Negação ao acesso ao aborto: poder e violências
Este trabalho propõe discutir
sobre o aborto, fenômeno complexo que se
apresenta em nossa sociedade como um
problema relevante de saúde pública. Contudo,
o nosso objetivo é demonstrar como, através da
negação ao seu acesso, é possível evidenciar
relações de poder e exposição às violências,
por vezes veladas, contra as mulheres. Embora
a temática do aborto esteja sempre presente
nas pautas políticas em nosso país, porém,
de forma secundária, ela revela que os altos
níveis de mortalidade de mulheres em idades
férteis não merecem um olhar detido de nossos
legisladores, médicos e religiosos, em sua
maioria homens. Afinal, quem morre? Mulheres,
normalmente negras e pobres. De um lado,
temos a criminalização de uma prática que
lança mulheres à clandestinidade e a vários
tipos de violências. De outro, um incipiente
acesso ao aborto legal, em casos especificados
na lei. Embora este possa se configurar como
um avanço importante numa sociedade sexista,
devemos considerar algo que fica expresso com
esse dispositivo jurídico: ela precisa ter sido
vitima de violência impetrada por um homem
para poder abortar. Subordinadas às leis, que
revelam hierarquização do poder, ao discurso
e à prática médica, constituídos sob os olhares
masculinos dos chamados cientistas do século
XIX, o acesso ao aborto às mulheres é sempre
negado.
Negação ao acesso ao aborto: poder e violências
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DOI: 10.22533/at.ed.09619060922
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Palavras-chave: aborto; poder; violência.
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Keywords: abortion, power, violence
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Abstract:
This paper proposes to discuss
abortion, a complex phenomenon that presents
itself in our society as a relevant public
health problem. However, our objective is to
demonstrate how, through the denial of their
access, it is possible to show relationships of
power and exposure to violence, sometimes
veiled, against women. Although the issue
of abortion is always present in the political
guidelines in our country, but, secondarily, it
reveals that the high mortality rates of women of
childbearing age do not deserve a detained look
of our legislators, mostly doctors and religious
men. After all, who dies? Women, usually
black and poor. On the one hand, we have the
criminalization of a practice that launches women into hiding and various types of
violence. On the other, an incipient access to legal abortion, in cases specified in the
law. Although this may be an important advance in a sexist society, we must consider
something that is expressed with this legal device: it must have been a victim of violence
by a man to be able to abort. Subordinate to the laws, which reveal the hierarchy of
power, the discourse and medical practice, constituted under the masculine eyes of
so-called scientists of the nineteenth century, access to abortion to women is always
denied.
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Número de páginas: 15
- Paula Land Curi
- Jaqueline de Azevedo Fernandes Martins
- Ivana Maria Fortunato de Barros