O agronegócio café através do Direct Trade: uma perspectiva dos seus agentes
O agronegócio café apresenta inúmeros agentes que permeiam a cadeia produtiva. Nesta perspectiva, surgiu, recentemente, o Direct Trade como um modelo de negociação entre cafeicultor e torrefador/cafeterias, voltado mais especificamente à comercialização de cafés especiais, suprimindo os agentes intermediários em sua negociação. Pautado nos conceitos de “Ondas do Cafés”, o Direct Trade é amplamente usado, para aquisição de cafés com qualidade superior e visa proporcionar uma relação mútua entre os agentes da cadeia. Trabalhos voltados para esta temática têm apresentado um crescimento considerável dentro da academia, porém voltados mais para a qualidade e consumo dos grãos. Ao voltar-se, especificamente, para as ações de negociação dos cafés especiais entre esses agentes, incipientes estudos aparecem no rol acadêmico que busca vislumbrar as interações entre os cafeicultores e torrefadores. Desse modo, surgem indagações que nortearão a proposta deste trabalho e têm como objetivo analisar, por meio da teoria da Economia do Custos de Transação (ECT), quais premissas levam os cafeicultores, assim como os torrefadores e cafeterias, a atuarem via Direct Trade; analisar as características desses agentes, o modo que realizam suas transações, bem como o ambiente institucional em que ocorre a comercialização dos cafés especiais e, por fim, averiguar como as ações dos agentes impactam nos custos de transações e propor medidas de redução desses custos. Isto posto, a pesquisa foi desenvolvida em duas etapas: na primeira, fez-se uma pesquisa bibliográfica, em textos acadêmicos (e não acadêmicos também) e revisão de literatura sobre a teoria utilizada, a fim de consolidar os conceitos. Então, aprofundou-se, na segunda parte, que se constitui de entrevistas semiestruturadas com agentes da cadeia do agronegócio café que se utilizam do Direct Trade, para fazer suas transações – cafeicultores brasileiros; torrefadores e/ou cafeterias, tanto no Brasil como no exterior. Por entrevistas, a ETC corroborou no entendimento de que o Direct Trade é um modelo de negócio que visa minimizar os intermediários do café, mas apresenta perspectivas bem distintas entre os cafeicultores brasileiros quanto ao aspecto das torrefadoras e/ou cafeterias tanto no Brasil como no exterior. Embora o Direct Trade não seja uma certificação como o FairTrade, Rainforest Alliance, entre outras, observou-se também que, mesmo que as aquisições via Direct Trade não exijam, ou ocorram pelas certificadoras (Certificações), os cafeicultores, que melhoraram a qualidade de seus cafés, possuíam algum tipo de certificação, mas nem todo cafeicultor certificado atua no mercado de cafés especiais, ou sequer conhecem a qualidade do seus cafés, o que cria um ambiente institucional sem mudanças significativas, permeado com ações oportunistas de seus agentes pela racionalidade limitada arraigada aos moldes tradicionais de comercialização de cafés. A pesquisa identificou, também, que, mesmo sem os nexus de contratos firmados entre cafeicultores e torrefadoras e/ou cafeterias, foi possível obter altos valores pagos à saca de cafés especiais aos produtores, os quais têm robustecido a expansão da produção e venda de cafés especiais via Direct Trade tanto no mercado interno como no exterior.
O agronegócio café através do Direct Trade: uma perspectiva dos seus agentes
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DOI: 10.22533/at.ed.924210608
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Palavras-chave: Direct Trade Coffee. Agronegócio. Economia dos Custos de Transação. Cafés especiais. Certificações.
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Keywords: Direct Trade Coffee. Agribusiness. Economics of Transaction Costs. Special coffees. Certifications.
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Abstract:
The coffee agribusiness presents innumerable agents that permeate a productive chain. On this perspective, Direct Trade recently emerged as a negotiation model between coffee grower and roaster/coffee shops, specifically targeted at the commercialization of specialty coffees, eliminating intermediary agents in the negotiation of coffees. Based on the concepts of "Coffee Waves", Direct Trade is massively used to acquire such high quality coffees and aims to provide a mutual relation between the agents in the chain. Work focused on this theme has presented a considerable growth within the academy, however, focused more on the quality and consumption of grains. By turning specifically to the negotiation actions of specialty coffees among these agents, incipient studies appear in the academic roll that seek glimpses of the interactions between coffee growers and roasters. In this way, there are questions that will guide the proposal of this work and have as objective to analyze, through the theory of the Transaction Cost Economics (TCE), which assumptions lead the coffee growers, as well as the roasters and coffee shops, to act through Direct Trade and analyze the characteristics of these agents, the way they carry out their transactions, as well as the institutional environment where the special coffees are commercialized and finally to investigate how the agents' actions impacts the transaction costs and propose measures to reduce these costs. This research was developed in two stages: the first one was a bibliographical research in academic texts (and not academic ones as well) and literature review on the theory used in order to consolidate the concepts and then, to deepen in the second part that consists of semi-structured interviews with agents of coffee agribusiness chain who use Direct Trade to make their transactions - Brazilian coffee growers; roasters and/or coffee shops, both in Brazil and abroad. Through the interviews, TCE corroborated the understanding that Direct Trade is a business model aimed at minimizing coffee intermediaries, but presents very different perspectives among Brazilian coffee growers in the face of the perspectives of roasters and/or coffee shops both in Brazil and as well abroad. Although Direct Trade is not a certification such as the FairTrade, Rainforest Alliance, among others, it has also been observed that, although Direct Trade acquisitions do not require or occur through certifiers (Certifications), coffee growers who have improved quality of their coffee, have some type of certification, but not every certified coffee grower operates in the specialty coffee market; or even know the quality of their coffee, which creates an institutional environment without significant changes, permeated with opportunistic actions of its agents due to the limited rationality rooted in the traditional ways of marketing coffee. The research also identified that even without the nexus of contracts signed between coffee growers and roasters and/or coffee shops; it was possible to obtain high amounts paid to the producers for sack of specialty coffees, which have strengthened the expansion of production and sale of specialty coffees via Direct Trade, both in the domestic market and as well abroad.
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Número de páginas: 97
- Luiz Gonzaga de Castro Junior
- André Luís Machado
- Jaqueline Severino da Costa
- Nilmar Diogo dos Reis