SEXUALIDADE, PODER E HEGEMONIA: ENTRE O SUJEITO E A TOTALIDADE
O debate teórico sobre sexualidade está alicerçado na forte contribuição do feminismo. Merece destaque as contribuições do Pós-Estruturalismo e da Teoria Queer, particularmente da obra de Michel Foucault e Judith Butler respectivamente. Se no âmbito dos estudos feministas o aporte marxista teve certa influência, nos estudos de sexualidade e populações LGBT essa influência é muito pouco expressiva. Este trabalho pretende apresentar a contribuição da obra do jovem Marx e de Antônio Gramsci para este debate em diálogo crítico com Foucault e Butler. Conceitos como biopolítica e poder disciplinar, bem como performatividade de gênero, podem ser inscritos nos marcos do materialismo dialético, apoiando-se no conceito gramsciano de Estado Integral. Como eixo de análise está o problema do sujeito na sociedade moderna capitalista. Os debates pós-estruturalista e queer evidenciam a construção do sujeito como efeito de relações de poder, o sujeito como sujeitado. Sem recusar esta proposição, a formulação aqui proposta busca dar conta deste sujeito como apenas um momento no processo de sua constituição mesma, o sujeito em si. Isso implica em reconhecer a possibilidade de passagem ao outro momento, o sujeito para si. Desde uma perspectiva materialista, é possível identificar na materialidade de dispositivos, discursos e instituições que organizam e impõem, por vezes de modo coercitivo e violento, a performance de gênero a ser adotada, a relação contraditória entre discurso/ideologia/cultura e o indivíduo. Das contradições dessa relação deve-se depreender os momentos concretos de atrito entre o ideal normativo de gênero e as circunstâncias objetivas em que tende a se materializar sobre os corpos. Este é o ponto no qual se pode localizar aquilo que Gramsci chama de aparelhos hegemônicos, situados no Estado Integral ou Ampliado, como aparelhos que materializam e impõem a hegemonia da norma sexual e de gênero sobre os indivíduos.
SEXUALIDADE, PODER E HEGEMONIA: ENTRE O SUJEITO E A TOTALIDADE
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DOI: 10.22533/at.ed.6112305042
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Palavras-chave: Teoria Queer, Marxismo, Pós-estruturalismo, sujeito
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Keywords: Queer Theory, Marxism, Post-structuralism, subject
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Abstract:
The theoretical debate on sexuality is based on the strong contribution of feminism. The contributions of Post-Structuralism and Queer Theory deserve special mention, particularly considering the works of Michel Foucault and Judith Butler. If in the context of feminist studies the influence of Marxism had a certain influence, in studies of sexuality and LGBT populations this influence is not very significant. This paper intends to present the contribution of the work of the young Marx and Antônio Gramsci to this debate in a critical dialogue with Foucault and Butler. Concepts such as biopolitics and disciplinary power, as well as gender performativity, can be inscribed within the framework of dialectical materialism, relying on the Gramscian concept of Integral State. The analysis core in this study is the problem of the subject in modern capitalist society. The post-structuralist and queer debates bring important contribution by showing the construction of the subject as an effect of power relations, the subject as subject. Without rejecting this proposition, the formulation proposed here seeks to explain this subject as only a moment in the process of its constitution itself, the subject itself. This implies recognizing the possibility of passing to the other moment, the subject for itself. From a materialistic perspective, it is possible to identify in the materiality of devices, discourses and institutions that organize and impose, sometimes in a coercive and violent way, the gender performance to be adopted, the contradictory relation between discourse / ideology / culture and the individual. From the contradictions of this relation one must understand the concrete moments of friction between the normative ideal of gender and the objective circumstances in which it tends to materialize on the bodies. This is the point at which what Gramsci calls hegemonic apparatuses in the Integral or Expanded State can be located as apparatuses that materialize and impose the hegemony of the sexual and gender norm on individuals.
- Douglas Santos Alves