O encarceramento feminino no Brasil é fenômeno que se relaciona com o processo de criminalização da pobreza de mulheres marcadas por diferenciadores sociais. As desigualdades sociais são um fenômeno complexo que se manifestam de diversas formas, impactando a vida de muitas pessoas e famílias. O conceito de "disposições" de Lahire 2004, 2005,2008) oferece uma perspectiva interessante para compreender como as estruturas internas podem orientar a maneira como os indivíduos percebem o mundo e reagem a ele. Buscou-se compreender, a partir da narrativa de uma mulher presa pelo tráfico de drogas que cumpriu pena em uma unidade prisional gaúcha, como se deu a mobilização de seu patrimônio individual nas suas experiências de vida, no cotidiano do cárcere, no processo de construção de sua identidade. Trata-se de uma análise qualitativa, com o uso do método biográfico da história de vida. Optou-se por entrevistas com uma mulher que se autodeclara negra por ela reunir várias categorias de diferenciação social em sua narrativa. A narrativa de Maria permite compreender como se deu a mobilização de seus esquemas de ação, a partir de quadros socializadores como família, escola, relacionamentos afetivos, vivências na prisão. A análise de Lahire convida a olhar além do estigma da criminalidade, permitindo uma reflexão sobre as estruturas sociais que produzem e reproduzem desigualdades.