O desenrolar do enredo em

Avalovara revela um cuidadoso movimento de

personagens e de cenas entremeadas de sons,

em que a transformação ascendente interna de

seus protagonistas se contrapõe à ascensão, à

estagnação e à decadência da maior parte dos

demais personagens do romance. O contraste

entre realização e destruição faz parte do rol de

oposições que enriquecem a obra de Osman

Lins. O autor transporta o leitor para mundos

paralelos em que a busca pela perfeição,

conduzida pelo pássaro que dá o nome à obra

literária e representada pela transfiguração

para a unidade entre homem, mulher e cosmos,

contracena com o mundano. Tanto quanto as

múltiplas sonoridades presentes na narrativa,

o silêncio envolve os personagens em seus

momentos de angústia, de medo, de resignação

e de torpor assim como nos sublimes instantes

da unificação e de domínio final das palavras,

portanto, dos sons do mundo. Lins, em uma de

suas entrevista constantes no Evangelho da

Taba, demonstra uma certa proximidade com a

filosofia tântrica indiana, com toda sua complexa

prática de purificação e de realização espiritual.

A linha narrativa em Avalovara mostra traços

da ascece mística empreendida pelos yogues

tântricos rumo à unificação com o todo cósmico,

representada simbolicamente, no romance,

pela fusão dos protagonistas entre si e com o

tapete misterioso. John Cage procura provar a

inexistência do silêncio absoluto, ressaltando,

entretanto, a mudez interna, associada ao

estado de alerta, como meio para ouvir os

sons do próprio corpo. O músico e compositor

canadense Raymond Murray Schafer vai mais

longe e destaca a necessidade de submergir

nos reservatórios de quietude interior para

restaurar a tranquilidade espiritual. O silêncio

transcedental, mencionado com ênfase no

final do romance, é o ápice de toda a trajetória

de Abel e da Inominada. Este artigo procura

mostrar as correlações entre o som e silêncio

com os momentos finais da incansável busca

dos amantes e as possíveis associações com

o sagrado impregnado na tradição oriental do

tantrismo.