Para além do samba da legitimidade: sambistas fora do compasso do
RESUMO: O cerco do silêncio que a ditadura
do “Estado Novo” montou em torno das práticas
e discursos que pudessem destoar das normas
então instituídas levou muita gente, por muito
tempo, a acreditar no triunfo de um pretenso
“coro da unanimidade nacional”. Trafegando
na contramão dessa corrente, que estende seu
alcance aos domínios da música popular, este
texto procura levantar uma parte do véu que
encobre manifestações que desafinaram o “coro
dos contentes” durante o regime estado-novista.
Seu foco são as vozes destoantes do samba
produzido à época, apesar da férrea censura
dos organismos oficiais (particularmente do DIP,
Departamento de Imprensa e Propaganda).
Sitiados pelas forças conservadoras, nem
por isso todos os compositores populares se
deixaram apanhar na rede do culto ao trabalho
propagado pela ideologia governamental. Falas
dissonantes repontaram aqui e ali, evidenciando
que, por mais ditatorial ou supostamente
totalitário que seja esse ou aquele regime, nunca
se consegue calar por inteiro as dissidências ou
as diferenças. E estas se expressam inclusive
nas representações das relações de gênero
acolhidas na música popular.
Para além do samba da legitimidade: sambistas fora do compasso do
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DOI: 10.22533/at.ed.53619111119
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Palavras-chave: “Estado Novo” – governo Getúlio Vargas – ideologia do trabalhismo – música popular – samba.
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Keywords: “Estado Novo” – Getúlio Vargas government – work ideology – popular music – samba.
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Abstract:
The siege of silence which the
“Estado Novo” dictatorship set up around the
practices and discourses that might clash with
the established standards led many people
for a long time to believe in the triumph of an
alleged “chorus of national unanimity”. Traveling
in the opposite direction of this thought, which
extends its reach to the fields of popular music,
this text attempts to lift a veil that covers part
of the demonstrations that mistuned the
“chorus of excited” during the “estado-novista”
regime. It focuses on the dissonant voices of
samba produced at the time, despite the hard
censorship of government agencies (especially
the DIP, Department of Press and Propaganda).
Besieged by the forces of conservatism, not
really all popular composers let themselves get
on the network of the cult of work propagated
by the government ideology. Dissonant lines
were heard here and there, showing that as
dictatorial or supposed totalitarian to be this or
that scheme, you can never entirely shut the
dissent or differences up. And even these are
expressed in the representations of gender
relations accepted in popular music.
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Número de páginas: 15
- Adalberto Paranhos