O espaço em A paixão segundo G.H. de Clarice Lispector
Entre os inúmeros desafios que se
encontram em um texto, o espaço pode se revelar
tão importante quanto os demais componentes
da narrativa. Aberto ou restrito, constitui-se num
índice representativo da condição social e do
estado de espírito da personagem que se liga
às outras categorias narrativas para formar o
todo da obra, articulando-se principalmente
com o tempo. Segundo Anatol Rosenfeld
(1996), na narrativa do século XIX, o homem
era extensão do lugar, da região, da cultura
em que vivia ou era submetido às influências
do meio. A personagem era dominada pela
causalidade, subjugada pelo determinismo. Na
narrativa contemporânea, rompe-se o princípio
dessa causalidade, negando o compromisso
com o mundo temporal e espacial posto como
real e absoluto pelo realismo tradicional e pelo
senso comum. Espaço e tempo fragmentamse
e instauram uma realidade mais profunda
que revelam no próprio esforço de assimilar,
na estrutura da obra-de-arte (e não apenas
na temática), a precariedade da posição do
indivíduo no mundo moderno. Este artigo tem
por objetivo investigar, no romance A paixão
segundo G.H. (1964) de Clarice Lispector,
como o espaço e sua ambientação revelam a
trajetória passional de G.H. e também valores,
conceitos e preconceitos da classe burguesa,
intrinsecamente articulados na descrição
do apartamento como sinônimo de beleza
e elegância e no quarto da empregada que,
segundo a narradora, seria o cômodo mais sujo
de sua casa.
O espaço em A paixão segundo G.H. de Clarice Lispector
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DOI: 0.22533/at.ed.2831925065
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Palavras-chave: Clarice Lispector. Espaço. Ambientação.
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Keywords: Clarice Lispector. Space. Atmosphere.
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Abstract:
Among the numerous challenges
found in a text, Space may prove to be as
important as the other components of the
narrative. Open or restricted, it constitutes an
index representative of the social condition
and the state of mind of the character that is
linked to the other narrative categories to form
the whole of the work, articulating mainly with
time. According to Anatol Rosenfeld (1996), in
the nineteenth-century narrative, man was an
extension of Place, Region and Culture in which
he lived or was subjected to the influences of
the environment. The character was dominated
by causality, subjugated by determinism. In
contemporary narrative, the principle of this
causality is broken, denying commitment to the
temporal and spatial world as real and absolute
by traditional realism and common sense. Space
and Time fragment and establish a deeper
reality that they reveal in the very effort of assimilating, in the structure of the work of
art (and not only in the thematic), the precariousness of the position of the individual
in the modern world. This article aims to investigate, in the novel A passion according
to G.H. (1964) by Clarice Lispector, how Space and its setting reveal the passionate
trajectory of G.H. as well as values, concepts and prejudices of the bourgeois class,
intrinsically articulated in the description of the apartment as synonymous with beauty
and elegance, and in the maid’s room which, according to the narrator, would be the
dirtiest room in her house.
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Número de páginas: 15
- Gilda Marchetto