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PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA EM GESTANTES E PUÉRPERAS DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE EM CURITIBA

RESUMO A violência obstétrica (VO) é definida como práticas abusivas, desrespeitosas, humilhantes, coercitivas ou negligentes durante o pré-natal, parto e pós-parto. Essas práticas podem ser realizadas por profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros, parteiras, ou até mesmo determinadas por políticas institucionais que violam os direitos das mulheres durante a gestação e o parto. Esse tipo de violência desumaniza a gestante ou parturiente, manifestando-se, por exemplo, no tratamento inferiorizado, na repreensão de emoções, na recusa ao atendimento, na restrição à presença de um acompanhante e na realização de procedimentos sem o devido consentimento. A VO também inclui intervenções desnecessárias ou dolorosas, como cesáreas sem indicação médica e episiotomias. Tal situação pode ser agravada, ainda, ao se pensar em mulheres que se encontram em situações de vulnerabilidade social, econômica ou cultural, pois estão mais suscetíveis a essas formas de violência. Isso ocorre devido a desigualdades estruturais, à falta de acesso à informação e à ausência de poder contratual e baixa autonomia de decisão sobre seu próprio corpo. Nesse contexto, a Atenção Primária à Saúde (APS) pode desempenhar um papel crucial na prevenção da VO, oferecendo cuidado humanizado e integral à gestante, desde o pré-natal até o puerpério. Ademais, tem por objetivo promover a educação em saúde, por meio de orientações para as gestantes sobre seus direitos, procedimentos para a realização de um parto seguro, distinção entre práticas adequadas e indevidas, além de situações que possam demandar intervenção médica. Por se tratar de um modelo de cuidado comunitário, a APS tem a possibilidade de estabelecer um vínculo mais próximo com a gestante, por meio da oferta de um cuidado individualizado. Nesse sentido, a identificação de situações de risco e a prevenção de intervenções iatrogênicas tornam-se mais viáveis do ponto de vista preventivo. Em consonância, a busca ativa pode desempenhar um papel fundamental como ferramenta para a promoção da educação em saúde, identificando, mobilizando e conscientizando a população acerca da VO. A partir dessa abordagem, torna-se possível a identificação da VO de maneira precoce, além de possibilitar o encaminhamento de denúncias, quando assim desejado pela gestante ou puérpera. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo conscientizar, prevenir e encaminhar denúncias de VO em gestantes e puérperas de um distrito sanitário de Curitiba. Enquanto pressuposto 5 metodológico, utilizou-se o Arco de Maguerez, por se tratar de um aporte teórico recomendado para intervenções em contextos comunitários. A seleção do grupo- alvo foi realizada com base na idade gestacional, sendo escolhidas gestantes entre 27 e 35 semanas de gestação, de modo que o acompanhamento ao longo do semestre letivo também englobasse o período puerperal. Entre as 84 gestantes cadastradas na Unidade de Saúde (US), 21 foram selecionadas, sendo 42,9% das gestantes classificadas em alto risco, 52,4% em baixo risco e 4,7% em médio risco gestacional. Após a seleção, foram realizadas tentativas de contato telefônico para apresentar o projeto e verificar a disponibilidade das gestantes em participar, oferecendo a possibilidade de realizar visitas domiciliares, atendimentos na própria UBS ou encontros virtuais via Google Meet. Das 21 pacientes inicialmente selecionadas, duas não estavam mais vinculadas à UBS; quatro optaram por não participar; dez não retornaram o contato e cinco aceitaram integrar o projeto. Para todas as gestantes que retornaram o contato, foi enviado um e-book informativo via WhatsApp. As gestantes visitadas apresentaram diferentes níveis de familiaridade com o tema da VO. Duas delas demonstraram um bom conhecimento sobre o assunto, possuíam vínculo sólido com a equipe de saúde e não relataram intercorrências durante suas gestações. Uma das cinco pacientes, embora tenha relatado um atendimento inadequado em um abortamento passado, não considerou a experiência como VO. Ela expressou o desejo de ser transferida para outra maternidade, mas não relatou problemas na gestação atual. Em um dos encontros, uma puérpera relatou ter sido submetida a uma cesariana de emergência, sem que a médica plantonista lhe explicasse adequadamente as opções disponíveis. Durante sua internação, mencionou ainda que foi submetida a toques vaginais por diversos profissionais, o que a fez sentir-se “invadida” (sic). A paciente reconheceu essa situação como uma forma de VO e foi orientada pela equipe do projeto sobre a possibilidade de formalizar uma denúncia. Todas as gestantes visitadas foram orientadas sobre os diferentes cenários em que essa forma de violência pode ocorrer, incluindo práticas inadequadas no parto e no atendimento pré e pós-natal. Os atendimentos realizados com gestantes e puérperas evidenciaram a necessidade de uma maior divulgação, por parte dos profissionais de saúde, sobre os sinais de alerta relacionados à VO. Recomenda-se, portanto, a implementação de um programa de educação em saúde, tanto nas consultas de pré-natal, quanto nos grupos de gestantes, a fim de esclarecer quais procedimentos e condutas podem ou 6 não ser realizados em situações normais e adversas. Dessa forma, tanto a gestante quanto o acompanhante estarão mais capacitados e seguros para identificar e intervir em situações em que seus direitos não estejam sendo respeitados. Não distante, reitera-se a importância da curricularização da extensão para a formação de profissionais críticos e comprometidos com a transformação social. Por fim, destaca-se que as diferentes modalidades de ações provindas da curricularização extensão podem servir como ferramentas de apoio para os sistemas de saúde, auxiliando a suprir as lacunas existentes na APS.
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PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA EM GESTANTES E PUÉRPERAS DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE EM CURITIBA

  • DOI: https://doi.org/10.22533/at.ed.5241125050312

  • Palavras-chave: -

  • Keywords: -

  • Abstract: -

  • LIÈGE GAERTNER MOURÃO
  • AMANDA PACKER HÜBLER
  • CLARA HELENA CORDEIRO CAMPOS
  • DÉBORA CRISTINA PEREIRA
  • MARIANA YOSHIE OKIMURA
  • RENATA BURGHAUSEN VALENÇA DE SOUZA
  • STELLA DE BRITO FERREIRA
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