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capa do ebook REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE CURA DE PESSOAS ATINGIDAS POR HANSENÍASE MULTIBACILAR APÓS ALTA POR CURA

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE CURA DE PESSOAS ATINGIDAS POR HANSENÍASE MULTIBACILAR APÓS ALTA POR CURA

A posição do pesquisador diante do problema de pesquisa prediz sobre as conclusões
que serão geradas. Descartes (2006) propõe o exercício de, antes de ir a campo, procurar
em si mesmo os caminhos que nos levam ao objeto de estudo. Ou seja, situar qual a
perturbação com relação ao tema levantado, pois são estas inquietações que imprimem
ao estudo suas particularidades. A possibilidade de analisar e duvidar, que é própria do
homem, o torna capaz de buscar conhecimento sobre tudo o que existe, e o arcabouço
agregado ao longo de sua vida o direciona às questões levantadas.
A partir disto, volto-me ao tema de pesquisa: “A vivência de cura em pessoas em pósalta
de hanseníase” e busco as inquietações que me levaram a ele. Algumas experiências
me encaminharam para tomá-lo. Primero, o fato de ter crescido em uma pequena
comunidade do Ceará, cercada por tradições culturais, onde as crenças e as repercussões
significativas da doença oferecem impactos importantes sobre a rotina de todos no grupo.
Desde cedo, observo o quanto cultura e tradições são influentes no processo saúde-doença.
O envolvimento, quando alguém da comunidade apresenta uma doença, é notável. Além
disso, a busca por métodos alternativos de cura: rezadeiras, plantas medicinais e rituais
eram são um caminho buscado para aliviar as dores.
Reporto-me a dois momentos específicos de contato com a Hanseníase que
me fizeram escolhê-la como foco de pesquisa: a primeira experiência se deu durante
a graduação, em visita ao Hospital Colônia do Carpina, que trata e abriga pessoas em
tratamento ou em alta por cura de Hanseníase. Muitos, dos que encontrei, tinham recebido
alta por cura, mas preferiam morar ali ou por não possuírem onde morar ou por terem
perdido o total contato com familiares, permaneciam, então, como moradores do hospitalcolônia,
e acabavam tendo que reconstruir suas vidas afastados de tudo o que tinham antes
do diagnóstico. O segundo contato foi quando uma paciente com sequelas de hanseníase
frequentando a Clínica de Fisioterapia onde trabalhei, contou-me toda a sua trajetória
enquanto portadora da doença, o seu sofrimento e o preconceito agregado durante o
percurso do tratamento, e após ele, destacando a complexidade das sequelas tanto físicas
quanto psicossociais permanecentes, mesmo após ter recebido alta por cura. Percebi que
mesmo hoje, com a Poliquimioterapia (PQT) interrompendo o ciclo de transmissão, e da
divulgação na mídia, numa tentativa de naturalização da doença, os portadores ainda são
isolados da sociedade, abandonados pela família e amigos. Mesmo após a alta, a doença
provoca um estigma que os acompanha. Neste contexto, fui delineando o momento pós-alta
em Hanseníase como tema de estudo por perceber o quanto a cultura e as representações
sociais desta doença, em especial, influenciam na vida do portador.
O medo do desconhecido é o que faz o homem pesquisar, apontam Adorno e
Horckeimer (1997). Na intenção de explicar tudo o que lhe cerca, o ser humano faz uso
Introdução2
da fé e da ciência. Muitas vezes, estas duas categorias se mesclam, como é o caso do
preconceito com a Hanseníase: doença vista como castigo divino em resposta a uma
transgressão moral grave. Como a transmissão se faz de forma direta, por via respiratória,
através do contato com uma pessoa doente, sem tratamento, o discurso biomédico de
vertente bacteriológica do século XX agregado ao teológico colaborou para proporcionar
sentido de periculosidade ao doente. O isolamento, no âmbito da bacteriologia, como forma
de proteger as pessoas saudáveis e evitar a transmissão do bacilo originou-se do modelo
medieval de conduta social associada à Lepra, percebida como forma de punição de Deus,
para que os leprosos pagassem pelo pecado cometido. De um lado, no âmbito religioso,
ele garante a justiça divina e, de outro, no âmbito científico, ele interrompe a perpetuação
da doença. Segundo Adorno e Horckeimer (1997), o esclarecimento, é o processo segundo
o qual há a libertação das explicações, chamadas pelos autores de míticas, considerandose
apenas as teorias que fazem uso da razão para explicar as indagações. Voltando ao
tema de pesquisa e considerando o contexto da Hanseníase e o estigma a ela atrelado
questiona-se: há total abandono do mítico nas relações que cercam a pessoa atingida pela
doença?

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE CURA DE PESSOAS ATINGIDAS POR HANSENÍASE MULTIBACILAR APÓS ALTA POR CURA

  • DOI: 1. Hanseníase. 2. Saúde. I. Ribeiro, Mara Dayanne Alves. II. Ribeiro, Maria Dandara Alves. III. Lira, Geison Vasconcelos. IV. Título.

  • Palavras-chave: 1. Hanseníase. 2. Saúde. I. Ribeiro, Mara Dayanne Alves. II. Ribeiro, Maria Dandara Alves. III. Lira, Geison Vasconcelos. IV. Título.

  • Keywords: 1. Hanseníase. 2. Saúde. I. Ribeiro, Mara Dayanne Alves. II. Ribeiro, Maria Dandara Alves. III. Lira, Geison Vasconcelos. IV. Título.

  • Abstract:

    A posição do pesquisador diante do problema de pesquisa prediz sobre as conclusões
    que serão geradas. Descartes (2006) propõe o exercício de, antes de ir a campo, procurar
    em si mesmo os caminhos que nos levam ao objeto de estudo. Ou seja, situar qual a
    perturbação com relação ao tema levantado, pois são estas inquietações que imprimem
    ao estudo suas particularidades. A possibilidade de analisar e duvidar, que é própria do
    homem, o torna capaz de buscar conhecimento sobre tudo o que existe, e o arcabouço
    agregado ao longo de sua vida o direciona às questões levantadas.
    A partir disto, volto-me ao tema de pesquisa: “A vivência de cura em pessoas em pósalta
    de hanseníase” e busco as inquietações que me levaram a ele. Algumas experiências
    me encaminharam para tomá-lo. Primero, o fato de ter crescido em uma pequena
    comunidade do Ceará, cercada por tradições culturais, onde as crenças e as repercussões
    significativas da doença oferecem impactos importantes sobre a rotina de todos no grupo.
    Desde cedo, observo o quanto cultura e tradições são influentes no processo saúde-doença.
    O envolvimento, quando alguém da comunidade apresenta uma doença, é notável. Além
    disso, a busca por métodos alternativos de cura: rezadeiras, plantas medicinais e rituais
    eram são um caminho buscado para aliviar as dores.
    Reporto-me a dois momentos específicos de contato com a Hanseníase que
    me fizeram escolhê-la como foco de pesquisa: a primeira experiência se deu durante
    a graduação, em visita ao Hospital Colônia do Carpina, que trata e abriga pessoas em
    tratamento ou em alta por cura de Hanseníase. Muitos, dos que encontrei, tinham recebido
    alta por cura, mas preferiam morar ali ou por não possuírem onde morar ou por terem
    perdido o total contato com familiares, permaneciam, então, como moradores do hospitalcolônia,
    e acabavam tendo que reconstruir suas vidas afastados de tudo o que tinham antes
    do diagnóstico. O segundo contato foi quando uma paciente com sequelas de hanseníase
    frequentando a Clínica de Fisioterapia onde trabalhei, contou-me toda a sua trajetória
    enquanto portadora da doença, o seu sofrimento e o preconceito agregado durante o
    percurso do tratamento, e após ele, destacando a complexidade das sequelas tanto físicas
    quanto psicossociais permanecentes, mesmo após ter recebido alta por cura. Percebi que
    mesmo hoje, com a Poliquimioterapia (PQT) interrompendo o ciclo de transmissão, e da
    divulgação na mídia, numa tentativa de naturalização da doença, os portadores ainda são
    isolados da sociedade, abandonados pela família e amigos. Mesmo após a alta, a doença
    provoca um estigma que os acompanha. Neste contexto, fui delineando o momento pós-alta
    em Hanseníase como tema de estudo por perceber o quanto a cultura e as representações
    sociais desta doença, em especial, influenciam na vida do portador.
    O medo do desconhecido é o que faz o homem pesquisar, apontam Adorno e
    Horckeimer (1997). Na intenção de explicar tudo o que lhe cerca, o ser humano faz uso
    Introdução2
    da fé e da ciência. Muitas vezes, estas duas categorias se mesclam, como é o caso do
    preconceito com a Hanseníase: doença vista como castigo divino em resposta a uma
    transgressão moral grave. Como a transmissão se faz de forma direta, por via respiratória,
    através do contato com uma pessoa doente, sem tratamento, o discurso biomédico de
    vertente bacteriológica do século XX agregado ao teológico colaborou para proporcionar
    sentido de periculosidade ao doente. O isolamento, no âmbito da bacteriologia, como forma
    de proteger as pessoas saudáveis e evitar a transmissão do bacilo originou-se do modelo
    medieval de conduta social associada à Lepra, percebida como forma de punição de Deus,
    para que os leprosos pagassem pelo pecado cometido. De um lado, no âmbito religioso,
    ele garante a justiça divina e, de outro, no âmbito científico, ele interrompe a perpetuação
    da doença. Segundo Adorno e Horckeimer (1997), o esclarecimento, é o processo segundo
    o qual há a libertação das explicações, chamadas pelos autores de míticas, considerandose
    apenas as teorias que fazem uso da razão para explicar as indagações. Voltando ao
    tema de pesquisa e considerando o contexto da Hanseníase e o estigma a ela atrelado
    questiona-se: há total abandono do mítico nas relações que cercam a pessoa atingida pela
    doença?

  • Número de páginas: 92

  • Maria Dandara Alves Ribeiro
  • Geison Vasconcelos Lira
  • Jefferson Carlos Araujo Silva
  • Luan Nascimento Silva
  • Sabrynna Brito Oliveira
  • Mara Dayanne
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