Para além da ficção: reflexos da mulher sertaneja na personagem Flora, de Esaú e Jacó, de Machado de Assis
O presente trabalho é resultado da análise da personagem Flora da obra clássica de Joaquim Maria Machado de Assis, Esaú e Jacó, avaliando a apresentação do escritor sobre o sexo feminino na sociedade oitocentista. Escrita pelo mais renomado dos escritores brasileiros, a prosa descreve a personagem Flora que se constitui na obra como um modelo feminino que ultrapassa as barreiras comportamentais do seu tempo histórico, ou seja, os preceitos da sociedade oitocentista do século XIX, principalmente no que se refere à submissão e ao casamento. Consideramos que a personagem Flora se assemelha as jovens mulheres sertanejas do século XXI, com relação à submissão e ao casamento como foi percebido na pesquisa. Desse modo, este estudo está fundamentado na leitura de autores como Machado de Assis (1904), VALLADARES, (2013), COSTA, (2010), GLEDSON, (2003), e as teorias feministas, SCOTT (2018), SAFFIOT, (2004), BEAUVOIR (1970), acompanhadas com os teóricos da literatura GLEDSON (2003), BOSI (2007 e 1996) E SCHWARZ (1990), também recorremos aos sociólogos, BOURDIEU, (2012), CANDIDO, (2010, 2011, 1999), WHITAKER (2002), entre outros, que apontam que Machado de Assis não era um escritor totalmente fiel ao estilo realista de sua época, e não se prendia a mera descrição da realidade social, mas a problematizava. Portanto, a personagem Flora se apresenta no romance como um modelo feminino que ultrapassa as barreiras comportamentais e sociais vigentes na sociedade, mostrando-se contrária a ideia de casamento e submissão, o que na época era prioridade para as mulheres da sociedade conservadora, principalmente quando o pretendente era um homem rico. Tal estudo se justifica porque Machado de Assis é um autor expressivo da literatura brasileira, e por seu romance Esaú e Jacó se constituir uma fonte de estudo inesgotável, pois, a cada nova leitura surge um novo aspecto da obra ainda não explorado. A pesquisa teve como foco uma pesquisa bibliográfica qualitativa e quantitativa, que adotou como corpus a obra Esaú e Jacó, de Machado de Assis, com análise da personagem Flora, de acordo com o momento histórico em que está inserida, além de se realizar um estudo de caso nas comunidades do município de São José da Tapera (AL), Gavião, Melancia, e Lage Grande, onde se analisou as jovens mulheres moradoras destas comunidades, a partir da perspectiva da desigualdade de gênero, fazendo uma relação entre a personagem Flora e as jovens sertanejas da atualidade. Considera-se que as entrevistadas mantêm uma relação com uma cultura conservadora situada neste espaço, que se remete a sociedade oitocentista, período que a personagem Flora vivia no romance Esaú e Jacó, logo aponta um machismo que afeta as jovens dessas comunidades com ralação submissão e ao casamento quase obrigatório neste lugar, o que corrompe a juventude, o projeto de vida e a formação escolar dessas mulheres.
Para além da ficção: reflexos da mulher sertaneja na personagem Flora, de Esaú e Jacó, de Machado de Assis
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DOI: 10.22533/at.ed.150202610
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Palavras-chave: Machado de Assis. Esaú e Jacó. Personagem Flora. Mulher sertaneja. Representação feminina.
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Keywords: Machado de Assis. Esau and Jacob. Character Flora. Sertaneja woman. Female representation.
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Abstract:
The present work is a result of the analysis of the Flora character of the classic work of Joaquim Maria Machado de Assis, Esau and Jacob, evaluating the writer 's presentation on the female sex in 19th century society. Written by the most renowned of Brazilian writers, prose describes the character Flora who constitutes the work as a feminine model that goes beyond the behavioral barriers of its historical time, that is, the precepts of nineteenth-century society, mainly in what refers submission and marriage. We consider that the character Flora resembles the young sertanejas women of the 21st century, with respect to the submission and the marriage as it was perceived in the research. Thus, this study is based on the reading of authors such as Machado de Assis (1904), VALLADARES, (2013), COSTA, (2010), GLEDSON, (2003), and feminist theories, SCOTT (2018), SAFFIOT, 2004), BEAUVOIR (1970), together with literature theorists GLEDSON (2003), BOSI (2007 and 1996) and SCHWARZ (1990), also called sociologists, BOURDIEU, (2012), CANDIDO, (2010, ), WHITAKER (2002), among others, who point out that Machado de Assis was not a writer who was totally faithful to the realist style of his time, and did not dwell on the mere description of social reality, but problematized it. Therefore, the character Flora presents in the novel as a feminine model that goes beyond the behavioral and social barriers in society, being contrary to the idea of marriage and submission, which at the time was a priority for the women of conservative society, especially when the suitor was a rich man. Such a study is justified because Machado de Assis is an expressive author of Brazilian literature, and for his novel Esau and Jacob constitutes an inexhaustible source of study, since with each new reading a new aspect of the work still unexplored emerges. The research focused on a qualitative and quantitative bibliographical research, which adopted as a corpus the works Esau and Jacó, by Machado de Assis, with an analysis of the Flora character, according to the historical moment in which it is inserted, in addition to conducting a study (LA), Gavião, Melancia, and Lage Grande, where the young women living in these communities were analyzed from the perspective of gender inequality, making a relation between Flora and the young people of the country today. It is considered that the interviewees maintain a relationship with a conservative culture located in this space, which refers to nineteenth-century society, a period that the character Flora lived in the novel Esau and Jacob, then points out a machismo that affects the young women of these communities with submission submission and to the marriage almost obligatory in this place, which corrupts the youth, the project of life and the educational formation of these women.
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Número de páginas: 66
- José Fábio Oliveira
- WILMA LIMA MACIEL