O discurso musical do século XVIII: acepções de gosto na obra de Francesco Geminiani (1687-1762)
Na literatura dos séculos XVII e XVIII,
centenas de tratados dedicados à composição,
interpretação, ensino e reflexão musicais foram
publicados e difundidos por todo o continente
Europeu. Tais obras, que variam enormemente
em relação à metodologia abordada por
seus autores, costumam, frequentemente,
trazer consigo a noção de que a música é
análoga ao discurso verbal, ambos guiados
pelas regras da retórica, e que sua finalidade
seja ensinar, deleitar e mover o ouvinte. No
caso de Francesco Geminiani (1687-1762),
esta mesma ideia pode ser lida em sua obra
tratadística. Neste capítulo, pretende-se
discorrer sobre diversas emulações retóricas
almejadas por Geminiani (1687-1762) em sua
obra tratadística, sobretudo nas Regras para
tocar com verdadeiro gosto (c.1748), Tratado
sobre o bom gosto na arte da música (1749) e
A arte de tocar violino (1751). Nesses tratados,
o autor não apenas alinhou-se às correntes de
pensamento de sua época, representadas por
Batteux, Hume e Montesquieu – na filosofia –
e por Quantz, C. P. E. Bach e L. Mozart – na
música –, mas também recuperou acepções do
discurso falado, escrito e proferido, presentes
nas retóricas clássicas De Oratore, de Cícero, e
Institutio Oratoria, de Quintiliano. Observaremos
que, no tocante à discussão filosófico-musical
setecentista em torno da tópica do Gosto – lugarcomum no conjunto total de sua tratadística
–, Geminiani apoia-se na recuperação e no
debate de diversos preceitos sobre imaginação,
juízo, decoro, ornamentação, performance
e recepção, abordados pelos autores
mencionados, tornando, assim, evidente sua
visão da composição musical espelhada no
discurso retórico
O discurso musical do século XVIII: acepções de gosto na obra de Francesco Geminiani (1687-1762)
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DOI: 10.22533/at.ed.05319050218
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Palavras-chave: Francesco Geminiani. Retórica Musical. Gosto. Afetos.
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Keywords: Francesco Geminiani. Musical Rhetoric. Taste. Affects.
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Abstract:
In the literature of seventeenth
and eighteenth centuries, hundreds of treatises
on musical composition, performance,
pedagogy and speculation were published and
widespread throughout European continent.
Those works, which vary enormously in regard
to the methodology used by their authors, often
use to bring the notion of music as analogue
to the verbal speech, both guided by the rules
of rhetoric, which its aim is to instruct, delight
and move its listener. In the case of Francesco
Geminiani (1687-1762), the same idea can be
read in his treatises, mainly in Rules for playing
in a true taste (c. 1748), A treatise of good taste
in the art of musick (1749) and The art of playing
on the violin (1751). In those works, the author has not only got himself connected to the currents of thought of his time, represented
by Batteux, Hume and Montesquieu – in philosophy – and by Quantz, C. P. E. Bach
and L. Mozart – in music –, but also recovered meanings of oral, written and delivered
speech, present amongst the classics De Oratore, by Cicero, and Institutio Oratoria,
by Quintilian. It will be observed that, in relation to eighteenth century philosophical
and musical debates on Taste – commonplace in his treatises –, Geminiani is based
on the recovery and the discussion of several precepts about imagination, judgement,
decorum, ornamentation, performance and reception, approached by the abovementioned authors. It is therefore evident his view of musical composition mirrored on
rhetorical discourse.
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Número de páginas: 15
- Marcus Held