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capa do ebook PARATEXTUALIDADE EM A NOVA HELOÍSA DE ROUSSEAU: filosofia, literatura, imagem e geograficidade

PARATEXTUALIDADE EM A NOVA HELOÍSA DE ROUSSEAU: filosofia, literatura, imagem e geograficidade

Como resultado de pesquisa, este livro consiste em produção acadêmica de
conteúdo inovador que peculiarmente avulta, em sua forma, a cautela da pesquisadora em
manter um notável afastamento metodológico nos procedimentos requeridos por cada um
dos seus objetivos específicos. Como tal, já seria o produto de um trabalho bem sucedido
naquilo a que se propôs. Todavia, essa diligência investigativa se revela como ainda mais
profunda ao longo do avanço da leitura, como aquela conhecida habilidade dos escritores
de provocar processos de imersão no seu leitor, suscitando-lhe incontinenti a pergunta pelo
porquê de tal estratégia de escrita. Essa constatação parece ser uma forma adequada de
apresentar este trabalho, uma vez que revela tanto as especialidades dos seus elementos
inéditos quanto as idiossincrasias autorais de quem o escreveu.
Esse estudo sobre verossimilhança e paratextualidade no texto literário- filosófico,
Júlia ou a nova Heloísa (1761), dá-se manifestamente na tensão entre o ideal rousseauniano
de proximidade na produção em si dessa realidade ficcional e a distância dessa dimensão
estética pelo confronto com as imagens de sua composição textual. Em face da escrita
envolvente das cartas trocadas entre os dois amantes da cidadezinha ao pé dos Alpes, a
abordagem de Lussandra Barbosa de Carvalho parece se lançar ao desafio de manter, em
seu texto acadêmico, a mesma vivacidade tensional entre ficção e realidade que Rousseau
imprimira em seu escrito. Tal tensão investigativa na abordagem ocorre como derivação
do conflito do próprio romance: o autor genebrino utiliza a linguagem dos sentimentos
para convocar seu leitor a algumas de suas reflexões filosóficas. Com essa premissa, a
investigadora estabelece camadas dimensionais de confronto com seu objeto de pesquisa
que, a propósito, é uma obra literária.
Nesse sentido, o leitor deste livro é convidado em seu próprio espaço-tempo a
apreciá-lo segundo um lento processo de aproximação, desde sua capa, dorso, folha de
rosto para, progressivamente, adentrar seu texto, imiscuindo-se no mundo, no lugar, no
espaço-tempo, no imaginário onde os sentimentos e peripécias narrativas suscitam as
reflexões propostas pelo escritor-filósofo do romance. Assim, o capítulo inicial do presente
trabalho é descritivo e discursivo, contextualizando histórica e pragmaticamente o imaginário
da época, a condição estética da leitura de romances e as circunstâncias específicas nas
quais Rousseau lança sua Nova Heloísa em distintos τόποι do século XVIII.
Estabelecidas as compreensões histórico-conceituais fundamentais, o leitor se
encontra em condições de distanciamento analítico para, no capítulo seguinte, defrontarse com a tensão fundamental inovadora do trabalho, qual seja, a análise das imagens
ilustrativas da edição de 1761. Sensibilizando-o, as doze ilustrações o reaproximam
do mundo de Júlia e Saint-Preux, restabelecendo os vínculos estéticos-literários dessa
dimensão hermenêutica. Essa abordagem estratégica, contudo, avança em sentido
contrário, rumo a um novo afastamento analítico-reflexivo: tratadas como elementos
paratextuais, as ilustrações do romance são integradas ao histórico pragmático do uso de
imagens em livros, desde sua origem até o século XVIII. Em tais condições de “razão e
sensibilidade”, torna-se assim possível para Barbosa de Carvalho concluir os objetivos de
seu segundo capítulo com interpretações detalhistas para cada uma das imagens. Ainda
nessa seção do trabalho também são analisadas comparativa e discursivamente algumas
ilustrações de edições posteriores.
Ressalte-se que as dinâmicas de análise estabelecidas nos dois primeiros capítulos
possibilitam os mecanismos analítico-reflexivos de caracterização do imaginário do
século XVIII que a pesquisa requer. A investigadora demonstra, então, que seu estudo
lhe forneceu dados suficientes para, no capítulo final, fazer sua interpretação transitar
livremente na tensão entre as proximidades estéticas da narrativa e os distanciamentos
teórico-metodológicos do trabalho realizado. É, então, que nesta terceira parte discute
a geograficidade da forma de vida do personagem Saint-Preux dentro do escopo
histórico-cultural da modernidade. Destaca-se a interdisciplinaridade da análise tanto nas
aproximações etnológicas e de identidade mais recônditas e restritas dessa forma de
vida ficcional, quanto nas perspectivas distanciadas de observação, com a inserção do
personagem em topologias mais amplas.
Cumpre, finalmente, considerar que essa abordagem tensional, que aproxima e
afasta quem lê e quem escreve na leitura e na escrita do mundo como texto e como imagem,
é uma idiossincrasia autoral de Lussandra Barbosa de Carvalho. Também como escritora
e ilustradora, ela costuma provocar em sua produção literária essa mesma dinâmica.
Neste caso, trata-se de estratégia e convite à imersão estética; um convite distante a uma
profunda aproximação! Em um tal ponto, abordagem tensional e estratégia narrativa se
tornam o mesmo em sua escrita – como na obra de Rousseau sob comento e no presente
estudo sobre ela nas páginas a seguir ...
Ellen Caroline Vieira de Paiva
Professora de Filosofia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

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PARATEXTUALIDADE EM A NOVA HELOÍSA DE ROUSSEAU: filosofia, literatura, imagem e geograficidade

  • DOI: 10.22533/at.ed.265222007

  • Palavras-chave: 1. Rousseau, Jean-Jacques, 1712-1778 - Crítica e interpretação. 2. Filosofia francesa. I. Carvalho, Lussandra Barbosa de. II. Título.

  • Keywords: 1. Rousseau, Jean-Jacques, 1712-1778 - Crítica e interpretação. 2. Filosofia francesa. I. Carvalho, Lussandra Barbosa de. II. Título.

  • Abstract:

    Como resultado de pesquisa, este livro consiste em produção acadêmica de
    conteúdo inovador que peculiarmente avulta, em sua forma, a cautela da pesquisadora em
    manter um notável afastamento metodológico nos procedimentos requeridos por cada um
    dos seus objetivos específicos. Como tal, já seria o produto de um trabalho bem sucedido
    naquilo a que se propôs. Todavia, essa diligência investigativa se revela como ainda mais
    profunda ao longo do avanço da leitura, como aquela conhecida habilidade dos escritores
    de provocar processos de imersão no seu leitor, suscitando-lhe incontinenti a pergunta pelo
    porquê de tal estratégia de escrita. Essa constatação parece ser uma forma adequada de
    apresentar este trabalho, uma vez que revela tanto as especialidades dos seus elementos
    inéditos quanto as idiossincrasias autorais de quem o escreveu.
    Esse estudo sobre verossimilhança e paratextualidade no texto literário- filosófico,
    Júlia ou a nova Heloísa (1761), dá-se manifestamente na tensão entre o ideal rousseauniano
    de proximidade na produção em si dessa realidade ficcional e a distância dessa dimensão
    estética pelo confronto com as imagens de sua composição textual. Em face da escrita
    envolvente das cartas trocadas entre os dois amantes da cidadezinha ao pé dos Alpes, a
    abordagem de Lussandra Barbosa de Carvalho parece se lançar ao desafio de manter, em
    seu texto acadêmico, a mesma vivacidade tensional entre ficção e realidade que Rousseau
    imprimira em seu escrito. Tal tensão investigativa na abordagem ocorre como derivação
    do conflito do próprio romance: o autor genebrino utiliza a linguagem dos sentimentos
    para convocar seu leitor a algumas de suas reflexões filosóficas. Com essa premissa, a
    investigadora estabelece camadas dimensionais de confronto com seu objeto de pesquisa
    que, a propósito, é uma obra literária.
    Nesse sentido, o leitor deste livro é convidado em seu próprio espaço-tempo a
    apreciá-lo segundo um lento processo de aproximação, desde sua capa, dorso, folha de
    rosto para, progressivamente, adentrar seu texto, imiscuindo-se no mundo, no lugar, no
    espaço-tempo, no imaginário onde os sentimentos e peripécias narrativas suscitam as
    reflexões propostas pelo escritor-filósofo do romance. Assim, o capítulo inicial do presente
    trabalho é descritivo e discursivo, contextualizando histórica e pragmaticamente o imaginário
    da época, a condição estética da leitura de romances e as circunstâncias específicas nas
    quais Rousseau lança sua Nova Heloísa em distintos τόποι do século XVIII.
    Estabelecidas as compreensões histórico-conceituais fundamentais, o leitor se
    encontra em condições de distanciamento analítico para, no capítulo seguinte, defrontarse com a tensão fundamental inovadora do trabalho, qual seja, a análise das imagens
    ilustrativas da edição de 1761. Sensibilizando-o, as doze ilustrações o reaproximam
    do mundo de Júlia e Saint-Preux, restabelecendo os vínculos estéticos-literários dessa
    dimensão hermenêutica. Essa abordagem estratégica, contudo, avança em sentido
    contrário, rumo a um novo afastamento analítico-reflexivo: tratadas como elementos
    paratextuais, as ilustrações do romance são integradas ao histórico pragmático do uso de
    imagens em livros, desde sua origem até o século XVIII. Em tais condições de “razão e
    sensibilidade”, torna-se assim possível para Barbosa de Carvalho concluir os objetivos de
    seu segundo capítulo com interpretações detalhistas para cada uma das imagens. Ainda
    nessa seção do trabalho também são analisadas comparativa e discursivamente algumas
    ilustrações de edições posteriores.
    Ressalte-se que as dinâmicas de análise estabelecidas nos dois primeiros capítulos
    possibilitam os mecanismos analítico-reflexivos de caracterização do imaginário do
    século XVIII que a pesquisa requer. A investigadora demonstra, então, que seu estudo
    lhe forneceu dados suficientes para, no capítulo final, fazer sua interpretação transitar
    livremente na tensão entre as proximidades estéticas da narrativa e os distanciamentos
    teórico-metodológicos do trabalho realizado. É, então, que nesta terceira parte discute
    a geograficidade da forma de vida do personagem Saint-Preux dentro do escopo
    histórico-cultural da modernidade. Destaca-se a interdisciplinaridade da análise tanto nas
    aproximações etnológicas e de identidade mais recônditas e restritas dessa forma de
    vida ficcional, quanto nas perspectivas distanciadas de observação, com a inserção do
    personagem em topologias mais amplas.
    Cumpre, finalmente, considerar que essa abordagem tensional, que aproxima e
    afasta quem lê e quem escreve na leitura e na escrita do mundo como texto e como imagem,
    é uma idiossincrasia autoral de Lussandra Barbosa de Carvalho. Também como escritora
    e ilustradora, ela costuma provocar em sua produção literária essa mesma dinâmica.
    Neste caso, trata-se de estratégia e convite à imersão estética; um convite distante a uma
    profunda aproximação! Em um tal ponto, abordagem tensional e estratégia narrativa se
    tornam o mesmo em sua escrita – como na obra de Rousseau sob comento e no presente
    estudo sobre ela nas páginas a seguir ...
    Ellen Caroline Vieira de Paiva
    Professora de Filosofia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

  • Número de páginas: 107

  • Lussandra Barbosa de Carvalho
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