SOBREVIVENDO: A REALIDADE DEPOIS DO CÁRCERE
O aumento expressivo do encarceramento feminino tem como um dos fatores a criminalização da pobreza de mulheres marcadas, em sua realidade material, por diferenciadores sociais. Diante da ausência de políticas públicas voltadas para a reinserção social de mulheres egressas do sistema penitenciário, a questão da inclusão social pelo trabalho e geração de renda torna-se relevante quando se queira diminuir as possibilidades de reincidência criminal. As estatísticas de gênero apontam para uma menor ocupação das mulheres pelo mercado de trabalho, seja ele formal ou informal. Neste aspecto, programas sociais de transferência de renda podem representar importante amparo diante da condição de vulnerabilidade de mulheres egressas do sistema carcerário. A partir da narrativa de uma mulher presa que reúne várias categorias da diferenciação social em sua trajetória de vida, pretendeu-se, neste estudo, identificar em que medida as exigências do programa de transferência de renda - auxílio brasil - e concessão do auxílio-reclusão transformam-se em obstáculos para seu acesso. A falta de opções de inserção no mercado formal de trabalho e a condição de vulnerabilidade revelam, para muitas mulheres, o tráfico como um espaço de trabalho e sustento da família. A enorme dificuldade de reconstruir a vida depois da experiência do encarceramento permeada pela mobilidade limitada desde o momento que sai da prisão, ausência de documentos, vínculos afetivos frágeis, estigmatização, preconceito, falta de moradia, a falta de qualificação e experiência profissional importam na diminuição das possibilidades de trabalho e geração de renda que efetivamente poderiam assegurar a reinserção social e econômica de uma apenada. A exclusão digital e a dificuldade de acesso às informações necessárias ao exercício de direitos, além de suprimir a autonomia do sujeito, revelam-se como fatores que dificultam o acesso à renda, reforçando a exclusão social. Trabalha-se com a metodologia da história de vida, cujo método de pesquisa possibilita trabalhar a subjetividade como fonte de pesquisa, permitindo ativar o que há retido na memória, dando voz a sujeitos que não estão muitas vezes incluídos na história. Como referencial teórico tem-se Lahire (2004), Barcinski(2009) e Collins; Bilge (2021).
SOBREVIVENDO: A REALIDADE DEPOIS DO CÁRCERE
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DOI: 10.22533/at.ed.6282305041
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Palavras-chave: Políticas Públicas. Inclusão. Mulheres egressas do sistema carcerário
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Keywords: Public Policies. Inclusion. Women released from the prison system
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Abstract:
The significant increase in female incarceration has as one of the factors the criminalization of poverty of women marked, in their material reality, by social differentiators. Faced with the absence of public policies aimed at the social reintegration of women released from the penitentiary system, the issue of social inclusion through work and income generation becomes relevant when one wants to reduce the possibilities of criminal recidivism. Gender statistics point to a lower occupation of women by the labor market, be it formal or informal. In this regard, social income transfer programs can represent important support in view of the vulnerable condition of women who leave the prison system. Based on the narrative of a woman prisoner who brings together several categories of social differentiation in her life trajectory, the aim of this study was to identify the extent to which the requirements of the income transfer program - Brazil Aid - and the granting of reclusion aid become obstacles to access. The lack of options for entering the formal labor market and the condition of vulnerability reveal, for many women, trafficking as a space for work and family support. The enormous difficulty of rebuilding life after the incarceration experience permeated by limited mobility from the moment you leave prison, lack of documents, fragile affective bonds, stigmatization, prejudice, homelessness, lack of qualification and professional experience matter in the decrease possibilities for work and income generation that could effectively ensure the social and economic reintegration of a convict. Digital exclusion and the difficulty in accessing information necessary for the exercise of rights, in addition to suppressing the subject's autonomy, reveal themselves as factors that hinder access to income, reinforcing social exclusion. It works with the methodology of life history, whose research method makes it possible to work with subjectivity as a source of research, allowing to activate what is retained in memory, giving voice to subjects who are not often included in the story. As a theoretical reference we have Lahire (2004), Barcinski(2009) and Collins; Bilge (2021).
- Maria Luiza Lorenzoni Bernardi
- Lourdes Helena Martins da Silva