo investiga as relações teórico-empíricas
entre informalidade e empreendedorismo
no Brasil e seus desdobramentos políticos
correspondentes. Pretende-se demonstrar que
atribuir aos trabalhadores informais o epíteto
de empreendedores produz, no plano teórico,
uma “torção conceitual”, a qual, i) fornece
novas lentes para enxergar retrospectivamente
nosso passado ao imputar um suposto
“espírito” capitalista original aos trabalhadores
pobres e marginalizados que buscavam obter
meios de vida em uma sociedade desigual e
mercantilizada; ii) justifica nosso presente, ao
associar empreendedorismo e crescimento
econômico e fazer da trajetória típica de inserção
ocupacional no Brasil, marcada pela díade
vulnerabilidade e precariedade, uma trajetória
virtuosa; iii) limita nosso futuro, produzindo
consenso em torno da necessidade de medidas
liberalizantes ao persuadir o imaginário social de
que os obstáculos ao empreendedorismo são a
alta carga tributária, taxa de juros elevada, leis
trabalhistas ultrapassadas, em suma, o jargão
“excesso de Estado na economia”.
Uma distorção conceitual: informalidade e empreendedorismo
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DOI: 10.22533/at.ed.3821903072
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Palavras-chave: Trabalho. Trabalhadores. Informalidade. Empreendedorismo
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Keywords: KEYWORDS: Work. Workers. Informality. Entrepreneurship.
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Abstract:
It is noteworthy the power of
persuasion that the theme of entrepreneurship
arouses in different political groups, research
institutes, intellectuals, public and private
entities. In a way, they seem guided by an ethics
of conviction that conforms them to bussiness
schools’ maxims and jargons. This paper
investigates the theoretical-empirical relations
between informality and entrepreneurship in
Brazil and their corresponding political outcomes.
It intends to demonstrate that attributing the
epithet of entrepreneurs to informal workers
produces, on the theoretical level, a “conceptual
distortion”, which i) provides new lenses to
retrospectively view our past by imputing a
supposed original capitalist “spirit” to poor and
marginalized workers who sought livelihoods in
an unequal and commodified society; ii) justifies
our present, by associating entrepreneurship
and economic growth and by turning the typical
Processos de Transformação do Mundo do Trabalho Capítulo 2 14
trajectory of occupational insertion in Brazil, marked by the vulnerability and precarious
dyad, into a virtuous trajectory; (iii) limits our future since it produces consensus on the
need for liberalizing measures by persuading the social imaginary that the obstacles to
entrepreneurship are the high tax burden, high interest rates and outdated labor laws,
in short, the jargon “excessive state intervention in the economy
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Número de páginas: 15
- Thiago Brandão Peres